A cimeira de dois dias entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte começou com bastante aparato mediático e muitos elogios, mas sem nenhuma novidade em concreto sobre os temas que estariam em cima da mesa. O palco do primeiro dia foi o Hotel Metropole, em Hanói, no Vietname. Donald Trump foi o primeiro a chegar ao jantar privado agendado para as 18h30 locais desta quarta-feira (11h30 em Portugal) com o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, que chegou alguns minutos depois. A cimeira entre os dois países é considerada decisiva para a paz na Ásia.

Sob fortes medidas de segurança, mas também com a presença em massa da imprensa, os dois líderes deram um aperto de mão, falaram aos jornalistas e seguiram para o jantar privado, o único momento em comum da agenda de Kim e Trump para esta quarta-feira. Ainda antes da reunião à mesa, o Presidente norte-americano deixou uma mensagem aos norte-coreanos, com muitos elogios a Kim: “Acho que o vosso país vai ter futuro tremendo, com um grande líder. Fico à espera de ver isso acontecer”.

Antes estavam frente a frente, agora estão lado a lado. As oito pessoas sentadas à mesa no jantar entre EUA e Coreia do Norte

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Quem abriu as honras na sala de imprensa, rodeada de bandeiras dos dois países, foi Kim Jong-un. O líder norte-coreano foi de poucas palavras, mas garantiu que os Estados Unidos e a Coreia do Norte têm “conseguido superar os obstáculos”, mesmo depois de “alguns mal-entendidos”.

De seguida, foi a vez de Donald Trump falar. O Presidente dos Estados Unidos foi mais otimista e sublinhou que espera uma segunda cimeira ainda melhor do que a de junho do ano passado: “É ótimo estar aqui. Tivemos uma primeira cimeira bem sucedida e espera que esta seja tão ou melhor do que a primeira”.

Fizemos muitos progressos e acho que o maior progresso foi a nossa relação. É uma relação muito boa”, referiu ainda o Presidente dos Estados Unidos.

Trump fez ainda questão de sublinhar o “potencial económico tremendo” da Coreia do Norte, afirmando que o país tem “um grande líder” e que espera que os Estados Unidos possam assistir e contribuir para o sucesso do país.

Às 2h (horas portuguesas) está marcada uma reunião a sós entre Donald Trump e Kim Jong-un. 45 minutos depois, realiza-se a reunião bilateral alargada, incluindo já os dois líderes. Pelas 4h55 (11h55 horas locais) será feito um almoço de trabalho entre o líder norte-americano e líder norte-coreano e às 7h05 será a cerimónia de assinatura de um acordo conjunto entre os dois países. De seguida, Donald Trump parte para o hotel onde está instalado (por volta das 8h, horas portuguesas) e às 8h50 dará uma conferência de imprensa.

Os dois líderes chegaram a Hanói esta terça-feira ao Vietname com dez horas de diferença e em meios de transporte diferentes. Kim Jong-un foi o primeiro. Vestido com um fato maoista, o líder da Coreia do Norte optou por viajar de comboio, à semelhança do seu pai, por questões de segurança e foi recebido com passadeira vermelha na estação de comboios de Dong Dang, na fronteira entre a China e o Vietname, por vários quadros de Hanói, tropas em uniformes brancos e vários populares. A meio da viagem, fez várias paragens para esticar as pernas e fumar um cigarro acompanhado da sua irmã e, eventualmente, recebeu a notícia de que as autoridades holandesas apreenderam 90 mil garrafas de vodka que suspeitam ter como destino a Coreia do Norte. Kim entrou, de seguida, numa limusine blindada que o levou até à capital vietnamita, onde se realiza a cimeira de dois dias com os Estados Unidos, considerada decisiva para a paz na Ásia.

Donald Trump, por sua vez, chegou de avião por volta das 21h locais (14h em Lisboa), depois de uma viagem de quase um dia com duas paragens para reabastecimento. Vestido com um fato escuro e gravata azul, também o Presidente norte-americano foi recebido com pompa e circunstância na pista por vários oficiais do governo vietnamita e Daniel Kritenbrink, o embaixador dos Estados Unidos no país, além de duas colunas de militares com uniformes brancos.

Apesar de a agenda de Kim Jong-un não ter sido divulgada, antes do jantar com Trump, o líder norte-coreano visitou a embaixada vietnamita poucas horas depois de chegar ao país. De acordo com o Times of India, a viagem do líder norte-coreano ao Vietname acaba por ter um significado mais forte do que apenas uma cimeira com Donald Trump, tendo em conta que o Vietname e a Coreia do Norte têm uma relação de amizade há vários anos que incluiu a cooperação na Guerra do Vietname, bem como a complexidade das relações com a China.

