Um dos fundadores do Teatro Moderno de Lisboa, Armando Caldas, morreu na quarta-feira, 13 de março de 2019. Com 84 anos, o ator, encenador e militante do Partido Comunista Português tinha dedicado “toda a sua vida à promoção e divulgação de um Teatro política e socialmente interveniente”, nas palavras do Museu do Teatro em 2008, quando homenageou Armando Caldas.

O corpo de Armando Caldas está em câmara ardente no Mosteiro do Jerónimo até às 15:45 de quinta-feira. O ator e encenador será depois levado para o cemitério de Barcarena (Oeira), para o funeral e cremação.

Natural de Elvas, Armando Caldas estreou-se como ator em Lisboa, no Teatro Avenida, em 1958 (com a peça “O Mentiroso”, de Carlo Goldoni). À época era já militante do PCP (desde 1956), o que garantiria aos seus espetáculos futuros um controlo apertado por parte da PIDE. A censura do Estado Novo cortava regularmente secções significativas dos textos que trazia à cena. Foi ainda membro dos órgãos sociais do Sindicato dos Trabalhadores do Espectáculo durante vários anos.

O Teatro Moderno foi a companhia pioneira do teatro independente em Portugal, trabalhando a partir do Cinema Império. Armando Calas fundou o grupo em 1961, com Rogério Paulo, Armando Cortez, Carmen Dolores e Fernando Gusmão. Mais tarde, estaria também na fundação do Primeiro Acto – Clube de Teatro de Algés (1969) e da companhia o Intervalo, no mesmo ano.

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(Arquivo pessoal de Armando Caldas)

Armando Caldas colaborou também com o Teatro de Sempre (1958 e 1959), o Teatro Nacional Popular (1959 e 1960), e o Grupo 4, na década de 1970. Como ator destacou-se em peças incluindo “Gebo e a Sombra”, de Raul Brandão, “Seis Personagens em Busca de Autor”, de Luigi Pirandello e “Doze Homens em Fúria”, de Reginald Rose (texto teátrico que daria origem ao filme com o mesmo nome, realizado por Sidney Lumet em 1957).

Encenou textos como “Antígona”, de Sófocles, “A Gaivota”, de Anton Tchekhov, e “Ratos e Homens”, baseado em John Steinbeck. Em 1965 foi responsável pela peça final do Teatro Moderno: “Render dos Heróis”, de José Cardoso Pires. Deixou o teatro em 2016, tendo permanecido como residente na companhia Intervalo durante 50 anos.

Como escritor, adaptou para teatro ” Tres sombreros de copa”, de Miguel Mihura, e “O Inspector Geral”, de Gogol. Produziu ainda originais como “Biografia Teatralizada de Tchekhov”, “Chico Fantocheiro” ou a “História do Senhor da Barriga Cheia”.

Em televisão, representou em”A Dama das Camélias” com Eunice Muñoz e Ruy de Carvalho e em “O Ausente”, na RTP. Participou ainda, em 1989, em “Pedro, o Cruel”, uma produção espanhola.

Morreu mais um bom colega e amigo – o Armando Caldas. Hoje irá para o Mosteiro dos Jerónimos a partir das 16h. Adeus querido Amigo e Camarada

Posted by Fernanda Lapa on Wednesday, March 13, 2019

Figuras do teatro português como Fernanda Lapa e Jorge Silva Melo já mostraram publicamente o seu pesar com mensagens nas redes sociais.