A tensão entre a extrema direita e os grupos antifascistas “agravou-se significativamente” no ano passado, gerando “um clima potenciador da violência ideologicamente motivada”, indica o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) de 2018. O RASI, hoje entregue na Assembleia da República, adianta que a tensão entre extremistas de direita e grupos antifascistas aconteceu “por responsabilidade de ambas as partes”.

No capítulo dedicado às “ameaças globais à segurança”, o documento indica que os extremismos políticos não registaram “alterações significativas” em 2018 relativamente ao ano anterior, continuando a extrema-direita portuguesa “a revelar grande dinamismo na luta pela ‘reconquista’ da Europa, nomeadamente no que diz respeito ao combate à imigração ilegal, à islamização, ao multiculturalismo e ao marxismo cultural”.

Segundo o RASI, o setor identitário e neofascista destacou-se novamente em 2018 através da organização de conferências, ações de propaganda, celebrações de datas simbólicas, ações de protesto, eventos musicais e sessões de treino de artes marciais, num “perfeito alinhamento com o modo de atuação dos seus congéneres europeus, com quem manteve contactos frequentes”.

A tendência skinhead neonazi esteve “menos ativa”, mas manteve as suas atividades tradicionais, como concertos e reuniões, além de associar pontualmente às iniciativas do movimento identitário e neofascista, indica o RASI, frisando que a extrema direita registou “uma intensa difusão de propaganda em ambiente virtual, com o objetivo de criar condições favoráveis ao sucesso eleitoral de forças políticas nacionalistas ou populistas em 2019”.

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No lado oposto, o documento sublinha que os anarquistas e autónomos mantiveram “a tendência antecedente, observando-se sobretudo atividades de propaganda e de doutrinação ideológica, frequentemente com a participação de militantes ou coletivos, alguns dos quais dos meios mais radicais e violentos do anarquismo insurrecional”. A ação direta ficou praticamente limitada à realização de manifestações em prol da causa curda nos primeiros meses do ano e a ações de protesto anticapitalista relacionadas com o direito à habitação.

O RASI precisa que alguns setores anarquistas e autónomos se dedicaram também com maior intensidade à militância antifascista, juntando-se a coletivos não extremistas na referenciação e denúncia ‘online’ de militantes e organizações de extrema direita portuguesa ou “protagonizando alguns atos de vandalismo em locais simbólicos para os seus adversários”. No mesmo capítulo, o RASI indica também que o atual grau de ameaça terrorista em Portugal permanece moderado, uma vez que o país continuou em 2018 “a não ser um alvo preferencialmente para ação violenta das organizações e dos grupos terroristas”.

Os riscos associados ao eventual regresso de combatentes estrangeiros permanecem como um dos principais vetores a considerar na avaliação da ameaça terrorista. De acordo com o documento, no final de 2018, ainda permaneciam na região de conflito sírio-iraquiana alguns cidadãos com ligação a Portugal e, face aos desenvolvimentos nesta região, a questão do regresso ao país coloca-se também para os familiares.

O RASI dá conta de uma diminuição de 8,6% da criminalidade violenta e grave no ano passado, em relação a 2017, e de uma descida de 2,6% dos crimes gerais, apesar de se ter registado um aumento de 34,1% dos homicídios e de 46,4% dos crimes de extorsão. Os crimes que contribuíram para a diminuição da criminalidade violenta e grave no ano passado foram o roubo por esticão, que desceu 18,6%, o roubo na via pública sem ser por esticão, que baixou 9,4%, menos 552.