A Assembleia Nacional da Venezuela, maioritariamente da oposição, desafiou a antecipação do Carnaval anunciada pelo Presidente de facto do país, Nicolás Maduro, declarando que estas quinta-feira e sexta-feira são dias de trabalho.

Não estamos para festas, não vamos acatar o decreto”, explica o parlamento em comunicado

O documento sublinha que os bancos privados e alguns setores que se caracterizavam por celebrar as festas de Carnaval estão a suspender a realização de iniciativas devido à crise política e económica no país.

Por outro lado, três organizações empresariais do país chamaram os funcionários para trabalhar toda esta semana, inclusive esta quinta-feira e sexta-feira, dias que Nicolás Maduro declarou feriados nacionais.

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A decisão foi tomada pela Federação de Câmaras de Comércio da Venezuela (Fedecâmaras), o Conselho Nacional de Comércio e Serviços (Consecomércio) e a Câmara do Porto Livre de Nova Esparta (CPLNE).

“Assim como os últimos aumentos salariais ainda não foram publicados na Gazeta Oficial [equivalente ao Diário da República], tão-pouco foi este período [de Carnaval] prolongado. Isto significa que não é obrigatório e depende de cada trabalhador e cada empregador”, explicou o presidente da Fedecâmaras, Carlos Larrazábal, aos jornalistas.

Já a presidente de Consecomércio, Maria Carolina Uzcátegui, sublinhou ser “lamentável” que o governo venezuelano imponha feriados, quando as pessoas precisam de trabalhar mais para poder alimentar as famílias, porque o salário é insuficiente e a inflação sobe a cada dia.

“É lamentável que se procurem mais feriados, quando o que as pessoas querem e a Venezuela necessita é trabalhar e produzir. Para sair da crise é preciso que todos se esforcem, [o que] não se consegue com mais dias livres”, frisou.

Segundo o presidente da CPLNE, Teodoro Bellorín, “deixar de trabalhar, nestes dias não tem sentido”, apelando aos comerciantes a não paralisar as atividades. Vários comerciantes contactados pela agência Lusa questionaram a antecipação do Carnaval, porque “não faz sentido parar”, quando “o país precisa de estar em movimento”. Outras pessoas explicaram ter dificuldades financeiras até para comprar alimentos básicos para casa e que festejar o Carnaval “só criaria mais dificuldades”.

Em 20 de fevereiro último, o Presidente de facto da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou a antecipação do início do Carnaval para 28 de fevereiro e anunciou o pagamento de um bónus económico carnavalesco. “Declaro dias de feriado nacional e Carnaval a quinta-feira, 28 de fevereiro, e a sexta-feira, 1 de março, para prolongar esta festa cultural”, disse Nicolás Maduro.

Maduro anunciou ainda o pagamento de um bónus económico aos venezuelanos titulares do cartão da pátria, promovido pelo Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV, o partido do governo). “O bónus do cartão da pátria deve ser pago em 27 de fevereiro, em celebração da festa de Carnaval e da cultura venezuelana”, acrescentou.

O cartão da pátria foi criado no início de 2017 para melhorar a distribuição de alimentos à população através das comissões de abastecimento e produção (CLAP) e hoje é denunciado por vários setores da sociedade venezuelana como um instrumento de controlo político da população.

“Pensando na família e na juventude”: Maduro antecipa início do Carnaval para 28 de fevereiro