Um avião da Ethiopian Airlines caiu na manhã este domingo com 149 passageiros e oito membros da tripulação a bordo. Nenhuma das 157 pessoas sobreviveu, confirmou a companhia aérea. O aparelho despenhou-se seis minutos após a descolagem, caindo perto da cidade de Bishoftu, a 62 quilómetros de Adis Abeba, capital etíope. O comandante — um oficial com mais de 8 mil horas de voo — apercebeu-se dos problemas, comunicou dificuldades e pediu para regressar. Ainda obteve autorização, mas já não conseguiu controlar o avião.

O voo tinha como destino Nairóbi, no Quénia, e segundo o porta-voz da companhia, as vítimas mortais são de 35 nacionalidades. Seguiam 48 europeus a bordo — nenhum deles português.

O voo partiu da capital da Etiópia, Adis Abeba (verde), e dirigia-se para a capital do Quénia, Nairóbi (azul), tendo caído perto de Bishoftu (vermelho). Todos os passageiros e membros da tripulação morreram (Imagem: Google Maps)

A Ethiopian Airlines divulgou nesta manhã a nacionalidade dos passageiros: 32 do Quénia, 18 do Canadá, 9 da Etiópia, 8 da China, 8 de Itália, 8 dos EUA, 7 do Reino Unido, 7 de França, 6 do Egito, 5 da Alemanha, 4 da Índia, 4 da Eslováquia, 3 da Áustria, 3 da Rússia, 3 da Suécia, 2 de Espanha, 2 de Israel, 2 de Marrocos e 2 da Polónia.

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A bordo do avião seguiam ainda pessoas naturais da Bélgica, Djibouti, Indonésia, Irlanda, Moçambique, Noruega, Ruanda, Arábia Saudita, Sudão, Somália, Sérvia, Togo, Uganda, Iémen, Nepal e Nigéria.

Entre as vítimas encontravam-se 19 delegados das Nações Unidas que iriam participar numa cimeira da ONU dedicada ao ambiente, na capital queniana. Sete eram membros do Programa Mundial de Alimentação, seis trabalhavam na sede de Nairobi das Naçõs Unidas, dois representavam o Alto Comissariado para os Refugiados e outros dois a União Internacional de Telecomunicações. A Organização para a Comida e Agricultura, a Organização Internacional de Migrações, o Banco Mundial e a Missão de Assitância Humanitária para a Somália, perderam uma pessoa cada.

A companhia aérea disse, em comunicado, que ainda é “muito cedo para especular sobre a causa do acidente”, explicando que haverá agora investigações em parceria com várias entidades, nomeadamente com a empresa fabricante do avião, a Boeing.

Fonte da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas disse à Agência Lusa que o Governo português acompanhou a situação, em contacto com a embaixada de Portugal em Nairóbi, no Quénia, com o objetivo de averiguar a existência de vítimas portuguesas no acidente — algo que não se verificou.

A primeira certeza de que não havia sobreviventes surgiu num comunicado divulgado esta manhã pela Ethiopian Airlines, no qual a companhia aérea mostrava que o CEO da empresa se havia deslocado ao local e confirmava que não havia sobreviventes.

O aparelho em questão era um Boeing 737-800 e o acidente ocorreu este domingo às 8h44 da manhã, hora local. A notícia fora inicialmente avançada pelo primeiro-ministro da Etiópia no Twitter, onde expressou condolências às famílias das vítimas.

“O gabinete do primeiro-ministro, em nome do Governo e dos cidadãos da Etiópia, gostaria de expressar as mais profundas condolências às famílias daqueles que perderam os seus entes queridos no Being 737 da Ethiopian Airlines num voo regular para Nairóbi, Quénia, esta manhã”, disse o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed Ali que entretanto já se deslocou ao local.

“As operações de busca e salvamento estão em curso e não temos informações confirmadas acerca de sobreviventes ou de possíveis vítimas mortais”, disse depois a companhia aérea no primeiro comunicado, antes de o porta-voz da empresa confirmar à imprensa etíope que “não há sobreviventes”.

“Funcionários da Ethiopian Airlines vão ser enviados para o local do acidente e farão todos os possíveis para apoiar os serviços de emergência. Acredita-se que estavam 149 passageiros e 8 membros da tripulação a bordo do avião, mas estamos neste momento a confirmar o manifesto dos passageiros do voo”, acrescentou a companhia aérea no primeiro comunicado desta manhã.

