Foi de noite no Qatar que Miguel Oliveira viu finalmente a luz que tanto ambicionou ao longo de 15 anos de carreira e oito no circuito mundial de Moto GP. Pelo meio, sagrou-se vice-campeão de Moto 3 (2015) e de Moto 2 (2018), tendo ainda uma terceira posição no patamar intermédio em 2017. Agora, aos 24 anos, o piloto português iria fazer a estreia na categoria rainha, ao lado daqueles que mais admirava enquanto fazia o crescimento sustentado até ao escalão mais alto. Este domingo seria o primeiro dia do resto da vida do Falcão da Charneca entre a elite das motos. E ambição não faltava para esse momento histórico.

Livro. Miguel Oliveira, as primeiras sensações no Moto GP e a relação com o ídolo Rossi

“Pensava que conseguiria fazer uma volta rápida melhor na qualificação. Não sei se a posição seria melhor mas o tempo podia ter sido. No final houve alguma confusão, muitos pilotos à frente. Estou desapontado com isso mas feliz com o lugar na sexta linha da grelha. Boa posição para lutar por aquele que é o meu objetivo: os pontos”, comentou no final da qualificação, que terminou com o 17.º melhor tempo, saindo a meio da sexta linha atrás da grande referência de sempre, Valentino Rossi (14.º).

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Mais uma vez, à semelhança do que aconteceu ao longo da pré-temporada e nos primeiros dias no Qatar, Miguel Oliveira voltou a ser melhor do que o companheiro de equipa da Tech3, o malaio Hafizh Syahrin (22.º), e ficou à frente de outro piloto da KTM, neste caso o francês Johann Zarco (21.º), que teve quedas e muitas dificuldades com a moto. Só mesmo o espanhol Pol Espargaró conseguiu outro resultado, saindo da 16.ª posição com quatro décimas a menos. Dentro da competitividade externa que existe no mundo do Moto GP, havia também esta espécie de “competição” interna onde o português saiu a ganhar. No entanto, e como se percebeu na qualificação e no warm up este domingo, a corrida ia ser um verdadeiro carrossel de emoções.

Miguel Oliveira parte do 17.º lugar para a corrida de estreia em MotoGP

De forma algo surpreendente atendendo aos primeiros dias de testes, Maverick Viñales (Yamaha) conseguiu a pole position, à frente de Andrea Dovizioso (Ducati) e Marc Márquez (Honda). No warm up, que voltou a contar com o pentacampeão e com Viñales entre os melhores, houve outra moto da Ducati (Danilo Petrucci) e também uma da Suzuki (Álex Rins). Nos pilotos e nas marcas, esta estreia da temporada de 2019 estava a ser recebida com grande expetativa. E a primeira corrida não defraudou essas ambições, com muitas alternâncias entre os primeiros classificados ao longo de quase toda a corrida.

Miguel Oliveira não teve propriamente o melhor arranque, saindo de forma segura para evitar algum toque que lhe pudesse vir a comprometer o resto da corrida após uma passagem pela box que o colocou na cauda do pelotão, mas rapidamente chegou a 16.º, saltando para a frente do italiano Andrea Iannone. Ainda assim, o grande momento do português estaria guardado logo para a quinta volta, quando passou o espanhol Pol Espargaró e subiu à 13.ª posição como o melhor piloto da KTM em pista. Lá na frente, Andrea Dovizioso continuava na liderança, com Jack Miller a não aproveitar a grande saída por causa dos problemas com a moto e com Marc Márquez a discutir o segundo lugar com Álex Rins até o jovem piloto espanhol da Suzuki passar para a primeira posição. Joan Mir, o rookie da Suzuki, continuava a aproximar-se da frente, a par da Ducati de Danilo Petrucci.

Durante várias voltas, Miguel Oliveira foi-se familiarizando com o Moto GP. Literalmente. Estava à frente de Pol Espargaró, também ele da KTM, e tinha logo ali no 12.º lugar a Aprilia Aleix Espagaró, irmão mais velho de Pol. A dez voltas do final, a diferença ia sendo mais reduzida e o português estava apenas a quatro décimas do espanhol de 29 anos que, em 147 corridas feitas no Moto GP, conseguiu apenas por uma vez ficar no pódio (no ano passado acabou o campeonato na 17.ª posição). Na frente, Dovizioso voltou a saltar para a liderança, com Márquez e Rins na sua roda e um grupo de perseguidores onde já estava também Valentino Rossi, “Il Dottore” que a seis voltas do final subiu ao sétimo posto.

Foi também nessa altura que uma volta menos conseguida acabou por atirar Miguel Oliveira para a 14.ª posição, tendo à sua frente os irmãos Espargaró e Iannone. O português acusou essa quebra e, pouco depois, desceria mais um posto, desta vez por troca com o francês Johann Zarco, também ele da KTM. Atrás dele, o piloto que mais problemas teve este fim de semana no Qatar: Jorge Lorenzo. O antigo tricampeão mundial pela Yamaha que trocou este ano a Ducati pela Honda para mudar o rumo recente da carreira conseguiu ainda passar Oliveira, que terminou em 17.º após perder mais um posto na última volta para o francês Fabio Quartararo, que não esteve na saída devido a problemas com a moto que lhe comprometeram a corrida.

Na frente, e com a disputa a prolongar-se até à última curva, Andrea Dovizioso conseguiu segurar o primeiro lugar após o forte ataque de Marc Márquez. Cal Crutchlow, aproveitando uma curva com trajetória mais larga de Álex Rins, garantiu o último lugar do pódio. Numa grande recuperação, Valentino Rossi conseguiu ainda chegar à quinta posição.