Rui Rio voltou ao lugar onde foi feliz. Há pouco mais de um mês, na mesma sala onde discursou esta sexta-feira, no Porto Palácio, o presidente do PSD ganhou a primeira batalha: a moção de confiança. Mas agora o adversário é outro, o executivo de António Costa. Rio apanhou balanço de um dos temas das jornadas, as fake news, e acusou o governo de fazer um discurso de “meias-verdades“, que são “ainda piores que mentiras”, na área do emprego, do défice e da dívida. Para o eleitorado PSD e espaço não-socialista, Rio deixou um aviso:”Todos temos consciência que se for para mudar, só há uma possibilidade, que é o PSD ganhar as eleições. Para o próximo Governo não ser dirigido pelo PS só há um partido com possibilidade de o substituir, não há outro”.

“Poderão dizer lá fora que é preciso construir uma alternativa, mas a haver só connosco

Durante o encerramento das jornadas parlamentares do PSD, Rio denunciou duas meias-verdades e uma mentira naquilo que elegeu como as “três principais bandeiras do Governo”: a criação de emprego, a redução do défice e a redução da dívida. E desconstruiu essas três ideias: “Criaram emprego, mas de de fraco valor acrescentado, de fracos salários e muito precário; reduziram o défice público, mas com recurso a cativações exageradas e muito pouco prudentes; e quando dizem que reduziram a dívida, está mais próximo da mentira do que a meia-verdade, pois diminuíram apenas o rácio da dívida, que será [em termos absolutos], em 2019, 20 mil milhões superior ao que era no final de 2015″.

Rui Rio diz que tem uma outra fórmula para governar, que quer aplicar quando chegar ao Governo. E sintetizou-a já praticamente no fim da intervenção — mais longa que o habitual, mais perto da bitola de Passos Coelho —  quando disse que “aquilo que precisamos é melhor gestão, mais rigor, menos compadrio, mais coragem e mais crescimento económico“.

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O presidente do PSD atirou-se ainda aos parceiros de governo do PS, ao destacar que “no plano político” há “uma coligação parlamentar que cada vez é mais crítica de si própria”, com os partidos da esquerda a dizerem: “Isto não é nada connosco”. O que rejeita: “É tudo com PCP e BE, porque se não fosse com eles nada disto podia ter acontecido”.

Rio foi sendo, a espaços, aplaudido pelos deputados sociais-democratas. O líder social-democrata situou a matriz ideológica da chamada “geringonça” dizendo que “este Governo, tirando o gonçalvismo, é o mais à esquerda que tivemos em Portugal“, mas apesar disso “não olhou a uma das principais bandeiras da esquerda, o social”. De seguida o presidente social-democrata afirmou que “este governo acabou com uma conquista do 25 de abril que era o salário mínimo nacional. Substituíram por dois salários mínimos nacionais, um para o privado e outro para a função pública. E um salário mínimo, que é sempre injusto por ser baixo, deve ser nacional no norte ou no sul, no público ou no privado.”

A falta de investimento público foi outra das críticas de Rio, que destacou que está “abaixo do tempo em que não havia dinheiro para nada”. Rangel estava na mesa embora hoje não tenha falado, as eleições aproximam-se e Rio não deixou escapar a deixa para voltar a atacar Pedro Marques, o cabeça de lista do PS.  Rui Rio começou por dizer que o investimento deste Governo lhe faz “lembrar o fado do 31”, uma vez que o investimento “é um 31 de boca“. Ou seja: um governo que não fez nenhum investimento “a não ser de boca”. E pior: segundo Rio, fê-lo para “promover aquele que era o candidato ao Parlamento Europeu e promoveram-no à custa de um cargo público.” Esta mesma acusação tinha sido feita por Paulo Rangel logo no lançamento da sua candidatura e ainda antes de Pedro Marques ser anunciado.

As mudanças no Governo também tiveram direito ao seu momento de crítica. Rio lembrou mais uma vez que António Costa “fez 6 remodelações, mudou 10 ministros e 21 secretários de Estado e de cada vez que muda vai afunilando em torno daquilo que se pode dizer que é a família socialista.”

O presidente do PSD defendeu depois a poupança, lembrando que os últimos dados mostram que está a níveis da década de 1960. “O PS comunga muito esta lógica de que poupança tem a ver com austeridade”, diz o presidente do PSD, que contesta essa tese. Entre as várias acusações à governação socialista, Rui Rio diz que o executivo não “construiu nenhuma estratégia de crescimento” nestes anos.

Voltou a denunciar que “falta dinheiro na saúde” e elegeu como um erro o facto de o governo ter reduzido o tempo de trabalho das 40 para as 35 horas, lamentando que isso tenha sido feito porque “assim exigia o equilíbrio parlamentar”, que foi colocado “à frente da saúde das pessoas”.

O líder do PSD confessou não ter médico de família, o que para ele não é problemático ao contrário de outros portugueses que não têm seguros de saúde. Rio acusou o governo de “não cumprir o que está na Constituição”, de a saúde ser universal e “tendencialmente gratuita”. Isto porque há uma diferença de acesso à saúde entre os 2,7 milhões de portugueses com seguro de saúde e os 7,3 milhões que não têm.

Sobre as greves, Rui Rio diz que elas aconteceram porque o governo criou expectativas que sabia que nunca iria cumprir. O presidente do PSD diz que quem “vende ilusões, colhe greves“.”Umas com mais razão, outras com menos razão, mas há estas greves todas porque foi dado às pessoas expectativas de que este era um país das maravilhas”, acrescentou Rio.

Rio até foi recebido com particular entusiasmo pelos deputados. Antes de Rio falar, o líder da bancada do PSD, Fernando Negrão fez uma breve intervenção, onde destacou que “o PSD é o partido que menos interfere na liberdade de imprensa“. Sobre a desinformação, um dos temas das jornadas, Negrão atirou: “As fake news para António Costa já eram, António Costa está nas fake good news.