Esta não foi propriamente a semana mais conseguida de sempre em termos desportivos para Marega. E não foi porque, apesar do sucesso na Liga dos Campeões frente à Roma, houve uns dias antes a derrota no clássico frente ao Benfica e uma “pega” com os adeptos à saída do Dragão. Ainda assim, foi garantidamente uma das semanas mais marcantes da carreira do maliano, aquele mesmo jogador que todos davam de fora das grandes decisões e que, numa recuperação recorde, conseguiu dizer presente quando o FC Porto mais precisava e para fazer história num clube onde quando chegou era visto como o “patinho feio”.

Militão mostrou a Florenzi o canto do cisne (a crónica do FC Porto-Roma)

Este verdadeiro carrossel de emoções começou em Guimarães, no início de fevereiro: a cerca de 15 minutos do final do encontro com o Vitória, a equipa onde brilhou para ser aposta de Sérgio Conceição nos azuis e brancos, o avançado caiu agarrado à coxa e saiu em lágrimas de maca do relvado. Estava ali um problema muscular, estava ali um problema com alguma gravidade, estava ali uma longa paragem à vista. Uma paragem de oito semanas, como chegou a ser reconhecido. No entanto, e tal como se fosse mais um jogo, Marega arriscou um sprint para não falhar quando seria mais preciso e, após dez dias de duros tratamentos entre o Qatar e a China com o fisioterapeuta Eduardo Santos (ou “Doutor Milagres”), conseguiu ficar apto bem antes do tempo que era inicialmente estimado. De tal forma que, 23 dias depois, já estava no banco para a Taça de Portugal com o Sp. Braga.

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Quem é, o que faz e como pensa Eduardo Santos, o fisioterapeuta que recuperou Marega em tempo recorde

Não foi necessário entrar frente aos minhotos e manteve-se o tabu em torno da possível participação no clássico. Estaria o africano disponível para jogar a 100% com o Benfica? Poderia ser titular? Foi mesmo, apesar de ter mais próximo de si Adrián López e não Soares, como costuma ser habitual num ataque com duas unidades. No entanto, entre o mérito dos encarnados e o demérito da construção de jogo azul e branca, Marega acabou por não ter a influência de outras partidas, tendo desperdiçado uma das melhores oportunidades nos descontos num desvio na área que Vlachodimos defendeu por instinto. A frustração do jogador era visível e ganhou outros contornos à saída do Dragão, quando não gostou dos protestos de alguns adeptos e chegou mesmo a sair do carro para ir falar com os mesmos, antes da intervenção policial para acalmar os ânimos. Momentos antes, ainda no relvado, tinha ido dar a camisola à bancada dos Super Dragões soltando a frase “Ainda vamos ganhar!”.

Após o clássico com o Benfica, Marega deixou mensagem a pedir desculpa aos adeptos (PATRICIA DE MELO MOREIRA/AFP/Getty Images)

“Desculpem todos os adeptos por esta derrota! Vamos levantar as nossas cabeças! E vamos alcançar os nossos objetivos. 10 jogos”, escreveu o maliano na sua conta oficial do Instagram, numa mensagem dirigida não apenas para a derrota em si mas também para justificar a natural deceção pelo desaire no encontro que marcou o regresso à competição. No entanto, o melhor ainda estaria para vir. E contando no seu estádio com um grupo especial de amigos, como contou o RMC Sport: o maliano quis agradecer à comunidade onde cresceu, na rua 14 de um bairro em Évry-Courcouronnes, e pagou a viagem a 30 pessoas amigas (24 crianças e seis adultos) para virem a Portugal, ficarem num hotel e verem a partida contra a Roma no Dragão, com o bónus extra de poderem ainda visitar o Olival, centro de treinos dos azuis e brancos. “É um bom momento para os jovens desfrutarem de um bom jogo de futebol”, comentou o maliano ao mesmo órgão a esse propósito.

Já depois de ter feito a assistência para o primeiro golo de Soares, na sequência de um sprint fantástico numa grande jogada de envolvimento pela esquerda antes do cruzamento rasteiro para o desvio do brasileiro na pequena área, Marega apontou o 2-1 que levou o encontro para prolongamento, num desvio à ponta de lança ao segundo poste na pequena área após trabalho individual de Corona. E, com isso, escreveu (mais) história no livro de registos europeus do FC Porto.

O maliano, que não tinha jogado a primeira mão dos oitavos no Olímpico de Roma por lesão, marcou pelo sexto jogo consecutivo na Liga dos Campeões, superando o registo máximo de Mário Jardel no clube que estava nos cinco jogos seguidos. Em paralelo, e olhando para a tual lista de melhores marcadores da prova, igualou Tadic e Messi no segundo lugar com seis golos, tendo apenas à frente o polaco Lewandowski, do Bayern, com oito. Mas esse golo valeu ainda mais do que essa marca.

Além de ter ficado apenas um golo de Kanouté na lista dos malianos que mais marcaram na Liga milionária, Marega passou de novo para a frente da lista dos melhores goleadores do conjunto de Sérgio Conceição na presente temporada, levando já um total de 17 golos em 33 jogos entre Campeonato, Champions, Taça de Portugal e Taça da Liga. E, já agora, juntou-se a uma lista de “notáveis” a marcar em seis partidas seguidas da Liga dos Campeões, depois de Van Nistelrooy, Burak Yilmaz e Ronaldo.

“Quero agradecer a toda a equipa, a todos os jogadores. Foi uma vitória importante frente aos nossos adeptos, foi excecional. Se já estava cansado? Já estava antes de chegar ao final, mas quando percebi que ia haver prolongamento… Quero agradecer, mais uma vez, a toda a equipa”, comentou o avançado na zona de entrevistas rápidas após o final do encontro.

Marega fez desta forma o 2-1 que levou o jogo para prolongamento no início da segunda parte (PATRICIA DE MELO MOREIRA/AFP/Getty Images)

Antes, numa entrevista ao site da UEFA onde revelou que, apesar de admirar avançados como Didier Drogba e Samuel Eto’o, o seu primeiro grande ídolo tinha sido Thierry Henry, Marega já tinha abordado o recorde de Jardel que esta noite bateu, bem como a passagem pelos dragões e a aposta com sucesso de Sérgio Conceição que permitiu o regresso ao clube.

“É uma excelente sensação, tive um prazer especial quando marquei o meu primeiro golo na Champions League frente ao Galatasaray. Foi o momento de maior satisfação pessoal na minha carreira. Neste momento tenho cinco golos e é excelente, estou muito feliz. No ano passado não estive bem na Champions League, não marquei nenhum golo, por isso sinto-me muito bem por ter marcado cinco vezes esta época. Quanto ao recorde, veremos no final da temporada”, tinha destacado.

“Senti-me muito orgulhoso, por mim e pela minha família, quando cheguei ao FC Porto. Foi incrível assinar por um clube tão grande e que já conquistou tantos troféus. Quando recordo tudo aquilo que passei na minha carreira, é incrível perceber que cheguei até este nível. Assinar por um dos maiores clubes da Europa foi a concretização de um dos meus sonhos. Relação com Sérgio Conceição? Apostou tudo em mim e foi graças a ele que fiz a melhor época da minha carreira. Estou-lhe muito grato por isso. Ele sabe como lidar comigo e como tirar o melhor partido de mim. É um grande treinador”, acrescentou.