O curador Pedro Cabrita Reis sublinhou esta terça-feira a “riqueza extraordinária” das obras de 60 mulheres artistas reunidas na exposição “A metade do céu”, e o seu contributo para o debate “urgente” da condição da mulher na sociedade contemporânea.

Cabrita Reis recebeu um convite da Fundação Arpad Szenes – Maria Helena Vieira da Silva para criar uma exposição com o objetivo de festejar os 25 anos da abertura do museu que acolhe e divulga a obra do casal de artistas, em Lisboa.

“Foi-me dada toda a liberdade para escolher o que achasse oportuno”, disse o artista plástico, em declarações à agência Lusa, acrescentando que a sua opção está relacionada com a “casa da Vieira da Silva, e o Ano Internacional da Mulher”.

A exposição – com peças em desenho, pintura, escultura, instalação, fotografia e o vídeo – será inaugurada na quinta-feira, às 18h30, e ficará patente até 23 de junho.

Há uma atenção redobrada aos debates da condição da mulher na sociedade contemporânea, e pareceu-me oportuno fazer uma exposição estrita e exclusivamente baseada em artistas e obras de mulheres”, justificou o artista.

Pedro Cabrita Reis selecionou obras com um trajeto temporal que vem desde o Barroco, com Josefa de Óbidos, até à atualidade, usando também obras em acervo de Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992) que não são mostradas habitualmente.

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“Este conjunto de 60 autoras tem na sua interação formal, conceptual, política, plástica e estética, uma riqueza extraordinária, e é, seguramente, um contributo muito particular, único, através das artes plásticas, ao debate que no momento é urgente e imperioso, parte de muitas plataformas diferentes e passa também pela Vieira da Silva”, sustentou o curador.

Paula Rego, Helena Almeida, Lourdes Castro, Menez e Graça Morais, Ana Hatherly, Adriana Molder, Filipa César, Ana Jotta, Joana Vasconcelos, Ângela Ferreira, Fernanda Fragateiro, Graça Costa Cabral, Leonor Antunes, Sofia Areal e Clara Menéres são algumas das artistas representadas nesta mostra.

Questionado pela agência Lusa sobre se esta exposição tem alguma ligação ao atual debate sobre as questões de género, e se considera que as mulheres artistas têm falta de visibilidade, Pedro Cabrita Reis descartou totalmente a ideia.

Não quero participar nesse debate, porque é de índole política e sociológica. É um debate de agenda que não me motiva na construção desta exposição. Já disse isso várias vezes, com as inevitáveis ondas de choque que criei”, disse o artista.

Para Pedro Cabrita Reis, artista e curador nascido em Lisboa em 1956, “a visibilidade dos artistas não se prende com nada que não seja a sua criatividade e a forma como veem o mundo”.

“Todos os artistas têm uma visibilidade própria e um território seu, sejam femininos, masculinos, católicos, judeus, muçulmanos, brancos, negros. A única coisa que interessa é a obra, e a forma como ajuda a conhecer melhor a nós, e ao mundo em que vivemos”, defendeu o curador.

Cabrita Reis apontou que escolher as obras das 60 criadoras foi interessante, ao pensar nelas numa trajetória que as apresenta em forma de “conversa umas com as outras”, e espalhadas por todo o edifício do museu, “com abertura a muitas possibilidades”.

A ideia não era apenas olhar para a obra de Vieira da Silva, mas, “por ser uma ocasião única, expandir para um projeto transversal que olha para as obras de outras artistas portuguesas para celebrar a obra dela“, descreveu Pedro Cabrita Reis cuja obra também é reconhecida internacionalmente.

O catálogo que será editado no âmbito da exposição terá textos das historiadoras de arte Raquel Henriques da Silva e Carolina Machado.

O curador convidado pela Fundação Arpad Szenes — Vieira da Silva foi buscar o título a uma expressão atribuída ao líder chinês Mao Tsé-Tung, segundo o qual toda e qualquer mulher sustenta “A metade do céu”.

Ana Isabel Miranda Rodrigues, Ana Pérez-Quiroga, Catarina Leitão, Fátima Mendonça, Graça Pereira Coutinho, Luísa Correia Pereira, Patrícia Garrido, Rita GT, Rosa Carvalho, Salomé Lamas, Sara & André, Sara Bichão, Sarah Affonso, Susanne Themlitz, Túlia Saldanha e Vanda Madureira são outras artistas que estarão representadas na exposição.

Criada ainda em vida de Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992), uma das mais importantes pintoras portuguesas, e instituída por decreto-lei em 10 de maio de 1990, a Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva tem como missão garantir a existência de um espaço, em Portugal, onde o público possa contactar permanentemente com a obra do casal de artistas.

O Museu Arpad Szenes – Vieira da Silva foi inaugurado a 3 de novembro de 1994, num edifício da praça das Amoreiras, cedido pela Câmara Municipal de Lisboa, e apresenta regularmente exposições com a obra do casal ou de artistas com os quais tiveram algum tipo de ligação de amizade.

A coleção do museu cobre um vasto período da produção de pintura e desenho do casal: de 1911 a 1985, para Arpad Szenes (1897-1985), e de 1926 a 1986, para Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992).