A audição do ex-chefe dos serviços de informações Júlio Pereira na comissão de inquérito a Tancos revelou esta terça feira que ‘secretas’ estrangeiras partilharam uma lista de armamento pretendido por organizações criminosas e que coincide com material furtado.

Já no final da audição, tanto o PSD como o CDS-PP levantaram a questão da “lista de compras”, como era conhecida a lista fornecida por serviços estrangeiros quanto a material que organizações criminosas estrangeiras estariam interessadas em comprar, incluindo em Portugal, e que foi mencionada numa reunião da Unidade de Coordenação Antiterrorista (UCAT), após o furto de Tancos, em 2017.

Na reunião da comissão parlamentar de inquérito ao furto de Tancos, esta tarde, dois deputados, Telmo Correia (CDS-PP) e Matos Rosa (PSD), referiram-se a essa lista, que, por sua vez, consta numa ata da reunião da UCAT, de 30 de junho de 2017, como tendo sido mencionada pelo diretor adjunto do Serviço de Informações de Segurança (SIS).

Na resposta, mesmo no fim da reunião, Júlio Pereira, antigo secretário-geral do Sistema de Informações de Segurança da República Portuguesa (SIRP), afirmou apenas: “Escapou-me.”

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“Era uma lista que batia com a lista do material roubado”, insistiu Matos Rosa, ouvindo de resposta de Júlio Pereira que “o SIS não tinha conhecimento dessa lista”.

“De que eu tenha conhecimento”, sublinhou Júlio Pereira.

Júlio Pereira aponta erro a militares na reação ao furto de Tancos

Na mesma comissão parlamentar, o ex-secretário-geral dos serviços de informações portugueses Júlio Pereira apontou hoje, indiretamente, um erro aos militares pela forma como reagiram ao furto de Tancos, afirmando que deveriam, primeiro, ter avisado as forças policiais e as “secretas”.

Questionado pelo CDS, sobre a reação das autoridades militares e o que se seguiu ao furto, Júlio Pereira respondeu o que teria feito se estivesse no lugar dos militares.

“Se estivesse na situação dos militares quando aconteceu isto em Tancos, a primeira coisa que faria era dar conhecimento aos serviços de informações e às polícias. Até porque, quando esse equipamento estava a ser movimentado, talvez houvesse ainda a possibilidade de detetar alguma coisa relacionada com o furto. Não foi isso que aconteceu”, afirmou.

Noutra parte da audição, o antigo secretário-geral do SIRP (Sistema de Informações da República Portuguesa) já havia dito que os responsáveis militares deveriam ter alertado as forças de segurança e serviços de informações, “em vez de inventariar” o material nos paióis.

Após o furto e o alerta que recebeu via Serviço de Informações de Segurança (SIS), que por sua vez soube através da comunicação social, os serviços fizeram o que estava previsto: acionar “as fontes” que têm no país para tentar obter mais alguma informação e alertar os “serviços congéneres”.

De resto, Júlio Pereira, juiz conselheiro do Supremo desde que saiu do SIRP, em novembro de 2017, insistiu na tese de que foi uma boa opção os serviços não terem alterado o estado de alerta do país após o furto, mantendo-se em moderado.