23 meses depois de ocupar o cargo pela primeira vez, Scott Gottlieb, o responsável pela Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla inglesa), anunciou que vai deixar a agência no próximo mês. O mandato do líder da FDA ficou marcado por várias lutas e decisões que nem sempre geraram consenso entre os especialistas da área.

Gottlieb referiu que vai abdicar do cargo para passar mais tempo com a sua família em Connecticut e não por causa de alguma discórdia com a Casa Branca. Garantiu que ao longo de quase dois anos teve “o privilégio de trabalhar com uma excelente equipa”. “Nós éramos fortes em momentos de crise”, acrescentou.

É difícil para mim escrever esta nota e partilhar com vocês que vou deixar o meu trabalho como diretor da Administração de Alimentos e Medicamentos no próximo mês. Talvez não haja nada que me afaste deste papel a não ser o desafio de ter estado longe da minha família durante estes últimos dois anos e de sentir saudades da minha mulher e dos meus três filhos”, escreveu Scott Gottlieb numa carta enviada aos funcionários da FDA.

Donald Trump não deixou passar em branco o anúncio de Gottlieb e escreveu uma mensagem no Twitter, onde afirmou que o líder da FDA ajudou o país “a baixar os preços dos medicamentos, a obter um número recorde de genéricos aprovados no mercado e muitas outras coisas”. “Ele e os seus talentos vão fazer muita falta”, acrescentou o Presidente dos Estados Unidos.

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Uma das grandes críticas feitas à liderança de Scott Gottlieb passou pelo facto de este ter aprovado um opióide que pode ser quase 1.000 vezes mais potente que a morfina, levando à preocupação de que o medicamento seja utilizado indevidamente, especialmente tendo em conta ao crescente uso de opióides que se vive nos Estados Unidos. “Não estamos tristes em vê-lo sair”, assegurou Michael Carome, diretor do grupo de pesquisa em saúde do Public Citizen, citado pela revista Nature.

Gottlieb abandona também o cargo em plena campanha para restringir a venda de cigarros eletrónicos em território norte-americano, uma proposta que Washington estava a analisar. Foi em setembro que o líder da FDA denunciou que “o uso de cigarros eletrónicos entre os jovens alcançou uma proporção epidémica”, acrescentando que 3,62 milhões de estudantes nos Estados Unidos fumaram cigarros eletrónicos em 2018, mais 78% do que em 2017. O plano de Gottlieb foi duramente criticado pelas indústrias de tabaco, mas muitos esperam que seja aprovado.