Durante simulações que recriaram os problemas do voo da Lion Air — que em outubro caiu no mar de Java, na Indonésia, matando os 189 ocupantes –, os pilotos descobriram que tinham menos de 40 segundos para contornar um sistema automatizado nos novos aviões da Boeing de modo a evitar um acidente, escreve o The New York Times.

Pilotos de diferentes companhias aéreas estiveram envolvidos nas simulações, que tiveram como objetivo perceber como é que o 737 Max responderia com o software originalmente previsto e com a versão atualizada do mesmo. Algumas das simulações aconteceram no último sábado em Renton, onde o 737 Max é construído, e foram realizadas por pilotos da American Airlines, da United Airlines, da Southwest Airlines, da Copa Airlines e da FlyDubai.

Os pilotos, continua o jornal, testaram uma situação de crise similar à que os investigadores suspeitam ter acontecido aquando da queda do Lion Air, na Indonésia. Nos testes registou-se a falha de um único sensor que ativou o software desenvolvido para ajudar a prevenir o estol (“stall” em inglês) — termo técnico usado para descrever situação de queda ou perda de sustentação da aeronave. O sistema automatizado, conhecido como MCAS – Maneuvering Characteristics Augmentation System, está na mira das autoridades que estão a investigar o que aconteceu no desastre de outubro, com o avião da Lion Air, e o deste mês, com o da Ethiopian Airlines — ambos com o mesmo modelo do Boeing.

O MCAS, como já antes escreveu o Observador, corresponde a um sistema que é ativado de forma automática sem ordem do piloto e que aplica um estabilizador horizontal quando a aeronave entra em situação de estol. A ativação do sistema depende da informação enviada por sensores e outros sistemas tecnológicos do avião. No caso do acidente de outubro com um Boeing 737 Max 8, os sensores terão enviado a informação errada. As investigações, em ambos os casos, ainda decorrem.

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Nas simulações, que aconteceram nos últimos dias, os pilotos tiveram “apenas momentos” para desativar o sistema e evitar “um mergulho irrecuperável do nariz do Boeing 737 Max”, segundo disseram ao The New York Times (NYT) duas pessoas envolvidas nos testes. Segundo esta publicação, os pilotos que fizeram as simulações não tinham, até à data, compreendido o “quão poderoso” era o sistema em causa.

Existem procedimentos para neutralizar o MCAS. Caso o sistema comece a puxar o nariz do avião para baixo, os pilotos podem reverter o movimento ao acionar um interruptor com o polegar, capaz de prolongar a janela de 40 segundos, dando-lhes, assim, mais tempo de reação. Há ainda outros procedimentos para neutralizar totalmente o sistema, coisa que os pilotos conseguiram fazer com sucesso nas referidas simulações — ainda que com mais conhecimento de como funcionava o MCAS do que os pilotos que morreram na sequência dos dois acidentes que aconteceram no espaço de cinco meses.

A maior parte dos pilotos que voava com o anterior modelo 737 da Boeing, e que começaram a voar com o novo 737 Max 8, teve de fazer apenas um “breve curso de diferenças” para se adaptar às diferenças do novo aparelho da empresa norte-americana, de acordo com o site especializado na indústria de aviação FlightlGlobal, que fez uma longa análise publicada em janeiro e já noticiada pelo Observador.

Pilotos da Lion Air leram manual de instruções do Boeing quando avião estava a cair

Depois de descoberta a segunda caixa-negra do avião da Lion Air, que caiu no mar de Java em outubro do ano passado, as gravações de som feitas no cockpit revelaram que, segundos antes da queda, o piloto leu o livro de instruções e o copiloto rezou. Esse livro de instruções, soube o Observador, será na verdade um Manual de Ação Rápida (“Quick Reference Handbook”, em inglês), que normalmente é consultado pelos pilotos para verificar se todos os procedimentos foram seguidos e ajudar na tomada de decisão do que fazer de seguida.

Segundo o relato de três pessoas, que falaram na condição de anonimato do NYT, a Boeing deverá propor uma atualização do software que permita aos pilotos mais controlo sobre o sistema. Assim sendo, este será um “reconhecimento tácito” dos problemas do sistema.

Boeing diz que está a finalizar desenvolvimento do sistema do avião 737 MAX

Na semana passada, a Boeing garantiu, via comunicado, estar a finalizar o “desenvolvimento de uma atualização de software já anunciada e a revisão do manual de treino dos pilotos para corrigir os erros dos sensores MCAS”. A agência reguladora do transporte aéreo dos Estados Unidos da América deu ao fabricante até abril para modificar o sistema MCAS do seu avião 737 MAX, que esteve na causa da tragédia da Lion Air.

(artigo atualizado com a referência correta ao modelo 737 MAX 8)