Não é habitual um treinador de um clube que precisa de ganhar só fazer a primeira substituição aos 78 minutos, quando o jogo está empatado desde os 17’. Apesar da aparente estranheza, a decisão foi mais compreensível do que parece à primeira vista: o período entre os 60 e os 75 minutos foi um dos melhores do Sporting no jogo deste sábado no estádio do Bessa, que culminou numa vitória por 1-2 dos leões só consumada em período de descontos.

Marcel Keizer no estádio do Bessa, este sábado (@ Ivan Del Val/Global Imagens)

Foi entre os 60 e os 75 minutos que Bruno Fernandes rodou na esquerda e rematou de primeira para boa defesa de Bracalli. Foi também nesse intervalo de tempo que Bruno Fernandes cruzou para o defesa-central Coates cabecear a rasar o poste. O Sporting insistia e o lateral-direito Ristovski cruzava com perigo para aérea sem que Raphinha e Luiz Phellype conseguissem chegar a tempo de desviar para golo. Logo a seguir, um minuto depois, naquele que foi provavelmente o melhor lance do jogo, Coates encarnou em médio-ofensivo, driblou adversários, entregou ao extremo brasileiro Raphinha e viu Bruno Fernandes aproveitar um ressalto e fazer um pontapé de bicicleta artístico para uma grande defesa de Bracalli.

O que o Sporting não conseguiu fazer no estádio do Bessa de bola corrida, em livres e cantos, graças à pouca inspiração dos seus elementos adiantados e graças à organização defensiva do Boavista, conseguiu já depois os 90’. João Pinheiro viu um braço sobre o corpo de Raphinha no interior da área, assinalou um pénalti duvidoso que justificará muitas horas de discussão e Bruno Fernandes agarrou na bola e colocou-a na marca da grande penalidade. Com a “paradinha” já típica dos seus penáltis, disparou: bola para um lado, guarda-redes para o outro, 1-2.

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No banco de suplentes, Keizer terá respirado de alívio. O holandês acabou a justificar a ausência de substituições até aos 78′ na zona de entrevistas rápidas dizendo que “o ritmo do jogo estava bom” para o Sporting e que “não fazia sentido fazer substituição naquela altura”. Marcel Keizer constatou que “nos jogos fora é mais difícil marcar”, repetiu mais uma vez (di-lo há várias semanas) que o objetivo é “melhorar” e afastou qualquer pressão resultante da vitória do Sporting de Braga (que tem mais três pontos) ao Vitória de Guimarães. O importante, disse Keizer, é “jogar bem e vencer os nossos jogos”. É meia verdade: o treinador holandês sabe que o Sporting não tinha margem de manobra este sábado no estádio do Bessa. Disse sair satisfeito com “a maior parte do tempo” de jogo, mas o Sporting tem de fazer mais durante os 90 minutos se quer ultrapassar os bracarenses. Até porque apesar do Sporting ter tido mais de 70% de posse de bola e ter feito mais de 20 remates, só quatro foram enquadrados com a baliza de Rafael Bracalli.

Um início “a frio”

O suspiro de alívio no final do jogo contrastou com um início atribulado, mais um em partidas recentes do Sporting. Pela terceira vez desde o jogo com o Sporting de Braga a 23 de janeiro, o Sporting sofreu um golo nos primeiros três minutos da partida. Na sequência de um livre indireto, os jogadores do Boavista ganharam por duas vezes a disputa de bola aérea e o esférico acabou a sobrar para o central boavisteiro Neris, que de primeira desviou para o fundo da baliza.

Depois de sofrer o primeiro golo, o Sporting acelerou. Se Wendel nunca se libertou inteiramente no último terço (Gudelj menos ainda) e Bruno Fernandes teve uma primeira parte apagada por comparação com o que tem habituado os adeptos, os corredores laterais foram a grande arma de ataque. Os laterais Ristovski e Borja subiram muito no terreno e exploraram os espaços vazios, juntando-se aos extremos — mais acutilante Raphinha, no lado direito, do que Acuña, na esquerda — nos desequilíbrios ofensivos.

Foi precisamente pelos corredores laterais que o Sporting chegou ao empate, num lance que começou com Ristovski a adiantar a bola para Raphinha na direita. O brasileiro tinha apenas um adversário do Boavista pela frente e foi avançando, aproveitando este não ter cobertura nas suas costas e não poder sair de posição. Raphinha acabou por cruzar para a pequena área e, na tentativa de evitar o golo, o defesa do Boavista Edu Machado colocou a bola na própria baliza.

Jeremy Mathieu na partida de este sábado no estádio do Bessa (Ivan Del Val/Global Imagens)

Do golo da igualdade em diante, o Boavista preferiu recuar. Deixou o Sporting ter a bola, tentou proteger sobretudo a sua área e lançar contra-ataques rápidos quando recuperava a bola, mas chegou a ter por diversas vezes todos os jogadores no seu meio-campo a defender. Depois de dois sinais de perigo aos 24’ e 25’ — primeiro Luiz Phellype falhou uma oportunidade clamorosa de golo quase em cima da linha de baliza, depois Raphinha marcou mesmo mas estava em fora-de-jogo —, o Boavista tentou equilibrar o jogo e até ao intervalo só um cabeceamento de Coates após livre de Acuña causou calafrios ao guarda-redes Bracalli.

Os axadrezados até entraram bem para a segunda parte, conseguindo que o Sporting não causasse qualquer sinal de perigo até aos 62’. Quando se começava já a pensar em substituições de Marcel Keizer (que tinha Diaby e Jovane Cabral no banco), os leões aceleraram e cresceram no jogo, acompanhando o ritmo de um Bruno Fernandes que se agigantou no segundo tempo. Do lado do Boavista, os grandes destaques eram o guarda-redes Bracalli, que respondeu à altura aos remates do médio leonino que selou o resultado, e o estreante Gustavo Sauer, que mesmo com a cabeça partida após uma disputa de bola com Gudelj, causou enxaquecas ao último reduto do Sporting.

No regresso a casa, o que Bruno não fez de bicicleta, fez de penálti

Apesar de alguns sinais de perigo e de muita posse de bola, o Sporting parecia não conseguir desfazer o seu nulo e desfazer a muralha axadrezada. Parecia estar condenado ao empate. Conseguiu a reviravolta, no entanto, já em tempo de descontos, de penálti. O Boavista ainda se abeirou da área de Renan Ribeiro depois do 1-2, mas o resultava estava selado. Os leões mantêm o quatro lugar e continuam a uma distância de três pontos do terceiro classificado, o Sporting de Braga. Na frente seguem Benfica e F. C. Porto.