O Bangladesh afirmou, na quinta-feira, no Conselho de Segurança da ONU que vai deixar de aceitar refugiados rohingya, minoria muçulmana alvo de uma campanha de repressão em Myanmar (antiga Birmânia).

A posição do Bangladesh foi transmitida pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Shahidul Haque, que declarou naquele órgão das Nações Unidas que “não é possível” acomodar mais refugiados rohingya no território bangladeshiano.

Os problemas colocados no processo de regresso de centenas de milhares de rohingyas a Myanmar “vão de mal a pior”, alertou Shahidul Haque, apelando ao Conselho de Segurança da ONU para tomar medidas “concretas”. “O Bangladesh, que se mostrou recetivo e responsável, com empatia por uma minoria perseguida num país vizinho, é que paga o preço?”, questionou o representante.

Shahidul Haque acusou ainda as autoridades de Myanmar de “promessas vazias” durante as negociações entre os dois países para o repatriamento gradual dos vários milhares de rohingyas atualmente refugiados em campos no Bangladesh.

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Após o acordo com o Bangladesh, Myanmar aceitou o regresso gradual de refugiados, mas a ONU sempre insistiu na necessidade de garantir a segurança destas pessoas. O embaixador de Myanmar junto da ONU, Hau Do Suan, disse, por sua vez, que o governo birmanês está a fazer o seu melhor, pedindo paciência.

O representante de Naypyidaw enumerou “imensas barreiras físicas e psicológicas”, apontando para a necessidade de existir “tempo e paciência, bem como coragem, para construir uma confiança mútua entre as diferentes comunidades”.

Myanmar, de maioria budista, não reconhece esta minoria e impõe múltiplas restrições aos rohingyas, nomeadamente a liberdade de movimentos. Desde que a nacionalidade birmanesa lhes foi retirada em 1982, os rohingyas têm sido submetidos a muitas restrições: não podem viajar ou casar sem autorização, não têm acesso ao mercado de trabalho, nem aos serviços públicos (escolas e hospitais).

Myanmar. ONU diz que o processo de resolução da crise dos rohingya está lento

As Nações Unidas consideraram que o processo de resolução da crise dos refugiados rohingya de Myanmar (antiga Birmânia) está lento e que as eleições no país, marcadas para o próximo ano, podem atrasar ainda mais a resolução do problema.

A enviada das Nações Unidas (ONU) a Myanmar, Christine Burgener Schraner, regressou recentemente da sua quinta viagem ao país e esta quinta-feira relatou publicamente pela primeira vez ao Conselho de Segurança da ONU sobre as evoluções da crise no Myanmar, desde que assumiu o cargo em abril de 2018.

“A minhas primeiras cinco visitas à Birmânia destacaram os enormes desafios que exigem considerável apoio internacional”, disse.

A embaixadora britânica na ONU, Karen Pierce, teceu palavras mais duras relativas a esta crise humanitária e afirmou estar “profundamente desapontada com a falta de progressos em trazer os refugiados” rohingya, que estão no Bangladesh, de volta ao país.

O êxodo dos rohingyas teve início em meados de agosto de 2017, quando foi lançada uma operação militar do exército birmanês contra o movimento rebelde Exército de Salvação do Estado Rohingya devido a ataques da rebelião a postos militares e policiais.

A violência, descrita pela ONU como limpeza étnica e um possível genocídio, incluiu o assassínio de milhares de pessoas, a violação de mulheres e de crianças e a destruição de várias aldeias. Tal cenário forçou a fuga de mais de 700 mil pessoas para o vizinho Bangladesh, sobretudo para a zona de Cox’s Bazar.

A campanha de repressão do exército de Myanmar (antiga Birmânia) contra esta minoria muçulmana já foi classificada pela ONU como uma limpeza étnica e como uma das crises humanitárias mais graves do início do século XXI.

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(Atualizado às 15h28)