Um crescimento económico de 8,9%, um parlamento com 64% de mulheres, igualdade de género legislada e ensino e cuidados de saúde universais são algumas das realidades no Ruanda, um país que ainda tenta ultrapassar o genocídio de há 25 anos.

O mês de abril deste ano assinala duas décadas e meia desde o lançamento de um míssil antiaéreo contra o avião que transportava o então Presidente do Ruanda. O incidente acendeu o rastilho do que seria um dos maiores genocídios em África durante o século XX, segundo a ONU.

O fim do conflito entre as etnias tutsi e hutu, que matou cerca de 800 mil pessoas, foi alcançado pelos rebeldes da Frente Patriótica Ruandesa (FPR), que em julho desse ano, assumiu o controlo da capital ruandesa, Kigali.

Lideradas pelo atual Presidente do Ruanda, Paul Kagame, as FPR puseram fim aos confrontos que duraram 100 dias.

Em 2000, Kagame assumiu a Presidência depois de ter sido nomeado pelo parlamento ruandês, tendo vencido as eleições presidenciais de 2003, 2010 e 2017 sempre com mais de 90% dos votos.

Desde então, o Ruanda, que atualmente conta com uma população de 12,2 milhões de pessoas, mais sete milhões que após os eventos de 1994, tem trabalhado com instituições como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial para concretizar importantes reformas económicas e estruturais de uma forma sustentada.

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Nos últimos dez anos, o Ruanda implementou duas estratégias para o desenvolvimento económico e de redução de pobreza no país, de maneira a cumprir com a sua Visão 2020.

O país, com uma área equiparável a cerca de um quarto da área de Portugal, está a finalizar a Estratégia Nacional para a Transformação que será aplicada até 2024 e que, focada na Visão 2050, terá como principais objetivos a transformação económica, social e de Governo.

Até agora, diz o Banco Mundial, os investimentos públicos têm sido a principal força motriz de um crescimento que o Banco Nacional do Ruanda diz ter sido de 8,9% no seu relatório anual de 2018.

O Banco Mundial acredita que, no futuro, “o setor privado irá ter um papel mais importante em assegurar o crescimento económico”, mas assinala que as taxas de poupança doméstica, competências e o elevado custo da energia podem constituir entraves ao investimento privado.

Um dos pilares para o crescimento económico ruandês nos últimos anos tem sido o turismo. Segundo o mais recente relatório anual da Comissão de Desenvolvimento do Ruanda, referente a 2017, o setor apresentou ganhos de 438 milhões de dólares (390 milhões de euros), um aumento face aos 404 milhões de dólares (360 milhões de euros) registados em 2016.

Numa estratégia para valorizar o setor, o Ruanda assinou, em maio do ano passado, um contrato de 30 milhões de libras (35 milhões de euros) para ter o ‘slogan’ “Visit Rwanda” nas mangas dos equipamentos desportivos do clube de futebol inglês Arsenal.

A nível social, o crescimento económico foi acompanhado por aumentos substanciais dos padrões de vida, com a queda da mortalidade infantil em dois terços na última década e um acesso ao ensino primário quase universal.

Também a taxa de pobreza registou uma queda nos últimos anos, passando de 56,7% em 2006 para 39,1% em 2014.

Entretanto, a FPR continua a ser o partido mais representado no parlamento ruandês, com a sua coligação — homónima — a conquistar 41 dos 80 lugares da Câmara dos Deputados durante as eleições legislativas de setembro de 2018.

Estas eleições marcaram também um aumento da representatividade e da igualdade de género na câmara baixa do parlamento ruandês, em que as mulheres ocupam 64% dos lugares.

Vinte e cinco anos depois, o Ruanda procura distanciar-se cada vez mais dos eventos e do cenário de violência que provocou a morte de cerca de 800.000 pessoas e que provocou milhões de refugiados.