Foi o cantor Boy George o autor do batismo. Chamavam “Hugh Hefner de Ibiza” ao homem de saiu de uma ilha, a Austrália, para se tornar uma lenda numa outra, agora à beira do Mediterrâneo, postal perfeito para uns anos 70 e 80 movidos a orgias e todos os excessos patrocinados por substâncias legais e ilegais. Tony Pike morreu este domingo, aos 85 anos, no quarto 25 da antiga quinta que comprou em 1978 e que dois anos mais tarde haveria de converter no luxuoso Pikes Hotel, e a imprensa espanhola recupera o trajeto da figura que alcançou o patamar reservado às lendas.

“Eu só queria divertir-me e acabei por ser o chefe de algo que não pretendia criar”, confessou certa vez Anthony, citado pelo El Mundo, que recupera a sua ligação a um leque de personalidades como Toni Curtis, Bon Jovi, Grace Jones (com quem teve um romance), Kylie Minoge, Anthony Quinn, Robert Plant, Naomi Campbell, ou o amigo Julio Iglesias. O mediatismo deste líder de orquestra involuntário, e da sua mansão, não é para menos.

Para a história ficará para sempre a celebração dos 41 anos do cantor Freddie Mercury, não muito depois do vocalista dos Queen ter descoberto que era portador do vírus HIV. Em 1987, Pike abria assim as portas para uma festa de arromba com números recorde para aquele destino de praia: meio milhar de convidados, 350 garrafas de Moët Chandon, 232 copos partidos, um bolo em forma de Sagrada Família que levantou voo mesmo antes de poder ser comido e um espetáculo de fogo de artifício visível em Mallorca — a cada 5 de setembro, continua a fazer-se uma festa, como se aquela nunca tivesse terminado. Anos antes, em 1983, a piscina assistia à rodagem do videoclip do hit “Club Tropicana”, dos Wham!’., em que Tony chega a aparecer. Enquanto isso, as autoridades na ilha manifestavam a sua preocupação pela circulação de cocaína e outras excentricidades.

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Casado por três vezes, ou mesmo seis, consoante as biografias que sirvam de referência, pai de três filhos (um dos quais foi assassinado em 1998), Pike, “maior que a vida”, a avaliar pela homenagem do dj Fatboy Slim, entre muitas outras estrelas que prestaram o seu tributo, soma episódios peculiares antes de aterrar em Espanha. De origem britânica, nascido no Hertfordshire, saiu de casa aos 13 anos e foi correr mundo. Serviu no exército australiano (naturalizou-se australiano), foi ator e modelo, e por um milagre escapou à morte depois de um acidente a praticar bobsleigh. Resistiu até aos 85 anos, ceifado apenas pelo cancro na próstata e na pele, e as suas aventuras suplantariam os melhores enredos recriados pelos atores que frequentavam a sua casa.

Playboy inveterado, gabava-se dos encontros movidos ao mais puro hedonismo e de ter levado para a sua cama mais de 3 mil mulheres e homens bem conhecidos. Os pormenores fazem o recheio da sua autobiografia, lançada em 2017, “Mr Pikes: The Story Behind The Ibiza Legend” (“Mr Pikes: A história por detrás da lenda de Ibiza”)

A notícia da sua morte foi dada pela página Pikes Ibiza, seguida pela mensagem “A tua lenda nunca morrerá”, sendo hoje e sempre recordado como um verdadeiro ícone e mestre “do deboche das celebridades”, em tempos de sol, mar, clubbinge uma espécie de neverending holiday.