A organização Campanha Internacional para o Tibete (ICT, na sigla em inglês) disse à Lusa que o Tibete foi prejudicado com a recente “guerra comercial” entre a China e os Estados Unidos. A organização alerta que a violência e opressão contra o povo do Tibete, na China, tem-se mantido ao longo dos 60 anos, que se celebram hoje, desde a rebelião contra Pequim.

O presidente da ICT, Matteo Mecacci, afirma à Lusa que a China continua a desrespeitar o Ato de Acesso Recíproco ao Tibete assinado com os EUA em 2018, negando o livre acesso de cidadãos norte-americanos à região do Tibete, que agora se vê também isolada devido às medidas de segurança tomadas pela China na celebração do aniversário da Revolta Tibetana de 1959.

A organização explica que a China não autoriza diplomatas, jornalistas e turistas norte-americanos a terem livre acesso ao Tibete, ao contrário dos cidadãos chineses que podem entrar livremente nos EUA, mediante a obtenção de um visto.

O Ato de Acesso Recíproco ao Tibete aponta “que a China abra o Tibete ao mundo exterior” e a “requer que a Secretaria de Estado dos EUA negue vistos a funcionários do Estado da China responsáveis por manter norte-americanos fora do Tibete”, explica o presidente da organização e antigo membro da Câmara de Deputados de Itália. Para a ICT, a China está a desrespeitar os pedidos de “reciprocidade” vindos da administração do Presidente dos EUA, Donald Trump, e do Congresso norte-americano, nas questões comerciais.

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“De facto, a China fechou completamente a Região Autónoma do Tibete aos estrangeiros até abril, à luz dos aniversários delicados deste mês, tal como faz todos os anos por esta altura”, escreveu Matteo Mecacci, em referência ao 60.º aniversário da Revolta Tibetana e do exílio do líder espiritual do Tibete, Dalai Lama. “O acesso ao Tibete para estrangeiros é estritamente vetado e praticamente impossível”, referiu Matteo Mecacci.

A ICT, com escritórios em Washington, Amesterdão, Berlim e Bruxelas, presta auxílio às comunidades tibetanas através de programs e várias iniciativas para promover visões da democracia e independência ou autonomia defendidas por Dalai Lama. O programa do ICT consiste em encontros de grupos de voluntários, fundos de patrocínio para artistas, defensores dos direitos humanos e plataformas media, intercâmbios de cidadãos tibetanos em órgãos da política da União Europeia e dos Estados Unidos da América.

A organização alerta para a situação de opressão e violência contra o povo do Tibete, que se tem vivido desde a Revolta Tibetana, em 1959, com um espaço cada vez mais reduzido, segundo a organização, para a preservação e promoção da cultura, religião e herança tradicional. O presidente da ICT, Matteo Mecacci, afirma que “para os tibetanos, é muito perigoso expressarem a sua identidade ou tentar promovê-la em qualquer sentido significativo, já para não falar de expressar qualquer descontentamento ou queixa sobre as políticas da China”.

“Os tibetanos vivem numa prisão a céu aberto”, acusa o responsável, dando como exemplos a constante vigilância aos mosteiros no Tibete e a monitorização de todas as comunicações do Tibete para fora, apesar do desenvolvimento da situação material no Tibete na última década. A organização defende que o povo do Tibete se tem mantido “extremamente pacífico” face à opressão chinesa e enfrentando “enormes e constantes violações dos direitos humanos pelas autoridades chinesas”.

Matteo Mecacci indica ainda a listagem da organização independente de direitos humanos Freedom House, onde o Tibete é a região menos livre do mundo, a seguir à Síria e “ainda pior do que a Coreia do Norte”. Por fim, a organização apela para que o Governo chinês negoceie diretamente com representantes do líder Dalai Lama, como única forma para trazer estabilidade ao Tibete.