O responsável pela investigação criminal da GNR de Loulé à data do furto de Tancos, Luís Sequeira, autorizou a colaboração com a Polícia Judiciária Militar (PJM) para a recuperação do material desconhecendo que a investigação estava na alçada da Polícia Judiciária.

Questionado pelo deputado do PSD Leonel Costa, na comissão de inquérito ao furto de Tancos, o militar da GNR, hoje chefe de secção da investigação criminal de Faro, disse não ter informação que lhe permita concluir que o aparecimento do material, na Chamusca, em outubro de 2017, foi uma encenação.

Na altura, Luís Sequeira era o chefe de secção responsável pelo núcleo de investigação criminal da GNR de Loulé, junto da qual a PJM fez chegar um pedido de colaboração no âmbito de uma operação para a recuperação do material furtado, que veio a ser investigada pela PJ e no âmbito da qual há vários arguidos.

Questionado pelo deputado social-democrata se não sabia que a investigação ao furto de Tancos estava a ser dirigida pela PJ, o tenente-coronel disse que não se recorda de lhe ter “chegado alguma informação em concreto de que o processo estaria a ser investigado especificamente pela Polícia Judiciária”.

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“Não me recordo em concreto, mas que eu tenha recebido alguma informação, não. O que pudesse haver era dos órgãos de comunicação social. Não me pareceu estranho que aquele processo estivesse com a Polícia Judiciária Militar”, disse. O tenente-coronel acrescentou que, sendo uma situação de “furto de armas numa instituição militar”, lhe pareceu legítimo o pedido de colaboração da PJM.

Sobre se os investigadores que colaboraram com a PJM iniciaram a investigação sem uma ordem direta, o tenente-coronel disse que presumiu que “tenha havido alguma troca de informação” entre investigadores das duas forças policiais, mas desvalorizou o significado de o terem feito inicialmente sem uma ordem direta da sua parte. Luís Sequeira acrescentou que disse aos investigadores do núcleo de investigação criminal [NIC] que “para se avançar mais na investigação teriam [a PJM] de fazer um pedido formal”, o que aconteceu, “por via telefónica”.

“Houve essa autorização para que o NIC apoiasse a PJM, alguma informação que colhessem que passassem para a PJM. Sendo certo que eu tinha um conhecimento apenas genérico porque eu não acompanhei no terreno a investigação”, declarou.

Segundo descreveu, o pedido de apoio ao NIC do Algarve surgiu porque “há um militar” daquele NIC que “tem um contacto com um indivíduo que [… ] tinha informação que pudesse ser relevante para a recuperação do material e eventualmente chegar aos autores do crime”.

“Há aqui coincidências também”, sublinhou, referindo que quando a PJM pediu informações sobre “um indivíduo de Albufeira” [de alcunha Fechaduras], havia militares na GNR de Loulé que, por residirem na área, tinham “conhecimento do tecido social” e chegaram “a este indivíduo” [João Paulino] que “entenderam ser alguém que esclarecesse”. O tenente-coronel adiantou que foi ouvido no âmbito de uma investigação interna da Inspeção-Geral da Administração Interna à atuação da GNR no caso e que o processo ainda não terminou.

O furto do material militar, entre granadas, explosivos e munições, dos paióis de Tancos, foi noticiado em 29 de junho de 2017. Parte do material reapareceu quatro meses depois, na Chamusca, numa operação da PJM que está a ser investigada, e vários elementos da PJM e da GNR de Loulé foram constituídos arguidos.

Este processo levou à demissão, ainda em 2018, do ministro da Defesa Nacional, José Azeredo Lopes, e do chefe do Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte. A comissão de inquérito para apurar as responsabilidades políticas no furto de material militar em Tancos, pedida pelo CDS-PP, vai decorrer até junho de 2019, depois de o parlamento prolongar os trabalhos por mais 90 dias.