Os funcionários do Facebook já teriam demonstrado preocupações sobre “práticas impróprias de recolha de dados” por parte da Cambridge Analytica, a empresa de análise de dados britânica que acedeu indevidamente aos dados de 87 milhões de contas, ainda antes do caso ter sido revelado na imprensa pela primeira vez, em dezembro de 2015. Ou seja, antes da data em que o Facebook diz ter sabido do escândalo, tal como admitido pelo fundador e CEO da rede social, Mark Zuckerberg, sob juramento e perante o Senado norte-americano.

Segundo o The Guardian, a informação está presente num processo judicial apresentado pelo gabinete do procurador geral de Washington D.C., que processou o Facebook depois do escândalo. Trata-se de uma troca de emails entre os funcionários da rede social que, em setembro de 2015, discutiam “como a Cambridge Analytica (e outros) violaram as políticas do Facebook”. Mark Zuckerberg, recorde-se, garantiu perante o Senado norte-americano que apenas soube do caso quando foi divulgado pela imprensa, ou seja, em dezembro de 2015.

Estes emails incluem “avaliações de funcionários a que várias aplicações de terceiros acederam e para as quais venderam dados de consumidores, violando as políticas do Facebook durante as eleições presidenciais de 2016 dos Estados Unidos”, de acordo com o processo. Tudo isto, acrescenta, “indica que o Facebook sabia das práticas impróprias de recolha de dados da Cambridge Analytica, meses antes de os órgãos de comunicação informarem sobre o assunto”.

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Em resposta a estas informações, um porta-voz da rede social confirmou ao The Guardian que as preocupações já existiam, mas que estes emails se referiam a um caso diferente de acesso indevido aos dados dos utilizadores. Os funcionários ouviram rumores da recolha de dados pela Cambridge Analytica em setembro de 2015, mas este foi um “incidente diferente” do escândalo com cerca de 87 milhões de contas que foi divulgado três meses depois. “O Facebook não enganou ninguém sobre esta cronologia”, garantiu. 

Em setembro de 2015, os funcionários ouviram especulações de que a Cambridge Analytica estava a utilizar dados, algo que infelizmente é comum em qualquer serviço de Internet”, referiu o porta-voz. “Em dezembro de 2015, soubemos pela primeira vez, através de reportagens da imprensa, que Aleksandr Kogan vendia dados para a Cambridge Analytica e tomamos medidas. Foram duas coisas diferentes”, acrescentou.

“O Facebook não estava ciente da transferência de dados da Kogan/GSR para a Cambridge Analytica até dezembro de 2015, como testemunhamos sob juramento”, garantiu ainda a fonte do Facebook contactada pelo jornal britânico.

O Facebook tem lutado contra a revelação do conteúdo dos emails que estão incluídos no processo, argumentando que esta correspondência pertence a um incidente diferente com a Cambridge Analytica e que deve permanecer em segredo. “O Facebook não divulgou publicamente o documento ou o seu conteúdo e, devido à sua confidencialidade, procurou garantias por parte das agências e entidades governamentais para as quais produziu o documento de que eles também manteriam sua confidencialidade”, escreveu a empresa num comunicado.