David Lipton, primeiro vice-diretor do FMI, afirmou esta segunda-feira que a coesão política em Portugal é uma lição para a Europa e para o mundo e que os resultados salientam a importância da coesão política na resposta às dificuldades económicas.

Sucessivos governos portugueses e o povo português apropriaram-se das reformas necessárias para a recuperação. Os resultados positivos destacam a importância da coesão política na resposta às dificuldades económicas”, afirmou esta segunda-feira David Lipton, primeiro vice-diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI), ao falar no encerramento dos trabalhos da manhã desta segunda-feira da conferência ‘Portugal: reforma e crescimento dentro da zona euro’, no Museu do Dinheiro, em Lisboa

O responsável sublinhou que “o sucesso económico de Portugal foi construído sobre uma base de consenso político num período de crise”.

“À medida que enfrentamos um período de maior incerteza e risco, este país mostrou que existe um caminho a seguir superando as diferenças para fazer face a desafios comuns. Também é uma lição para o resto da Europa — na verdade, do mundo”, frisou o responsável do FMI.

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“Portugal fez progressos notáveis desde o tempo do programa de ajustamento”, afirmou o número dois do FMI, indicando a redução da taxa de desemprego, que atingiu o pico de 16% em 2016, estando agora nos 7%, “o nível mais baixo desde 2004”.

O responsável do FMI frisou também a redução dos juros das obrigações portuguesas, que atingiam os dois dígitos em 2011-2012, estando atualmente o juro das Obrigações do Tesouro a 10 anos em cerca de 1,3%, “o que mostra um progresso notável”, frisou.

“Mas existe espaço para melhorar. A dívida pública continua muito elevada — cerca de 120% do PIB [Produto Interno Bruto] no ano passado, o terceiro mais elevado da zona euro e pouco provavelmente abaixo dos 100% até 2025”, antecipou.

David Lipton salientou também que, “no domínio da política económica, o conflito e a ação unilateral apenas aumentam as vulnerabilidades” e alertou que “países que seguem este caminho, em última análise, terão dificuldade em conseguir níveis mais elevados de crescimento de elevada qualidade”.

Na sua intervenção, o primeiro vice-diretor do FMI enumerou um conjunto de riscos que se colocam à escala global, frisando que o crescimento global abrandou, incluindo na Europa, que as tensões comerciais continuam a penalizar a confiança, salientou as divisões políticas, as divergências económicas dentro da União Europeia, as vagas de migrantes e refugiados e o ‘Brexit’.

“Não estou a dizer que o céu está a cair. Não é isso. De facto, a maioria das previsões, incluindo a nossa, antecipa alguma recuperação na Europa ao longo dos próximos trimestres. Mas enfrentamos riscos e incertezas. E isso significa que todos os países precisam de renovar o seu compromisso com as reformas que vão suportar o crescimento agora e reforçar o crescimento potencial no longo prazo”, sustentou.

Contudo, o responsável alertou que “as ferramentas usadas para combater a crise financeira global podem não estar disponíveis ou não ser tão potentes da próxima vez”.

David Lipton alertou também que o espaço para medidas acomodatícias adicionais de política monetária “certamente será mais restrito”, que os recursos orçamentais podem não estar disponíveis em muitos países e que pode haver maior resistência política aos resgates “porque muitas pessoas sentem que aqueles que provocaram a última crise não assumiram a sua quota parte de culpa no processo de ajustamento”.