O Museu do Circo Momo abre ao público na Lousã, na quinta-feira, como mais uma etapa de um percurso de 30 anos da companhia Marimbondo em busca da alegria negada pelos “homens cinzentos”.

O nome do Museu do Circo, que ocupa a antiga Escola Primária de Foz de Arouce, arredores da vila da Lousã, é inspirado na protagonista do livro infantil “Momo e o senhor do tempo”, da autoria do alemão Michael Ende.

Trata-se de uma alegoria literária, em que Momo é uma menina “em luta contra os homens cinzentos”, afirma Detlef Schaff à agência Lusa. “Eles andam por aí e tentam convencer as pessoas a venderem o seu tempo livre”, ironiza.

O diretor da Marimbondo leu a obra do seu compatriota na juventude, num tempo em que a Alemanha estava ainda dividida e ele vivia no lado ocidental. Palhaço, músico, ator e malabarista, partilha com Eva Cabral, há vários anos, as tarefas que importa assegurar para garantir a continuidade da companhia, instalada há quase três décadas na aldeia de Vale de Sancho.

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Lutámos também nestes anos contra os homens cinzentos que andam por aí a envenenar a nossa vida”, acalentando sempre o sonho de erguer o Museu do Circo em louvor de Momo, também figura da mitologia grega que personifica a sátira e o sarcasmo e que, na atualidade, é coroado como rei do Carnaval em diversos países, designadamente Portugal e Brasil.

Em vez de dias cinzentos e pessoas tristonhas, o grupo quer levar “cor, brincadeira e alegria” à antiga escola de Foz de Arouce, cedida pela Câmara da Lousã ao abrigo de um protocolo que vigorará durante seis anos, com possibilidade de ser renovado.

“O que nós queremos para este museu é mesmo isso”, confirma Detlef, que encara o circo como um “mundo colorido, mas muito vasto também”.

Este meio artístico “dá o modelo para o mundo inteiro” e existem dentro de si “milhares de coisas diferentes” que a companhia do “novo circo” quer representar e divulgar no Museu Momo.

“Há no circo pessoas de várias raças e vários países e tudo tem de funcionar para as pessoas aplaudirem”, refere, para frisar que “o sucesso do circo é isto: toda a gente tem de estar junta e fazer o seu melhor”.

Debaixo de um velho sobreiro, que cresceu no terreno de uma vizinha e dá sombra ao palco exterior do museu, Detlef Schaff recorda os trabalhos de construção, instalação e decoração que os membros e alguns amigos da companhia realizaram, convergindo com a Câmara Municipal para um mesmo objetivo.

“Queremos dignificar um pouco também e dar mais conhecimento do mundo do circo, um património da Humanidade, infelizmente ainda marginalizado”, lamenta.

O Museu Momo dispõe de uma cafetaria, salas de exposição e um auditório interior com palco. Os visitantes podem apreciar fatos, chapéus, instrumentos musicais, bolas, rodas de equilíbrio e documentos diversos, nacionais e de outros países, relacionados com as artes circenses. Há também livros para consulta.

“O Momo não é um espaço fechado pura e simplesmente ao circo. Esta casa é para todos, é um espaço cultural onde as pessoas podem encontrar-se”, sublinha Detlef.

O acordo de parceria que a Marimbondo firmou com o município da Lousã, presidido por Luís Antunes, vincula a companhia à organização dos festivais de Malabaristas e de Marionetas que o concelho tem acolhido nos últimos anos.

A autarquia assume custos com água, eletricidade e manutenção da área envolvente, cabendo ainda ao grupo a realização naquele espaço de “um evento cultural por mês”, segundo o artista.

Depois de uma entrada triunfal e divertida da banda da companhia no Momo, antecipando para a Lusa a cerimónia inaugural de quinta-feira, às 17h30, Eva Cabral conta que a transformação do imóvel “implicou imenso trabalho” para os membros da Marimbondo.

“Remodelar este espaço magnífico foi uma aprendizagem em que fizemos um pouco de tudo”, acrescenta.

A atriz realça que, além da preservação da memória do circo, os promotores querem “transformar a antiga escola num espaço vivo”, onde as visitas, numa primeira fase, são previamente agendadas.

“De preferência, serão guiadas por animadores”, explica, enquanto os músicos Hugo Costa e Flávio Martins arrumam já os trajes garridos que acabam de envergar na breve apresentação da tocata.

A autarquia investiu cerca de 32 mil euros nas obras de adaptação do edifício e na aquisição de equipamentos.

“Vamos ter no concelho o primeiro museu do circo do país”, congratula-se o autarca Luís Antunes, do PS, indicando que o município quis “colaborar de forma efetiva na concretização de um sonho” de uma instituição local “com provas dadas” na área cultural.

Na sua opinião, o Momo assegura “uma oferta diferenciadora dirigida a vários públicos”, além de dar “um novo uso socialmente relevante” a um equipamento público desativado há alguns anos.