Segundo acidente em seis meses com Boeing 737-800 MAX

O aparelho que caiu na Etiópia é um modelo novo da Boeing, 737-800 MAX que tinha chegado à companhia há poucos meses. Um avião do mesmo modelo despenhou-se em outubro do ano passado no mar de Java num voo da companhia low-cost da Indonésia Lion Air. Foi o primeiro acidente com este novo modelo que é uma versão atualizada do Boeing 737. O relatório preliminar deste acidente apontou para um problema no controlo do sistema automático de segurança que forçou o aparelho a baixar. A queda deste avião provocou a morte de 189 pessoas.

Relatório sobre queda de avião indonésio confirma falha no sistema automático de segurança

O novo avião foi lançado em 2016. A Boeing já afirmou que está a acompanhar a situação com grande atenção. Não se conhecem ainda as causas do acidente, mas não há para já qualquer suspeita de ataque terrorista.

Em comunicado, a Boeing confirmou que tem uma equipa técnica “preparada para fornecer assistência técnica a pedido e sob a orientação do National Transportation Safety Board dos Estados Unidos”. “A Boeing está profundamente entristecida com a morte dos passageiros e da tripulação do voo 302 da Ethiopian Airlines, num avião 737 MAX 8. Estendemos as nossas condolências sinceras às famílias e entes queridos dos passageiros e da tripulação a bordo, e estamos prontos para apoiar a equipa da Ethiopian Airlines”, lê-se no comunicado divulgado pela empresa.

De acordo com informações divulgadas pelo Flightradar24, os dados do voo da Ethiopian Airlines mostram uma instabilidade na velocidade vertical do avião após a descolagem, algo que indica semelhanças com o acidente de outubro do ano passado. Na altura, os dados da caixa-negra da aeronave da Lion Air mostraram que os pilotos tentaram contrariar o sistema automático de segurança que obrigava o avião a descer.

Este modelo de aeronave não é utilizado pela TAP, cuja frota é composta por aviões da Airbus, fabricante rival da Boeing.

Entretanto, a companhia aérea já disponibilizou um conjunto de números de telefone de emergência para prestar informações a familiares e amigos das pessoas que estavam a bordo do avião.

Marcelo e Governo português já reagiram

O Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, enviou esta manhã uma mensagem de condolências à presidente da Etiópia, Sahle-Work Zewde.

“Ao tomar conhecimento do trágico acidente de aviação, que esta manhã tirou a vida a 157 pessoas, o Presidente da República apresentou as suas sentidas condolências e solidariedade à Presidente da Etiópia Sahle-Work Zewde, expressando o seu pesar às famílias das vítimas”, lê-se numa nota publicada no site da Presidência da República.

Também o presidente do Quénia, país de destino daquele voo, já enviou condolências às famílias das vítimas. “Estamos tristes com as notícias de que um avião de passageiros da Ethiopian Airlines caiu 6 minutos depois da descolagem, a caminho do Quénia. As minhas orações vão para todas as famílias e conhecidos dos que iam a bordo”, escreveu Uhuru Kenyatta no Twitter.

https://twitter.com/UKenyatta/status/1104678914071453696

O ministro queniano dos transportes, entretanto, já anunciou que o Governo do Quénia está a apoiar as autoridades etíopes, nomeadamente montando centros de apoio no aeroporto de Nairóbi para prestar informações a quem esperava a chegada dos passageiros vindos da Etiópia.

Também o Governo português manifestou “profunda consternação” pelas 157 vítimas mortais da queda do avião. “Foi com profunda consternação que o Governo português tomou hoje conhecimento da queda de uma aeronave na Etiópia, que partiu de Adis Abeba com destino a Nairobi”, refere um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

O Governo manifesta ainda “as suas mais sinceras condolências às famílias das 157 vítimas do trágico acidente”. Expressa também a sua solidariedade para com os governos da Etiópia e do Quénia, “nesta hora de luto”.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, manifestou-se “profundamente entristecido” pela queda de um avião na Etiópia, que provocou a morte dos 157 ocupantes, incluindo funcionários da ONU. “Profundamente entristecido pelas notícias desta manhã do acidente aéreo na Etiópia, reclamando a vida de todos a bordo”, afirmou hoje, numa mensagem na rede Twitter, cerca das 18:00 em Lisboa.

“As minhas sinceras condolências às famílias e próximos de todas as vítimas — incluindo a nossa equipa das Nações Unidas — que faleceram nesta tragédia”, disse ainda.

O alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi, afirmou, num comunicado, que entre as vítimas do acidente aéreo se encontravam funcionários do ACNUR, agência da ONU que lidera.

