Um arguido no processo de assaltos a residências em Cascais e Lisboa negou esta quarta-feira, em tribunal, envolvimento na prática dos crimes, implicando o antigo inspetor da Polícia Judiciária Paulo Pereira Cristóvão e o líder da claque Juventude Leonina “Mustafá”.

Na quarta sessão do julgamento de 17 arguidos acusados de pertencerem a uma rede criminosa de assaltos violentos a residências na região de Lisboa, Celso Augusto negou ter participado num esquema da cobrança de alegadas dívidas, que imputou a Paulo Pereira Cristóvão. Perante o coletivo de juízas do tribunal de Cascais, o arguido, que se encontra a cumprir uma pena de prisão de sete anos e três meses, num processo de tráfico de droga, admitiu ser amigo do antigo vice-presidente do Sporting, mas alegou não ter participado nos assaltos por, entretanto, ter sido condenado.

Celso Augusto, com ocupação em “trabalhos de remodelação na construção civil” e “segurança e acompanhamento a figuras públicas na sua vida social”, chegou a ser contratado para proteção de uma loja do estádio do Sporting, mas não se relacionava com Nuno Mendes, conhecido como ‘Mustafá’ e líder da claque Juventude Leonina.

O arguido explicou que os contactos com Pereira Cristóvão se estreitaram a partir de 2012, quando o antigo vice-presidente dos “leões” manifestou interesse em encontrar investidores para negociar o passe de um jogador de Alvalade. Terá sido a partir de então que a amizade entre ambos se cimentou e que estabeleceram contacto com um negociante de postos de combustíveis que adquiriu um terreno para construção a um empresário de Cascais, por meio milhão de euros, com a promessa de valorização para um milhão, quando afinal só valeria 150 mil euros.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O arguido disse que Pereira Cristóvão terá ficado de recuperar a verba paga pelo terreno e negou ter participado no assalto, pois devido à sua ligação com a vítima até “sabia do código do cofre” do apartamento de Cascais.

O antigo segurança assegurou que Paulo Pereira Cristóvão se deslocou a sua casa para ver o contrato da transação do terreno, acompanhado de Mustafá, e que não teve mais contactos com o antigo vice-presidente do Sporting por se encontrar preso, nem tentou contactá-lo através de outra pessoa. Esta versão é recusada por Pereira Cristóvão, que na anterior sessão assumiu o papel de “pombo correio” em dois assaltos em Cascais e Lisboa e disse sentir-se “envergonhado” pela sua conduta.

O antigo inspetor disse que foi Celso quem lhe falou que pretendia fazer uma “cobrança” de uma comissão de 100.000 euros a um empresário do ramo imobiliário, relativos a 10% de um negócio de um milhão de euros.

O antigo dirigente leonino alegou que foi Celso a pedir-lhe para “falar com ‘Mustafá'” para se avançar com a cobrança, acrescentando que o líder da claque lhe disse que ‘Bábá’, o seu irmão, “tinha uns polícias que faziam isso como se fosse uma busca”.

A cobrança foi realizada por quatro dos arguidos, dois dos quais agentes da PSP, com um mandado de busca falso, enquanto Pereira Cristóvão e ‘Mustafá’ ficaram na viatura e Paulo Santos (‘Bábá’) foi falar com os arguidos que se deslocaram ao apartamento, de onde retiraram 80.000 euros. O ex-inspetor da Judiciária contou que Celso ficou com metade dos 80.000 euros e o restante ficou para os outros arguidos.

O segundo assalto, em abril de 2014, foi a uma residência em Lisboa, que pertenceria a um alegado burlão do banco BPN que estaria em dívida para com Celso e que guardaria dinheiro debaixo do soalho da habitação, mas os assaltantes ligados a ‘Mustafá’ não encontraram qualquer dinheiro.

À saída do Tribunal de Cascais, Paulo Pereira Cristóvão disse aos jornalistas que Celso Augusto visou furtar-se “à responsabilidade”, sem desmentir o que não pode ser desmentido e “somando uns pozinhos à medida daquilo que é a sua versão”. bO antigo inspetor reiterou ter entregue 40.000 euros a Celso e lamentou “a cena do coitadinho” do arguido, de quem, admitiu, foi “bastante amigo”.

Os 17 arguidos, entre eles três polícias, respondem por associação criminosa, roubo, sequestro, posse de arma proibida, abuso de poder, violação de domicílio por funcionário e falsificação de documento.

Segundo a acusação do Ministério Público, Paulo Pereira Cristóvão, dois outros arguidos e os três polícias recolhiam informações e decidiam quais as pessoas e locais a assaltar pelo grupo, nomeadamente na zona de Lisboa e na margem sul do rio Tejo. A próxima sessão do julgamento está agendada para segunda-feira, com o início da audição das testemunhas.