A Polícia Judiciária (PJ) apreendeu 3,6 toneladas de cocaína só nos dois primeiros meses deste ano, segundo informação avançada pelo Jornal de Notícias. O valor de cocaína apreendida por esta força policial quadriplicou desde 2016.

No ano passado, a quantidade de cocaína apreendida ultrapassou as cinco toneladas. No ano anterior, já tinha sido superior a 2,5 toneladas — ou seja, de 2017 para 2018, esse valor subiu para mais do dobro. Já em 2016, a quantidade de cocaína recuperada pela PJ tinha sido de uma tonelada, o que significa que em três anos o valor quadriplicou. Tudo indica que o valor de apreensões deverá continuar a seguir esta tendência. Só nos dois primeiros meses deste ano, foi apreendida mais de metade da quantidade total relativa ao ano passado: 3,6 toneladas face às 5 toneladas do ano passado.

Traficantes estão a produzir mais. E Portugal é a porta de entrada da Europa

O aumento de produção de cocaína e a o facto de Portugal continuar a ser uma porta de entrada parece estar na origem deste aumento. O diretor da Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes (UNCTE), Artur Vaz, explicou ao mesmo jornal que, a partir de 2017, registou-se um aumento da produção de cocaína. Aumento esse que se tem também registado em relação à heroína e às drogas sintéticas, “embora Portugal não seja um país onde haja registo de produção desse tipo de drogas”, explica o responsável daquela unidade da PJ, citando vários relatórios internacionais.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Portugal foi utilizado tradicionalmente por organizações criminosas pela sua posição geográfica e pela ligação aérea que tem a outros países, nomeadamente da América Latina”, explica o diretor da UNCTE.

Artur Vaz recorda, a título de exemplo, a operação realizada em outubro do ano passado, quando um contentor com milhares de bananas com cocaína no seu interior chegou ao porto de Setúbal — que veio confirmar o que já era conhecido pela PJ de que “a via marítima é o meio utilizado pelas organizações criminosas para fazer chegar grandes quantidades de droga aos mercados”, disse, e que Portugal é mesmo uma porta de entrada para o continente europeu: é que aquela cocaína tinha como destino Espanha. Os inspetores da PJ já estavam à espera da mercadoria quando esta chegou ao porto e seguiu-a até Espanha. Na operação intitulada Star Bananero, foram apreendidas as 6,3 toneladas de cocaína no valor de cerca de 350 milhões de euros.

Operação Star Bananero. Como bananas com cocaína entraram no porto de Setúbal

O diretor da UNCTE aponta a cooperação internacional das autoridades como solução para o combate a este tipo de crime organizado. É, diz, “vital” que exista “porque estamos a falar de organizações criminosas que atuam em vários continentes”. “Temos de evitar que a droga chegue aos consumidores”, defende, acrescentando que a polícia espanhola e portuguesa “estão a fazer com que a Península Ibérica seja um muro que evita a entrada de droga”.