À entrada para o jogo grande da Premier League deste domingo, Liverpool e Tottenham sabiam que a margem de erro estava perto de zero. Os reds recebiam a equipa de Mauricio Pochettino com a certeza de que uma derrota em casa deixaria o Manchester City isolado na liderança, depois de ontem Bernardo Silva ter contribuído com um golo e uma assistência para a vitória dos citizens frente ao Fulham, numa altura em que faltam apenas seis jornadas para o final da temporada. Por outro lado, os spurs visitavam Anfield Road já após o Manchester United ter batido o Watford e ter igualado o Tottenham no terceiro lugar da classificação. Para a ambição de uns de serem o campeão inglês 30 anos depois e a ambição de outros de terminar no último lugar do pódio, era necessário vencer.

Jürgen Klopp não arriscava e avançava com um dos trios ofensivos mais profícuos da atualidade, com Firmino, Salah e Mané, e Henderson era o patrão do meio-campo ladeado por Wijnaldum e James Milner. Lá atrás, era Matip a formar a dupla de centrais com Van Dijk e Lovren começava o jogo no banco. Do outro lado, Pochettino (que está castigado e viu o jogo a partir da bancada) deixava Son Heung-min de fora do onze inicial e apresentava-se em Anfield com três centrais — Vertonghen, Sánchez e Anderweireld –, Danny Rose na esquerda da defesa e Trippier na direita do setor mais recuado. No meio-campo, Dele Alli, Sissoko e Eriksen formavam uma linha de três que apoiava diretamente Harry Kane e Lucas Moura, os dois homens mais adiantados.

O Liverpool, que vai encontrar o FC Porto nos oitavos da Liga dos Campeões, entrou mais forte e mais decidido e só precisou de um quarto de hora para inaugurar o marcador, através de um lance que mostrou de forma clara que quantidade não é qualidade nem eficácia. Pochettino colocou três homens no eixo da defesa para povoar a grande área e garantir que Firmino, Salah e Mané não tinham demasiada liberdade; contudo, o primeiro golo do encontro surge com um cruzamento do capitão Robertson a partir da esquerda e um cabeceamento de Roberto Firmino, que teve tempo para olhar, saltar, fazer-se à bola e não dar hipótese a Lloris ao atirar de cima para baixo, como mandam as regras. Na ida para o intervalo, o Tottenham sabia que teria de fazer muito mais para dar a volta a um jogo que o Liverpool tinha praticamente controlado.

No regresso para a segunda parte, os reds estavam compreensivelmente cautelosos: ao invés de procurarem o segundo golo, preferiram não acelerar demasiado o ritmo da partida e garantir uma importante vitória que descansaria as contas no topo da tabela. Pochettino agitou as águas ao retirar um dos três centrais, Sánchez, para lançar Son, e o impacto na equipa, ainda que indireto, foi quase imediato. Um minuto depois de o sul-coreano entrar, Eriksen — que se tornou apenas o segundo jogador na história a oferecer mais de dez golos em quatro épocas consecutivas, depois de Beckham — surgiu na grande área de Alisson a assistir Lucas Moura e o avançado brasileiro só precisou de encostar já na pequena área para empatar a partida. A 20 minutos do apito final, Lucas agarrava na bola e corria para a linha de meio-campo à procura da vitória.

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Até ao fim, Origi ameaçou com um livre direto e Sissoko falhou um golo na cara de Alisson, mas o golo da vitória estava reservado para o homem que tantas críticas tem recebido pela apatia e por andar desligado dos relvados e do que por lá se passa — ainda que só tenha sido responsável por metade do lance. Num lance de insistência, Salah surgiu ao segundo poste a cabecear para dentro à procura de um colega, a bola bateu em Alderweireld e acabou por trair Lloris, que já não conseguiu evitar o segundo golo do Liverpool.

Com um autogolo, mas num jogo onde foi sempre substancialmente superior ao Tottenham, o Liverpool conseguiu recuperar o primeiro lugar da Premier League e tem agora mais dois pontos do que o Manchester City (que, contudo, tem menos um jogo). Já os Tottenham falharam a reposição do fosso em relação ao Manchester United e estão agora em igualdade pontual com os red devils. A Premier League vai ter luta até ao fim — como há alguns anos já não acontecia.