Os seis maiores bancos que operam em Portugal aceleraram a venda de crédito malparado em 2018, tendo vendido pelo menos 5.719 milhões de euros deste tipo de empréstimos, segundo contas feitas pela agência Lusa.

Os bancos alienam carteiras de crédito malparado para melhorarem os seus balanços e também cumprirem as exigências de reguladores e supervisores bancários, que consideram que estes ativos ‘tóxicos’ são a principal fragilidade do sistema bancário português.

Apesar de o Novo Banco ainda não ter apresentado os resultados de 2018 (o que acontecerá a 1 de março), no final do ano o banco informou o mercado que vendeu a fundos de investimento uma significativa carteira de crédito de 102 mil contratos no valor de 2.150 milhões de euros.

O Banco Montepio também não apresentou contas mas também divulgou, no final de 2018, que vendeu 10 mil contratos no valor de 239 milhões de euros a uma empresa da Irlanda.

Quanto aos bancos que já apresentaram contas, a Caixa Geral de Depósitos (CGD) alienou o ano passado 1.200 milhões de euros em crédito malparado e o Santander Totta vendeu 1.000 milhões de euros de empréstimos ao imobiliário, em grande parte do ex-Banco Popular.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Já o BCP divulgou esta quinta-feira que alienou uma carteira de crédito de 730 milhões de euros e o BPI vendeu em novembro 400 milhões de euros.

No ano passado vários bancos aceleram a venda de malparado, com a alienação de grandes carteiras de crédito em incumprimento e com reduzida possibilidade de serem pagos pelos devedores. O objetivo destas operações (conhecidas por ‘write-offs’) é retirar estes ativos problemáticos de balanço, melhorando-o, mas também cumprir uma exigência dos reguladores e supervisores bancários.

Contudo, esta medida pode ter um impacto negativo nos resultados caso haja necessidade de suprir a diferença a que os créditos estão registados no balanço e o valor a que são vendidos.

O presidente do Novo Banco, António Ramalho, disse em janeiro que a venda de crédito superior a 2.000 milhões de euros teve “um prejuízo inferior a 6%”.

Já o administrador financeiro do Santander Totta Manuel Preto disse, em conferência de imprensa no início do mês, que as vendas de malparado tiveram um “impacto na conta de resultados praticamente nulo”, considerando que isso mostra que esses créditos estavam bem provisionados nas contas da instituição detida pelo grupo espanhol Santader.

O presidente executivo do BCP, Miguel Maya, disse esta quinta-feira que os 730 milhões de euros de malparado alienado significaram uma menos-valia de 49,4 milhões de euros.

Quanto ao BPI, com a venda de 400 milhões de euros lucrou 17 milhões de euros.

Em janeiro, a agência de ‘rating’ Moody’s considerou que os bancos portugueses estão a limpar os seus balanços com maior velocidade e que a tendência se manterá em 2019, mas alertou que, apesar de o volume de ‘NPL -non-performing loans’ (expressão em inglês para crédito malparado) estar a descer, “ainda continua a ser um constrangimento importante nos perfis de crédito da maioria dos bancos”.

Já a semana passada, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE) defendeu no Relatório Económico sobre Portugal (Economic Survey da OCDE — Portugal 2019) que as autoridades públicas deveriam ter “um papel mais ativo” a ajudar os bancos a ‘limpar’ os seus balanços do crédito malparado, pois ainda é elevado apesar de alguns progressos feitos.

Contudo, admitiu que as regras da União Europeia sobre ajudas de Estado criam muitas barreiras a esse tipo de medidas.

O crédito malparado é em Portugal mais do triplo da média da União Europeia. Em meados de 2018 o malparado nos bancos portugueses equivalia a 12% do total do crédito concedido.