Já o Presidente dos Estados Unidos foi recebido no palácio presidencial pelo secretário-geral do Partido Comunista Nguyen Phu Trong, naquele que foi o seu primeiro compromisso oficial da visita a Hanói. Donald Trump teve também um um almoço com os líderes do Vietname, incluindo o primeiro-ministro Nguyen Xuan Phuc, e um encontro para assinar acordos comerciais com o Vietname. Antes do encontro com Kim, teve quatro horas livres.

Trump e Kim estão apaixonados desde o primeiro encontro, mas falta ação. Será agora?

Quem são os 12 homens que perseguem a limusine de Kim Jong-un?

A visita do líder norte-coreano ao Vietname deverá durar até este sábado e vai decorrer sempre sob fortes medidas de segurança. Prova disso foi o encerramento das estações de comboio onde o líder norte-coreano passou e o corte da estrada que percorreu desde a fronteira até à capital vietnamita. Mas há uma imagem que volta a não passar despercebida neste primeiro dia de visita. Sempre que a limusine de Kim Jong-un está em andamento, 12 seguranças de fato preto espalham-se à volta da viatura e seguem-na durante todo o caminho. A tática dos seguranças foi a mesma utilizadas no encontro em Singapura com Trump: 5-5-2.

De acordo com a BBC, estes seguranças são selecionados criteriosamente a partir do recrutamento para o Exército Popular da Coreia (KPA, na sigla em inglês). Nos requisitos de entrada estão a altura — que deve ser a mesma que a do líder –, a ausência de qualquer deficiência visual, uma boa pontaria e prática de artes marciais. De seguida, o passado e antecedentes de cada guarda-costas é analisado e, depois de aceites, estes seguranças são submetidos a um programa intensivo de treino semelhante ao das Forças de Operações Especiais do KPA, com treino no uso de armas de fogo, técnicas de evasão e várias artes marciais.

O facto de estes 12 seguranças fazerem um perímetro em redor da viatura serve para que tenham uma visão de 360 graus das pessoas que estão próximas do local onde a limusine está a passar.

Entretanto, a agência Reuters revelou que mais de 12 ativistas políticos vietnamitas estão praticamente impedidos de deixarem as suas casas em Hanói enquanto a cimeira decorre. Nguyen Chi Tuyen, um ativista conhecido como Anh Chi, contou que autoridades estão “estacionadas” em frente à sua casa há dois dias. “Eles seguem-me para todo o lado. Eu saio e sou avisado de que posso ser detido se cruzar o rio até ao centro da cidade”, referiu o ativista.

O hotel que fez uma dupla reserva constrangedora

Ainda antes do início da cimeira, um episódio caricato e constrangedor começou por a marcar a visita dos dois líderes ao Vietname: tanto a sede da imprensa norte-americana como o governo da Coreia do Norte reservaram o mesmo hotel para ficarem hospedados, uma estratégia que seria difícil de concretizar, tendo em conta que Kim Jong- un é bastante fechado para a imprensa e os seus seguranças controlam todas as fotografias que são tiradas ao líder norte-coreano.

Segundo noticia o The Guardian, foi depois de uma breve discussão entre as autoridades norte-coreanas e vietnamitas no Hotel Melia, em Hanoi, que ficou decidida a “expulsão” dos jornalistas norte-americanos, depois de vários dias em que a equipa da Casa Branca esteve a montar todo o equipamento para a cimeira. A equipa de Donald Trump, entretanto, está hospedada no J.W. Marriott, onde vai ficar durante dois dias.

Autoridades holandesas apreendem 90 mil garrafas de Vodka que poderiam ser para a Coreia do Norte

Num assunto à parte da cimeira, mas que já será do conhecimento de Kim Jong- un, está a notícia de que os agentes que da alfândega do porto de Roterdão, na Holanda, confiscaram 90 mil garrafas de vodka que teriam como destino o governo da Coreia do Norte. De acordo com o The Guardian, as autoridades holandesas sinalizaram uma carga de três mil caixas com garrafas de vodka russa que tinha uma rota suspeita: passava pelo porto de Hamburgo, na Alemanha, e Roterdão, tendo como destino final a China.

Quando os agentes tentaram retirar a carga do navio, descobriram que esta estava escondida na fuselagem de uma aeronave que também seguia para a China. Decidiram, então, retirar as caixas para perceber o que existia dentro delas. As autoridades suspeitam que a vodka não iria para a China, mas sim para Pyongyang, na Coreia do Norte.

Sigrid Kaag, ministro holandês do Comércio, referiu que “o conselho de segurança das Nações Unidas impôs sanções claras à Coreia do Norte, por isso é importante cumprir essas sanções. As sanções também incluem a importação de bens de luxo e, por isso, a alfândega foi completamente justificada na descarga do contentor”.