O papa Francisco defende que “é preciso ir limpando” o Vaticano porque é um Estado que não está a salvo dos pecados e vergonhas de outras sociedades, segundo o excerto de uma entrevista publicado este domingo.

Temos os mesmos limites e caímos às vezes nas mesmas coisas […] O trabalho a fazer é ir limpando, limpando, limpando”, refere o Papa numa entrevista ao jornalista Jordi Evole, da qual um excerto foi divulgado, este domingo, pelo jornal espanhol La Vanguardia.

Na entrevista, Francisco classifica ainda como “uma injustiça” os países fecharem a porta a todos aqueles que migram por causa das guerras, da fome ou a exploração e apela para a “atitude cristã” de receber, acompanhar, promover e integrar.

O papa reprovou também a retenção em Barcelona do barco da ONG Proactiva Open Arms, conhecido pelas tarefas de auxílio a migrantes no Mediterrâneo, e pede aos católicos que rejeitam a imigração para lerem o Evangelho e serem coerentes com o mesmo.

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O papa considerou que “em geral” a causa das migrações decorrem de um sistema económico capitalista “concebido como selvagem” que provoca desigualdade e guerras:

Sustento que estamos já numa terceira guerra mundial, aos bocadinhos”.

Francisco também condenou propostas como a de erigir um muro fronteiriço com o México, como pretende o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, considerando que “o que levanta um muro acaba prisioneiro do muro que levantou”. “Isto é uma lei universal”, precisou.

Em relação à cimeira sobre os abusos recentemente celebrada pela Igreja, considerou que permitiu “iniciar processos” para “curar” os afetados e que recomenda a vítimas de abusos por parte de religiosos a denunciarem os casos à polícia.

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A entrevista com o jornalista Jordi Evole será emitida este domingo pelo canal de televisão espanhol laSexta.

“A Igreja cresce não pelo proselitismo, mas pelo testemunho”

O Papa Francisco está, por estes dias, numa visita história a Marrocos. Este domingo, disse às pequenas comunidades cristãs locais que o importante não é a dimensão da comunidade cristã, mas sim demonstrar os ensinamentos da Igreja.

“Continuem a estar perto dos que muitas vezes ficam de fora, dos pequenos e dos pobres, dos prisioneiros e dos migrantes”, aconselhou o papa, que no sábado esteve com 80 migrantes num centro humanitário da Cáritas.

De acordo com a agência francesa AFP, na catedral de Rabat, rodeada por um sistema de segurança impermeável, o papa explicou às pequenas comunidades cristãs que o importante não era ser numeroso, mas ilustrar muito concretamente os ensinamentos da Igreja.

Na conversa com a comunidade cristã, Francisco defendeu que “os caminhos da missão não passam pelo proselitismo, que leva sempre a um beco sem saída”, e apontou que “a Igreja cresce não pelo proselitismo, mas pelo testemunho”.

A insistência do papa na questão do proselitismo, ou seja, a tentativa de convencer alguém a mudar de religião, assume uma importância particular num país onde o proselitismo ativo entre os muçulmanos marroquinos pode implicar uma pena de até três anos de prisão.

Os muçulmanos têm, no entanto, o direito de se converterem a outra religião se essa for a sua própria escolha, o que mostra uma diferença significativa face a outros países, com os Emirados Árabes Unidos, onde a conversão está sujeita a pena de morte, de acordo com a AFP.