Na fase de testes, quem as via por Lisboa reparava no autocolante que dizia “this not a scooter” (isto não é uma trotinete). Agora, o mistério foi desvendado e estes veículos já têm nome: Flash. A partir desta terça-feira, há mais uma empresa de trotinetes elétricas a operar em Lisboa, com mais de 200 veículos espalhados pela cidade.

A Flash, uma startup de micromobilidade de origem alemã, traz algumas diferenças nos veículos em relação às restantes empresas que já operam na capital portuguesa: tem suspensões reforçadas, travões duplos, leds de sinalização, rodas maiores e suspensão aérea que vai permitir uma viagem mais suave. Tudo porque foi a primeira empresa a criar o seu próprio modelo de trotinetes, que diz estar mais preparado para andar pelas ruas portuguesas. Além destas características, os veículos também têm um suporte para o copo e carregador USB para o telemóvel.

Felix Petersen, diretor-geral para Portugal, explicou ao Observador que a decisão de começar primeiro em Faro e depois chegar a Lisboa serviu como um teste: “Queríamos estar prontos para ter a atitude correta em Lisboa, que tem alguns desafios [em termos de mobilidade]. Era aqui que queríamos mesmo começar com este modelo”.

Achamos que uma das razões para o preço das trotinetes que vemos hoje é que estes veículos não são muito consistentes nem são feitos para muito uso. Por isso, otimizamos as nossas trotinetes para dois usos: para a economia dos veículos, pois duram mais e podemos repará-los, e também para as pessoas sentirem que estas trotinetes são efetivamente seguras e optarem por estas e não por outras”, acrescentou Felix Petersen.

A Flash foi a primeira empresa a criar o seu próprio modelo de trotinetes

Há outra característica que diferencia a Flash e que vai ao encontro das novas regras que a Câmara Municipal de Lisboa planeia introduzir: nesta app, os utilizadores podem ver quais são os pontos de estacionamento mais indicados para poderem deixar as trotinetes. Este tipo de mobilidade, recorde-se, é caracterizado por ser “dockless”, ou seja, o utilizador pode estacionar a trotinete em praticamente qualquer parte da cidade. No entanto, nos últimos tempos a discussão em torno da regulação e da má utilização destes veículos tem obrigado as empresas a debaterem outras alternativas.

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Como forma de incentivo a seguir as regras, a Flash desconta 0,50 cêntimos no preço de desbloqueio para os utilizadores que estacionarem corretamente num dos hotspots espalhados pela cidade. FelixPetersen explicou que a conversa com a Câmara Municipal de Lisboa tem sido “constante, como todos os outros operadores”, acrescentando que o facto de mostrarem os locais onde estacionar é “a mínima coisa responsável” que as empresas devem fazer.

https://observador.pt/videos/atualidade/perdido-com-as-trotinetes-arrumamos-as-duvidas-num-desenho/?fbclid=IwAR33Wz2A5KOM3t6w8n4upy-6haP4_gsl_TcM-BUtE5UC7tkI_cmk0qRC_-A

Além disso, haverá uma equipa da Flash nas ruas que vai assegurar, diariamente, “o carregamento das baterias, a verificação da segurança das trotinetes, o seu correto estacionamento e a sua colocação nas zonas de estacionamento estabelecidas”, referiu a empresa em comunicado.

É para nós um orgulho poder começar a operar em Lisboa com as condições que consideramos essenciais para um upgrade do mercado. Estou certo de que os aspetos diferenciadores do posicionamento da Flash e que a qualidade dos nossos modelos vão tornar o mercado mais exigente e mais dinâmico”, sublinhou Felix Petersen, diretor-geral para Portugal, citado em comunicado.

Em relação aos preços, a Flash segue o exemplo praticado pela concorrência, cobrando um euro para desbloquear a trotinete e 0,15 cêntimos por minuto. Para conseguir uma trotinete, o utilizador precisa de fazer download da app da Flash. De seguida, surge um mapa com os locais onde os veículos estão disponíveis, tendo o utilizador que utilizar um QR code para desbloquear o veículo. No final da viagem, o preço é descontado da conta do utilizador, ou seja, não precisa de ter um montante carregado antes.

Fundada em 2018, a Flash recebeu recentemente uma ronda de financiamento série A no valor de 55 milhões de euros para expandir o seu mercado. A startup alemã já está presente em Faro – com cerca de 100 trotinetes –, em Espanha, na Suíça e em França. Com a chegada a Lisboa, a empresa vai ter como concorrentes a Lime, a Voi, a Hive, a Tier e a Bungo.

Felix Petersen é o diretor-geral da Flash para Portugal

“A micromobilidade é facilmente um dos grandes mercados no mundo”

Com tantas empresas a entrarem na cidade com as suas trotinetes, não está o mercado a ficar “inundado”? O diretor-geral da Flash para Portugal responde que não, que “onde cabe um carro cabem 20 ou 30 trotinetes” e que “ainda não temos suficientes”, mas tudo depende da forma responsável como se dá a entrada destes veículos. “Claro que há uma reação. Se olhar à minha volta, vejo demasiados carros, não vejo demasiadas trotinetes. Penso que precisamos de encontrar regras e resolver a questão do estacionamento. Há muitas coisas que precisamos de resolver, mas já não podemos voltar atrás. Está a acontecer e as pessoas querem e usam”, sublinha Felix Petersen. A solução, explica, passa por um trabalho em conjunto entre operadores e a cidade.

A micromobilidade é facilmente um dos grandes mercados no mundo. Eu comparo sempre o surgimento deste mercado com o iPhone: quando usamos o iPhone pela primeira vez, sentimos que isto seria como os smartphones iriam ser no futuro. E quanto utilizamos uma trotinete elétrica, percebemos que isto é como vamos andar pela cidade no futuro”, explicou o diretor-geral para Portugal.

O responsável da Flash considera ainda que a segurança depende de três componentes: a responsabilidade dos operadores, do utilizadores e a infraestrutura que a torna segura. “A nossa visão é que daqui a 20 anos vamos ter subscrições para a mobilidade, tal como existe nos telemóveis, e escolhemos o veículo mais correto, na altura correta, independentemente do que vamos fazer”.

(Artigo atualizado às 15h36 com mais informações)