O jogo do Sporting deste sábado no estádio do Bessa era especial para Bruno Fernandes, como serão todos os que vier a disputar daqui para a frente naquele estádio. Formado nas escolas de futebol do Boavista, de onde saiu ainda júnior rumo ao clube da Serie B italiana Novara, o médio internacional português faz questão de afirmar de tempos a tempos a gratidão que tem com quem o formou “como homem e jogador”, como fez questão de dizer novamente na véspera de mais um jogo.

Nas suas contas oficiais nas redes sociais, o médio — capitão do Sporting desde a saída do extremo Nani para a Major League Soccer norte-americana — fez uma espécie de 10 years challenge, recordando a época em que tinha o cabelo mais longo. “É dia de voltar àquela que foi a minha casa durante anos, dia de defrontar o clube que me formou como homem e jogador, que me permitiu hoje estar a representar um clube com a grandeza do Sporting Clube de Portugal! Estarei sempre grato ao Boavista Futebol Clube e o Bessa será para sempre a minha casa”, escreveu.

Uma década separa estas duas fotos onde o cabelo diminui mas os sonhos aumentaram ! ?Amanhã é dia de voltar àquela que…

Posted by Bruno Fernandes on Friday, March 8, 2019

No estádio do Bessa, Bruno Fernandes jogou os primeiros 45 minutos com discrição. Tentava pedir a bola ao médio-defensivo Gudelj e aos centrais, tentava desmarcar-se para a receber entre a defesa e o meio-campo do Boavista, mas raramente conseguiu passes de encher o olho, raramente conseguiu libertar-se da marcação e acelerar rumo à baliza de Rafael Bracali, raramente conseguiu lances com “nota artística”, como costumava dizer o seu anterior treinador Jorge Jesus.

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Os métodos de jogo do Sporting na primeira parte também pouco o beneficiaram, dado que a estratégia passava claramente por tentar combinações nos corredores laterais, entre os extremos e laterais: foi aliás assim que o Sporting chegou ao 1-1 na primeira parte, num lance que começou com um passe vertical do lateral-direito Stefan Ristovski para o extremo Raphinha, que ganhou o 1×1 e cruzou para o defesa Edu Machado fazer um auto-golo já na pequena área.

Marcel Keizer é conhecido por gostar que os seus jogadores utilizem sobretudo o corredor central, já tendo dito inclusivamente numa entrevista que não é fã de uma construção de jogo que passe por passes verticais dos laterais para os extremos à sua frente. No entanto, o Boavista tinha Idris e Obiorah à frente da defesa, no espaço central, porventura para prevenir a notoriedade do médio que Lito Vidigal, treinador dos axadrezados, considerou “o melhor jogador a atuar em Portugal”, na conferência de imprensa de antevisão ao jogo.

Bruno Fernandes no regresso à “casa” do Bessa, o estádio do Boavista, em cujas escolas de formação jogou até rumar a Itália

Ao intervalo, o cenário não se afigurava promissor nem para o Sporting — empatado a uma bola, sem margem de erro depois da vitória do Sporting de Braga ao Vitória de Guimarães durante a tarde — nem para Bruno Fernandes. Foi quando o médio começou a aparecer mais em jogo, contudo, que os leões cresceram na partida. Na segunda parte, Bruno Fernandes tentou de tudo: remates fora de área (houve-os também disparatados e a terminar muito longe da baliza do Boavista, como um disparo aos 57′ sem grande sentido), remates à entrada da área e sobretudo um pontapé acrobático que fez Bracalli voar para uma grande defesa, daquelas que vão para os álbuns de fotografia e para as compilações de vídeo dos guarda-redes.

[O lance acrobático de Bruno Fernandes pode ser visto aos 0:43:]

A bola não entrava de maneira nenhuma e Bruno Fernandes esteve quase a sair do estádio do Bessa com um empate que comprometeria ainda mais a já de si tumultuosa época do Sporting, afastado da luta pelos primeiros dois lugares no campeonato, afastado da Liga Europa e em desvantagem na Taça de Portugal para o jogo da segunda mão (contra o Benfica, em abril). Tudo mudou quando o árbitro da partida, João Pinheiro, marcou um penálti que deixou algumas dúvidas sobre o extremo do Sporting Raphinha. Sem Bas Dost (lesionado) em campo, não havia dúvidas: a bola era do médio. Bruno Fernandes agarrou-a, colocou-a na marca de grande penalidade, fez uma “paradinha” e selou o resultado com classe, vendo Bracalli atirar-se para o seu lado esquerda e a bola entrar no seu lado direito.

No final, Bruno Fernandes acabou a confraternizar com os adeptos boavisteiros nas bancadas, sem aparente preocupação de segurança. Afinal, como tinha recordado na véspera, aquela é também a sua casa. Foi no Bessa, este sábado, que Bruno Fernandes aumentou de 23 para 24 o número de golos nesta temporada, que só termina daqui a dois meses. O recorde de médios com mais golos numa temporada ao serviço do Sporting já estava batido. Agora, Bruno Fernandes corre contra si mesmo, rivaliza com o seu próprio histórico.

Bruno Fernandes e um recorde que fica bem na fotografia: médio bate registo de golos de Oliveira