O grupo australiano de centros comerciais Westfield instalou nos seus estabelecimentos dezenas de câmaras com deteção facial, que conseguem descobrir o sexo e a idade das pessoas e analisar o estado de espírito de cada cliente. Tudo para fornecer relatórios estatísticos e dados demográficos da audiência às marcas, conta o The Guardian.

Há mais de 1600 câmaras com deteção facial instaladas em 41 centros comerciais Westfield na Austrália e na Nova Zelândia. Mas o que é deteção facial? É o mesmo que reconhecimento facial? Não, a diferença é que a deteção facial procura apenas caras sem armazenar dados ou construir o perfil de um indivíduo. Por outro lado, o reconhecimento facial refere-se sempre a uma identidade específica.

Terry Hartmann, vice-presidente da Cognitec da Ásia do Pacífico, uma empresa que desenvolve tecnologia de reconhecimento facial para efeitos de mercado, afirma que a deteção facial é muito parecida com aquilo que o Facebook faz com os anúncios.

”O sistema apenas identifica as características da pessoa e não quem ela é. É como quando o Facebook nos mostra anúncios em que podemos estar interessados conforme os sites que visitamos”, explicou.

A rede Smartscreen da Westfield foi desenvolvida pela empresa francesa de software Quividi. Ao capturar imagens dos clientes, a Quividi diz, citada pelo The Guardian, que é possível detetar o sexo dos clientes com uma precisão de 90% e o humor com uma precisão de 80%. Aqui, as categorias vão de ”muito feliz a muito infeliz”. A idade dos clientes é calculada com uma margem de erro até 5 anos. Estes dados (anónimos) são depois fornecidos às empresas, como a Coca-Cola, que já é cliente da Quividi, e servem para fazer estudos de mercado.

E quais são as políticas da Austrália em relação à detenção facial? Nenhumas. Enquanto na Europa, a Quividi é obrigada a cumprir o Regulamento Geral de Proteção de Dados, que dá às pessoas o direito de decidirem e terem controlo sobre os próprios dados, na Austrália, nem a Westfield nem a Quividi precisam do consentimento dos clientes para usar o sistema Smartscreen.

Agora, há um projeto lei para regulamentar o reconhecimento facial. Se for aprovado no parlamento, permitiria que os dados das pessoas fossem trocados entre o governo e “entidades não governamentais” através de um hub central chamado “the Capability”. Alguns ativistas já se mostraram contra, dizendo que pode contribuir para o uso indevido de dados e David Vaile, presidente do conselho da Australian Privacy Foundation, diz, citado pelo The Guardian, que ”as leis de privacidade na Austrália são uma desgraça”, onde ”os indivíduos não têm o direito de impôr a lei da privacidade a nível federal.

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