Alfredo Cuevas, o chefe da missão do FMI para Portugal, afirma, em entrevista à Lusa, que Portugal manteve “oito anos de disciplina orçamental consistente”, sem perder de vista o objetivo final.

Foram oito anos de disciplina orçamental consistente. Temos de reconhecer que houve a responsabilidade de trabalhar num envelope orçamental, observando as restrições orçamentais, e não perdendo de vista o objetivo final”, afirmou Alfredo Cuevas, em entrevista à Lusa, à margem da conferência ‘Portugal: reforma e crescimento dentro da zona euro’, que decorreu na segunda-feira no Museu do Dinheiro, em Lisboa.

O chefe da missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) para Portugal frisou que, do lado português, o fundo sempre verificou a existência de “determinação para tomar as medidas que eram necessárias para corrigir o curso” da economia.

“A mudança da trajetória da dívida pública é um exemplo muito bom. Foi uma constante muito importante, o respeito pelo envelope orçamental”, apesar das mudanças nos governos, algo que não se verificou na Grécia, referiu o economista mexicano.

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“Na Grécia houve muitas mudanças de governos e de ministros das Finanças, por vezes tendo diferentes perspetivas entre eles o que tornou as coisas um pouco mais complicadas”, frisou.

Questionado sobre se é possível comparar Portugal e Grécia, o responsável do FMI referiu que “há alguns elementos em comum que as pessoas mantêm em mente”, nomeadamente o facto de a crise nos dois países ter começado sensivelmente ao mesmo tempo e o facto de serem ambos membros da zona euro, tendo de enfrentar, na altura da crise, a limitação do leque de medidas que podiam tomar por serem membros de uma união monetária, não podendo, nomeadamente, fazer uma desvalorização da moeda.

Já uma “diferença importante” foi a dimensão dos desequilíbrios, que “foi pior na Grécia do que em Portugal, sobretudo no caso da dívida pública”, referiu Alfredo Cuevas, acrescentando que “uma outra diferença foi que Portugal teve a capacidade de criar um consenso em torno do pacote de políticas [no âmbito do programa de ajustamento], o que deu ao país a capacidade de ver para além da execução do programa”.

Questionado sobre se Portugal foi um bom estudante e um exemplo a seguir, Alfredo Cuevas referiu que “Portugal deu um muito bom exemplo a outros países”.

“Acho que Portugal demonstrou grande determinação e, mesmo depois da crise passar, continuou responsável na forma como conduziu as suas políticas macroeconómicas”, frisou, manifestando a satisfação do FMI por ter feito parte do processo de ajustamento português.

O chefe da missão do FMI para Portugal partilhou que, quando se juntou ao fundo, o então diretor geral levava sempre no bolso da camisa uma cópia do primeiro artigo da ‘constituição’ do FMI, que diz que a missão da instituição é disponibilizar os recursos necessários a países em dificuldade e que estão a tentar fazer os ajustamentos necessários para superar essas dificuldades, disponibilizando os recursos de forma a que não tenham de realizar todos os ajustes por si, num muito curto período de tempo.

“Este é o nosso trabalho e ficamos muito felizes por ter desempenhado aquele papel, mas foi a determinação de Portugal que fez a diferença”, concluiu.

Foi a 6 de abril de 2011 que Portugal pediu assistência internacional, sendo a terceira vez que foi alvo da intervenção do FMI. A primeira vez foi em 1977 e a segunda em 1983.

Alfredo Cuevas assumiu a função de chefe da missão do FMI para Portugal em setembro de 2017, depois de Paul Thomsen, Abebe Selassie e Subir Lall.