No futebol, como no basquetebol, no andebol ou no hóquei em patins, há um tipo de jogada que são poucos ou nenhuns aqueles treinadores que não trabalham: os lances de 3×3 ou 3×2. Porque no futebol, como no basquetebol, no andebol ou no hóquei em patins, são raras as vezes em que um adversário se desconjunta de tal forma que fica em igualdade ou inferioridade numérica. Por isso, e apesar de ser um fator que por vezes passa ao lado do “olho comum”, desperdiçar uma oportunidade assim é quase como falhar um golo de baliza aberta. Para não falhar, há o treino. Os cruzamentos nas costas. As diagonais pela frente.

Um dos elogios mais vezes feitos a este Wolverhampton de Nuno Espírito Santo é a capacidade coletiva que levou a equipa ao primeiro lugar entre os não candidatos ao primeiro lugar da Premier League (vulgo, sétima posição do Campeonato). Os Wolves são uma equipa bem trabalhada, que partem num sistema sempre complicado de afinar com três centrais, que chegam a qualquer jogo com uma ideia sem abdicar dos princípios e modelo definidos. Como aconteceu em Stamford Bridge, onde percebeu sempre bem a qualidade individual do Chelsea do meio-campo para a frente com a mesma noção das debilidades que tem na transição defensiva. Na primeira vez em que a bola entrou onde devia para esse movimento, deu golo (55′).

Neste caso, não foi uma situação de 3×3 nem de 3×2 mas sim 2×5. Boly cortou a bola na área, Moutinho deu um toque na frente pelo ar até à zona de meio-campo e Diogo Jota recebeu a bola nessa zona. À volta estavam cinco jogadores dos blues. Um, dois, três, quatro, cinco. E não eram jogadores desconhecidos, ou não estivesse do outro lado uma equipa com David Luiz, Rüdiger, Kanté ou Jorginho, entre outros. O português, ainda assim, só teve olhos para a outra camisola laranja que andava por ali, com o nome de Jiménez nas costas. E a combinação entre ambos, no primeiro remate à baliza do Wolverhampton esta tarde em Londres (e com um ressalto em Azpilicueta) só acabou no fundo da baliza visitada, repetindo o golo da primeira volta e confirmando que o avançado emprestado pelo Benfica está mesmo talhado para os encontros com os Big Six da Premier League.

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Antes, a imagem que acompanha o tweet do resumo estatístico da primeira parte tinha sido o único esboço de oportunidade que existiu ao longo de 45 minutos, num remate de Higuaín quase sem ângulo que Rui Patrício, encostado, desviou para canto. O Chelsea foi dono e senhor do jogo, da bola e do campo, contra um Wolverhampton que não fez sequer um remate à baliza de Kepa e que teve dificuldades em ligar setores em posse ou sair em ataques rápidos. Mas as coisas iriam mudar pouco depois.

De bola parada ou em jogo corrido, o conjunto de Maurizio Sarri, agora um pouco mais estável depois das ondas de choque que se seguiram à derrota na final da Taça da Liga, tentava de todas as formas mas, nas poucas vezes em que conseguiam bater a sempre bem organizada muralha defensiva dos Wolves, havia sempre Rui Patrício pelo meio do golo, como aconteceu numa tentativa de Pedro Rodríguez (60′) e num outro remate prensado de Loftus-Cheek (70′). Hudson Odoi e Willian já estavam também em campo mas os minutos passavam e eram os visitantes a mostrarem cada vez maior conforto com a vantagem alcançada, apesar de mais uma tentativa do avançado brasileiro de fora da área bem defendida por Patrício para canto (87′).

No entanto, num dos aspetos que podem ser mais trabalhados nos treinos mas que acabam por depender sobretudo dos próprios jogadores, bastou uma simples desatenção já depois dos 90 minutos para custar uma vitória que parecia certa: na sequência de uma bola parada, Eden Hazard (sempre ele) recebeu a bola à entrada da área e rematou colocado ao ângulo inferior da baliza de Rui Patrício, que nada conseguiu fazer para evitar o 1-1 que isolou o Wolverhampton em sétimo mas soube a pouco.

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