O Real Madrid é muitas vezes encarado como o melhor clube do mundo. Pelos feitos no futebol e nas restantes modalidades, por um passado brilhante e associado a nomes como Di Stéfano ou Puskás, pela contribuição praticamente inigualável para o desporto espanhol e europeu. De forma semelhante, o Manchester United é normalmente apelidado de maior clube do mundo. Pelo valor enquanto marca, pelos milhões de adeptos espalhados pelo mundo, pela camisola 7 que foi de Best, Cantona, Beckham e Ronaldo. Os rótulos atribuídos a um e outro clube, de forma provavelmente inocente, dão ao slogan do Barcelona um significado ainda maior. Se o Real Madrid é o melhor clube do mundo, se o Manchester United é o maior clube do mundo, o Barça é mais do que um clube. Més que un club, em catalão, como pode ler-se numa das bancadas de Camp Nou.

Ao Barcelona, porém, faltaram sempre símbolos. O Real Madrid tem Di Stéfano, Butragueño, Raúl e, inevitavelmente, Florentino Pérez. O Manchester United tem George Best, Bobby Charlton, Eric Cantona e, claro, Alex Ferguson. O Barça teve Johan Cruyff — como jogador e treinador, o holandês foi o único que deixou um legado na Catalunha e no clube blaugrana. O último ano de Cruyff em Camp Nou foi 1996: de lá para cá, mesmo com Ronaldo, Ronaldinho, Xavi e Iniesta, só um jogador voltou a ser um símbolo. Lionel Messi, que é argentino de nacionalidade mas catalão de espírito e vivência — está em Espanha desde os 14 anos –, sucedeu a Cruyff e será nas próximas décadas o nome associado ao Barcelona. Messi é dono e senhor de uma época no Barça. Época essa que, quer se queira quer não, tende a terminar. Nem que seja pelos 31 anos do argentino.

“Més que un club”. A ideologia maior do Barcelona é bem visível em Camp Nou

Um dia, provavelmente nos próximos anos, Messi vai deixar de jogar. E, talvez por ser mais do que um clube, o Barcelona já prepara o período pós-Messi. Há duas semanas, o presidente Josep Maria Bartomeu abordou não só o fim do próprio mandato — em 2021, daqui a duas temporadas — como também o fim da carreira do avançado argentino. “Sei que algum dia Messi vai deixar de jogar. Espero que seja dentro de quatro ou cinco anos e quero preparar o clube para o futuro. O meu mandato acaba dentro de duas temporadas e quero preparar o clube e deixá-lo com muito mais seguidores, muito mais receitas e muito mais projetos, para que a equipa continue a ser competitiva”, explicou Bartomeu em declarações à BBC. O presidente do Barcelona, que chegou à liderança do clube depois de Sandro Rosell se demitir por estar a ser investigado por apropriação indevida de fundos na transferência de Neymar, ainda não desmistificou se vai recandidatar-se, se vai afastar-se do clube ou se vai permanecer ligado aos blaugrana mas não enquanto líder.

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Messi é capitão e figura maior do clube que representa desde os 14 anos. Mas quem é que lhe vai suceder?

Por enquanto, dedica-se à remodelação do centro de treinos, ao plano pós-Messi, ao rejuvenescimento de um plantel que não estava preparado para perder Xavi e Iniesta e à conquista de uma Liga dos Campeões em tempo útil. Será tudo isso e algo mais que Josep Maria Bartomeu terá para explicar na próxima segunda-feira, dia 1 de abril, na Cidade do Futebol. A convite da Federação Portuguesa de Futebol, o presidente do Barcelona será orador na conferência Executive Talks e estará responsável pelo painel “Barça — O que significam mais de 50 anos de mais do que um clube”, onde vai falar sobre a cultura, a identidade e a afirmação dos catalães.

O ciclo de conferências Executive Talks tem como objetivo antecipar tendências no que respeita ao cruzamento entre o futebol e as diferentes áreas do tecido empresarial económico nacional e internacional e completa na próxima semana a terceira edição. Na edição anterior, o tema foi “Como tornar o nosso mercado (ainda) maior?” e o nome maior do painel foi Ferran Soriano, CEO do Manchester City. Agora, é a vez do presidente do Barcelona viajar até Portugal para explicar porque é que o Barça não é nem quer ser o melhor ou o maior clube do mundo: até porque é muito mais do que isso.