O Partido da Renovação Social (PRS) avisou esta terça-feira que nenhum dos 21 partidos concorrentes às eleições legislativas de domingo na Guiné-Bissau, atingiu 40 deputados, contestando a reivindicação de vitória por parte da maior formação partidária do país.

Em conferência de imprensa, o porta-voz do PRS, Victor Pereira, afirmou que o anúncio de vitória por parte do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), alegando uma “maioria folgada” de votos, “são falsas e visam semear confusão” entre os guineenses.

Pereira considerou “pouco sensato” pronunciar-se sobre os resultados eleitorais, enquanto assim não o fizer a Comissão Nacional de Eleições (CNE), mas afirmou que, de acordo com as atas sínteses da votação, tudo aponta para que não haja maioria de nenhum partido.

No entanto, Victor Pereira vê nos resultados eleitorais uma perda de confiança do eleitorado no PAIGC.

“Isso mesmo ficou claro no tom da declaração que o PAIGC emitiu nesta segunda-feira”, disse Pereira, referindo-se a uma conferência de imprensa proferida pelo porta-voz, João Bernardo Vieira, em que o partido reivindica ter alcançado a maioria de votos que lhe dão o direito de governar.

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No entender do PRS, a votação de domingo demonstrou que o povo guineense não deu confiança a que nenhum dos partidos governe sozinho e que tudo terá que passar pelos arranjos no parlamento.

Victor Pereira exortou ainda os partidos para que se abstenham de declarar os resultados eleitorais, lembrando que apenas essa responsabilidade cabe apenas à CNE.

A CNE deve divulgar na quarta-feira os resultados oficiais provisórios das eleições de domingo. O parlamento guineense conta com 102 deputados.

CPLP espera que ato “sereno” seja sinal de estabilidade futura

Também esta terça-feira, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) saudou o civismo dos guineenses nas eleições de domingo, esperando que isso seja um sinal para a estabilidade do país, que nos últimos quatro anos viveu num bloqueio político.

“O civismo e serenidade” com que a população da Guiné-Bissau exerceu o seu direito de voto “constitui um importante contributo à boa governação, à estabilidade e ao desenvolvimento económico e social, bem como para o reforço da democracia e do estado de direito no país”, refere a CPLP, numa declaração preliminar hoje divulgada.

Segundo os observadores da CPLP, as mesas de voto “funcionaram de forma ordeira e pacífica”, com o cumprimento das condições técnicas, como a presença de delegados de partidos políticos e outros observadores do processo.

“A proximidade cultural e linguística permitiu aos observadores da CPLP um ponto de vista privilegiado, propiciando a compreensão do sentimento, da civilidade, do respeito e das expectativas do povo guineense, que desempenhou de modo exemplar o seu direito à participação no processo democrático”, salienta a organização, que tem a Guiné-Bissau como um dos seus membros.

“Com base no trabalho que desenvolveu, a missão da CPLP considera que as eleições legislativas, do dia 10 de março de 2019, decorreram em consonância com as práticas internacionais de referência, no respeito pelos princípios democráticos e direitos políticos consagrados na Constituição da República da Guiné-Bissau e de acordo a lei eleitoral do país”, pode ler-se no comunicado.

“Numa democracia, os resultados eleitorais são sempre base necessária da normalidade institucional”, alertam os observadores.

A missão, que contou com 18 observadores e foi chefiada pelo diplomata brasileiro Luiz Eduardo Villarinho Pedroso, organizou-se em sete equipas de vigilância que cobriram as regiões de Bafatá, Cacheu, Biombo, Bissau, Gabu e Oio.

“A missão não encontrou qualquer impedimento ao normal exercício da sua atividade, tendo observado, no dia das eleições, um total de 131 mesas de voto, o que corresponde a um número de 47.500 eleitores inscritos, equivalente a 6% do total nacional”, explicam os observadores.

Além da CPLP, a Comunidade Económica dos Estados de África Ocidental (CEDEAO) e a União Africana (UA) mandaram equipas de observadores a Bissau para acompanhar as eleições.

Todas as organizações concordaram em considerar as eleições um sucesso operacional e não deram relevo às queixas de irregularidades feitas por partidos políticos, entre os quais o facto de muitos guineenses terem cartão de eleitor mas não terem o nome inscrito nos cadernos eleitorais informatizados, um problema técnico que fora referenciado.