“Estamos a trabalhar para confirmar quantos colegas do ACNUR estavam entre aqueles que estavam a bordo do voo trágico. Estamos a seguir os nossos procedimentos para informar as famílias e as assistir neste momento devastador e doloroso”, referiu Grandi na mesma declaração.

O ACNUR “sofreu hoje uma grande perda”, lamentou o alto comissário, que mencionou ainda que “colegas de outros parceiros” também estavam a bordo.

O avião partiu da capital etíope, Adis Abeba, e tinha destino a capital do Quénia, Nairobi, ambas cidades que são importantes centros para trabalhadores humanitários.

Também o presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, transmitiu hoje “total solidariedade” ao Governo e ao povo da Etiópia.

“É com choque e uma enorme tristeza que soube do acidente do voo #ET302 esta manhã, com destino a Nairobi. As nossas orações estão com as famílias dos passageiros + tripulação enquanto as autoridades procuram sobreviventes”, afirmou o líder da União Africana, cuja sede se localiza na capital etíope, Adis Abeba, numa mensagem publicada na rede social Twitter.

Comandante do avião quis voltar atrás

Numa conferência de imprensa nesta manhã, o presidente da Ethiopian Airlines, Tewolde Gebremariam, explicou que o comandante deste voo estava em dificuldades e quis regressar a Adis Abeba.

De acordo com o responsável pela companhia aérea, o comandante recebeu autorização para voltar atrás e estaria a fazer isso quando o avião caiu.

O avião chegou esta manhã da África do Sul, esteve durante mais de três horas parado no aeroporto e foi autorizado a partir sem nenhuma indicação de falhas técnicas, explicou o líder da Ethiopian Airlines.

O que aconteceu na Indonésia com um avião do mesmo modelo?

As investigações na Indonésia concluíram que o avião não estava em condições de voar e que deveria ter ficado em terra. Um relatório preliminar detetou problemas técnicos que foram relatados em voos anteriores realizados pelo 737-800 Max. Este modelo que substituiu o original 737 é atualmente um dos mais vendidos da Boeing. No relatório preliminar, os investigadores não conseguiram contudo apontar para a causa definitiva do acidente, segundo a BBC.

O relatório da National Transport Safety Committee, a autoridade de segurança aeronáutica indonésia, sugere que a Lion Air voltou a colocar o avião ao serviço apesar dos problemas relatados em voos anteriores.

Os pilotos terão tentado contrariar o sistema automático que é concebido para evitar que o avião entre em stall speed, o limite mínimo de velocidade para se manter em voo, e que é uma nova funcionalidade desta família de aviões. Este sistema evita que o nariz do avião se incline demasiado num ângulo em que pode perder a sua elevação

No entanto, no dia 29 de outubro o sistema anti-stalling forçou repetidamente o nariz do avião para baixo quando o aparelho não estava na velocidade mínima de voo, possivelmente por causa da falha de um sensor. Os pilotos tentaram corrigir este movimento direcionando o nariz do avião para cima, mas o sistema voltava a arrastá-lo para baixo. Isto terá acontecido mais de 20 vezes. Não ficou contudo clara a razão pela qual os pilotos não tentaram desativar o sistema. Por isso, a autoridade da aviação indonésia considerou, num relatório de novembro que era prematuro concluir se este sistema contribuiu para a acidente do avião.

Companhia aérea com boa reputação de segurança

Como recorda a BBC, a Ethiopian Airlines é conhecida por ter uma boa reputação no que toca às questões de segurança, embora tenha já registado alguns acidentes graves. O último aconteceu em 2010, quando um avião daquela companhia aérea caiu no Mar Mediterrâneo após partir de Beirute, no Líbano. Morreram 90 pessoas.

O maior acidente a envolver um avião da Ethiopian Airlines aconteceu em novembro de 1996, também na rota Adis Abeba-Naiorobi, mas daquela vez na sequência de um sequestro aéreo. Os pilotos ainda lutaram para aterrar em segurança no Oceano Índico, mas o avião acabaria por embater num recife de coral e morreram 123 das 175 pessoas que seguiam a bordo, lembra ainda a BBC.

A Ethiopian Airlines é detida pelo Estado etíope e é uma das maiores companhias aéreas do continente africano. De acordo com a Reuters, números divulgados pela própria empresa davam conta de que em 2018 a companhia aérea transportou 10,6 milhões de passageiros.

A companhia aérea faz parte da Star Alliance, um consórcio de transportadoras na qual se inclui também a portuguesa TAP, e que partilham voos. Isto significa, por exemplo, que é possível comprar um bilhete para um voo da TAP que depois é operado por outra companhia que faça parte do grupo.