O líder do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Domingos Simões Pereira, afirmou esta segunda-feira em entrevista à Lusa que a Guiné-Bissau não pode continuar a aterrorizar os guineenses e a desestabilizar a sub-região.

A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) ameaçou em dezembro, durante a reunião dos chefes de Estado e de governo, impor sanções a quem tentar obstaculizar o processo eleitoral no país e a semana passada o Conselho de Segurança da ONU referiu a possibilidade de “adotar medidas adicionais para responder a um maior agravamento da situação na Guiné-Bissau”.

Questionado pela Lusa se há obstáculos à realização de eleições a 10 de março, depois de terem estado inicialmente previstas para 18 de novembro, Domingos Simões Pereira respondeu que os obstáculos “são evidentes”.

As provas estão aí e a CEDEAO sabe o que fala. O Conselho de Segurança das Nações Unidas não fez esta missão ao acaso, porque vieram cumprir com o calendário. Vieram deixar um aviso à navegação, que estão atentos e como parte da política internacional podem acionar o mecanismo das sanções, porque a Guiné-Bissau não pode continuar não só a aterrorizar os seus filhos, como a desestabilizar a sub-região, portanto, esse aviso à navegação deve servir de alerta para que possam voltar à ordem constitucional e cumprir as regras de jogo que estão estabelecidas”, afirmou Domingos Simões Pereira.

Sobre qual será a relação do PAIGC, caso vença as eleições, com os restantes partidos políticos, incluindo o Partido de Renovação Social (PRS), segunda maior força do país, Domingos Simões Pereira disse que o seu partido respeita e está sempre disponível para dialogar.

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“Agora, uns provaram a capacidade de partilhar, colaborar, de cooperar, outros provaram que não têm maturidade para esse efeito, mas antes do julgamento que o PAIGC fará em função dos resultados, o próprio povo guineense vai fazer um julgamento para dizer como avalia cada um dos partidos em relação ao percurso recente que vivemos neste mandato”, salientou.

Sobre os meios de campanha utilizados por alguns partidos, incluindo os do PAIGC, que têm recebido críticas por parte da sociedade civil, Domingos Simões Pereira disse compreender perfeitamente às críticas, mas considerou serem mais uma “expressão de frustração” dos adversários.

“Nós fizemos uma abertura de campanha sem grande utilização de meios, não tínhamos. Eu comecei a campanha eleitoral percorrendo as localidades dentro da cidade de Bissau a pé, demonstrando que para nós o importante é falar ao povo, contactar o povo, e muita gente viu nisso uma oportunidade de instrumentalizar e enganar o povo, dizendo que o PAIGC está falido, o PAIGC está irremediavelmente fora desta corrida e logo inventaram um conjunto de ?slogans’ para mostrar que o PAIGC não é solução”, disse.

Domingos Simões Pereira reconhece as debilidades da Guiné-Bissau, mas, disse, teve de recorrer aos “amigos e chamar a atenção aos parceiros” do partido sobre a necessidade de não permitir que a falta de meios de campanha pudesse “pôr em causa a liberdade de escolha do povo guineense”.

Mas, sublinhou, ao “criar essas condições para equilibrar o jogo, nunca deixamos de dizer que não são cartazes, nem viaturas, nem motorizadas que ganham eleições”.

“O que ganha eleições é o voto do povo guineense e é nisso que confiamos para ganhar as próximas eleições”, afirmou.

Aos guineenses que vão votar a 10 de março, Domingos Simões Pereira deixou uma mensagem de confiança, salientando que é altura de os guineenses virarem a “página ou se necessário trocar o livro”.

“A Guiné-Bissau é um país possível e nós vamos trabalhar para que possamos para provar que não só é possível, como também é sustentável”, concluiu.