A procuradoria do condado de Sacramento (Califórnia, Estados Unidos da América) anunciou este sábado que não vai acusar os dois agentes da polícia responsáveis pela morte de um homem negro de 22 anos, desarmado, em março do ano passado.

O jovem de 22 anos, Stephon Clark, foi morto a tiro quando saiu para o quintal nas traseiras de casa da sua avó, em Sacramento, na mesma altura em que os agentes policiais estavam a responder a uma denúncia sobre alguém que estaria a tentar assaltar carros. Os agentes alegam que pensavam que Clark tinha uma arma — na verdade, o jovem tinha na mão um iPhone.

Em conferência de imprensa, a procuradora-geral Anne Maria Schubert reconheceu “o tremendo luto, raiva e ansiedade” que a família de Clark está a sentir, mas garantiu não ter provas para acusar os agentes: “Houve algum crime? A resposta a essa pergunta é não e, por isso, não há responsabilidade criminal”, afirmou Schubert, de acordo com a CNN.

A procuradora sublinhou que os agentes pediram a Clark que mostrasse as palmas das mãos e que viram uma luz — um dos agentes pensou ser a luz de um disparo, o outro assumiu ser a luz refletida numa arma, como explica a NBC. As imagens recolhidas pelas câmaras corporais trazidas pelos agentes e as filmagens obtidas por um helicóptero no local permitiram comprovar que Clark foi atingido a tiro 20 vezes, como conta o Washington Post. O relatório oficial da autópsia diz que Clark sofreu sete tiros; um autópsia independente pedida pela família concluiu que terão sido oito, seis deles pelas costas.

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“Temos ainda de reconhecer que [os agentes da polícia] são muitas vezes forçados a tomar decisões em menos de um segundo. Também temos de reconhecer que estão muitas vezes sob circunstâncias tensas, incertas e que evoluem rapidamente”, acrescentou Schubert. A procuradora aproveitou a conferência para descrever ainda as circunstâncias pessoais da vida de Clark, sublinhando que estava a atravessar uma fase difícil: tinha sido recentemente acusado de ter atacado a mãe dos filhos, estava sob o efeito de codeína, Xanax, marijuana e álcool à altura do incidente e, para além disso, tinha recentemente feito pesquisa sobre formas de cometer suicídio.

A mãe de Clark, Se’Quette, reagiu com desagrado à conferência de imprensa e em particular à divulgação dos problemas pessoais do filho. “Isso não serve de autorização para o permitir”, afirmou, de acordo com a CNN. “O que importa é que aqueles agentes foram àquela esquina por causa de uma denúncia de vandalismo e mataram-no.”

Executaram o meu filho, executaram-no no quintal da minha mãe e isso não está certo”, declarou a mãe da vítima.

A União Americana de Liberdades Civis (ACLU na sigla original), citada pela NBC, reagiu à decisão da procuradoria, afirmando que “abre uma nova ferida na comunidade de Sacramento” e relembra que “a lei da Califórnia sobre o uso de força letal precisa de ser alvo de reforma”.

A morte de Stephon Clark levou a uma vaga de manifestações em Sacramento, que se estenderam a outros pontos do país. A família do jovem avançou ainda com uma ação em tribunal contra a autarquia, exigindo o pagamento de 20 milhões de dólares como compensação pela morte de Clark.