Depois de “realizar o sonho antigo” de abrir um bar com música ao vivo, o Hot Five Jazz&Blues Club, o músico portuense Alberto Índio decidiu expandir o projeto para uma nova morada. “Há seis meses nasceu essa necessidade e foi na zona da Boavista que resolvi procurar, por estar longe da confusão e do trânsito da baixa e pela proximidade dos hotéis, sendo os turistas o nosso maior público”, explica em entrevista ao Observador. Foi na Guerra Junqueiro, a rua do Porto onde cresceu e atualmente vive, que Alberto deu de caras com o antigo e desocupado Cinema Nun’Álvares. “Lembro-me de vir aqui ver os desenhos animados ao sábado de manhã com a minha avó”, recorda. Ao entrar percebeu imediatamente que “cada parede tinha uma história” e isso “era fundamental” para instalar o Hot Five Jazz&Blues Club — Uptown. “Um espaço novo com paredes brancas ou em betão não condiz minimamente com um club de de música, onde os ícones do jazz estão na parede, tem que ter sempre um cheirinho a mofo.”

Inaugurado em 1959, o cinema estava encerrado desde 2011 e o casal de senhorios já tinha recebido propostas para instalar um supermercado ou sediar uma companhia de teatro, mas foi o projeto do músico que prevaleceu e Alberto acabou por assinar um contrato para os próximos 10 anos. Alberto Índio Encontrou uma área “muito bem conservada” e, por isso, não foram necessárias obras profundas, apenas pequenas adaptações no chão desnivelado e alguma recuperação nas cadeiras originais. A tela vai manter-se para projetar concertos ou filmes sobre música e o palco em meia-lua vai transformar-se num palco para bandas.

Com capacidade para mais 200 pessoas, o dobro da casa original, o novo Hot Five vai ter dois bares, um junto à entrada, apenas com vinhos do Douro e Porto, e outro na sala principal, com as habituais bebidas espirituosas. No átrio haverá uma pequena homenagem ao cinema Nun’Álvares com fotografias dos anos 50 e a primeira máquina de projeção vai estar exposta.

No sábado, a partir das 22h, o concerto inaugural será gratuito e contará com a banda residente da casa, composta por Carlos Azevedo, na bateria, João Paulo Rosado, no contrabaixo, Ricardo Formoso, na trompete, e Miguel Santiago, na bateria. Ao quarteto juntar-se-á o músico luso-canadiano Jeffrey Davis, no vibrafone. Se as quintas-feiras serão reservadas a uma voz feminina do jazz, onde já esta programado um tributo à cantora Diana Krall, os domingos terão direito a muitas gargalhadas, graças a convidados especialistas em stand up comedy. Dia 14 sobem ao palco Francisco Menezes e Miguel Sete Escadas, seguindo-se depois outros nomes, como Fernando Rocha, Hugo Sousa ou Aldo Lima.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O club onde Abrunhosa atuou à ultima da hora

O Hot Five Jazz&Blues nasceu em 2006, na zona dos Guindais, “numa altura em que a música e o Porto eram muito diferentes”. Foi a errar que Alberto transformou a casa num dos clubes musicais mais míticos e conhecidos da cidade, procurado por gente que gosta de ouvir e tocar “boa música”. Nas sonoridades prevalecem o jazz e o blues, mas também cabem outros estilos musicais, como o soul, o folk ou o country, nomes internacionais, bandas tributo ou novos projetos. “Há uma triagem criteriosa para que quem nos visite tenha a certeza que vá encontrar boa música.”

Nos últimos anos, têm sido os turistas, que representam 70% da clientela habitual, que têm ocupado as cadeiras do Hot Five. “Eles dão calor à casa, reservam mesas com três meses de antecedência e vêm de propósito à procura de algo específico. Não querem um sítio só para beber um copo, a música está sempre associada.”

Das tantas histórias que o club guarda, Alberto Índio recorda-se do dia em que Pedro Abrunhosa lhe pediu para ensaiar no espaço durante a tarde, uma vez que tinha o estúdio ocupado. O responsável autorizou, pedindo apenas que ao final da tarde arrumassem tudo, pois uma banda tinha sido contratada para atuar nessa noite. “Ao fim do dia o Pedro ligou-me a dizer que, como arrumar o material todo daria imenso trabalho, se poderiam tocar lá nessa noite. Liguei para a banda contratada e disse-lhes que pagava o cachet para eles não virem. E assim foi. Sem qualquer publicidade, os clientes chegarem e tiveram como surpresa um concerto de duas horas e meia do Pedro Abrunhosa e dos Bandemónio.”

A compor o seu quinto álbum de originais em português, Alberto Índio espera adicionar a esta mais histórias de música, convívio e surpresa no novo Hot Five da cidade.

O Hot Five Jazz&Blues Club — Uptown funcionará de quinta-feira a domingo, entre as 21h30 e as 2h30