O ano de 2019 já tinha começado bem no que diz respeito a eventos “espaciais”, mas a noite desta quinta-feira para sexta-feira tornou o ano ainda mais especial: primeiro, porque a sonda israelita Beresheet descolou a caminho da Lua; segundo, porque a sonda Hayabusa-2 aterrou com sucesso no asteróide Ryugu para recolher amostras do corpo rochoso.

Mas vamos por partes. A sonda israelita Beresheet, financiada por fundos privados, partiu esta sexta-feira para o espaço a bordo de um foguetão Falcon 9, da empresa espacial norte-americana SpaceX, colocando Israel mais próximo de ser o quarto país a aterrar na Lua.

À hora prevista (01h45 em Lisboa), o foguetão descolou do Complexo 40 do Cabo Canaveral, na costa central da Florida, EUA, levando o veículo espacial israelita, que pesa apenas 585 quilos e mede aproximadamente 1,5 metros.

Beresheet” (que significa génese em hebreu) está equipada com instrumentos para medir o campo magnético lunar e recolher dados que permitam compreender melhor a formação da Lua e que serão partilhados com a agência espacial norte-americana NASA.

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O que mais distingue, contudo, este momento é o facto de ser a primeira vez que uma empresa privada vai à Lua. Até agora, tinham sido apenas as agências espaciais governamentais das três superpotências — os EUA, a antiga URSS e a China — a conseguir aterrar na Lua.

A ideia do projeto israelita surgiu num bar em Telavive, num contexto informal entre três amigos. Kfir Damari e Yonatan Winetraub responderam a um simples comentário no Facebook do seu amigo Yariv Bash, que numa publicação, em 2010, escreveu: “Quem quer ir à Lua?“.

Não levou muito a que combinassem encontrar-se para discutir melhor a ideia e, “à medida que os níveis de álcool no sangue iam aumentando”, o trio de amigos ficava cada vez mais determinado sobre aquilo que queria (e iria) fazer, como conta Winetraub, citado pelo The New York Times.

Foi então que construíram a SpaceIL, uma organização sem fins lucrativos, para realizar o seu sonho. Mais de oito anos depois, o produto desse sonho foi lançado para o espaço sob a forma de uma pequena sonda chamada Beresheet.

O projeto custou cerca de 88 milhões de euros, uma verba financiada sobretudo por fundos privados, incluindo do multimilionário Morris Kahn, e foi iniciado no quadro de uma competição internacional patrocinada pela multinacional Google, que desafiava cientistas e empreendedores a colocarem um veículo robotizado em solo lunar com orçamentos mais baixos.

Junto com a sonda seguiu uma cápsula que contém discos com gravações de desenhos de crianças, canções, símbolos israelitas e textos bíblicos. A missão israelita acontece depois de, em janeiro, a China ter alunado uma sonda que vai estudar, pela primeira vez, o lado oculto da Lua.

As primeiras imagens que a sonda chinesa enviou do lado mais oculto da Lua

A agência espacial japonesa Jaxa confirmou também nesta manhã de sexta-feira que a sonda Hayabusa-2 aterrou com sucesso por volta das 8h30 de sexta-feira (23h30 de quinta-feira em Lisboa) no asteróide Ryugu para recolher amostras do corpo rochoso. Tudo isto cerca de duas horas antes de a sonda israelita Beresheet ter descolado.

Foi um verdadeiro momento de tensão para a equipa que monitorizava os movimentos da nave na sala de controlo da Jaxa, que depressa explodiu em aplausos quando recebeu sinal de que a aterragem tinha sido bem sucedida. Citado pelo britânico The Guardian, Yuichi Tsuda, o diretor do projeto Hayabusa2, afirmou ter sido “uma aterragem ideal nas melhores condições”.

Depois de chegar ao solo do asteróide Ryugu, a sonda conseguiu disparar igualmente com sucesso um projétil sobre o interior do corpo rochoso. Se a missão correr bem, esta será a primeira vez que uma sonda regressa à Terra (previsto para 2020) com amostras de um asteróide.

Foi já em setembro e outubro de 2018 que a sonda Hayabusa-2 largou sobre o mesmo asteróide três pequenos robôs que obtiveram imagens e dados sobre a sua superfície.

Por agora, é aguardar, neste ano em que se comemora o 50.º aniversário da chegada dos Estados Unidos à Lua.