Um olhar mais atento para a forma como a Juventus se apresentava este sábado frente ao AC Milan deixava entender que a equipa italiana vive neste momento um período algo atípico no futebol europeu. Só replicado, por exemplo, pelo Bayern Munique de Pep Guardiola há uns anos. Numa altura em que faltam oito jornadas para o final do Campeonato e o próximo jogo, ainda que para as competições europeias, é só daqui a quatro dias — e não daqui a três, como tantas vezes acontece –, a Juventus tem a margem necessária para deixar vários dos principais jogadores sentados no banco de suplentes na receção a um dos principais rivais.

Os 18 pontos de vantagem para o Nápoles, que é segundo, deixam Massimiliano Allegri gerir, trocar, fazer descansar e preparar desde já a ida a Amesterdão, na próxima quarta-feira, para defrontar o Ajax nos quartos de final da Liga dos Campeões. Já eliminada da Taça de Itália mas com o Campeonato no bolso, resta agora à Juventus ir atrás do troféu que escapa desde 1996. E para isso é preciso eliminar o Ajax que deixou para trás o Real Madrid. Contra o AC Milan, para além de Cristiano Ronaldo — que permanece fora das opções e a tentar recuperar para o jogo da Champions –, Allegri fazia descansar Chiellini, Pjanic, Khedira, Matuidi e João Cancelo. Dybala e Mandzukic eram titulares no ataque e a Juventus blindava a baliza com uma defesa a cinco.

Do outro lado, o AC Milan vive um momento delicado. Somou duas derrotas e um empate nos últimos três jogos e Gennaro Gattuso tem constantemente a cabeça a prémio. O quarto lugar, que dá acesso à Liga dos Campeões e já esteve bem seguro, tem agora a Atalanta a dois pontos e o Torino a quatro e a Liga Europa, onde a aparente acessibilidade do grupo dava boas perspetivas, já não está no horizonte. Por tudo isto e por uma questão de orgulho — o AC Milan perdeu 11 dos 12 últimos jogos contra a Juventus para a Serie A –, Gattuso queria ganhar. E para isso contava com Piatek, o polaco que foi a sensação do Campeonato italiano ao serviço do Génova durante a primeira volta e que acabou por rumar a Milão em janeiro.

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Durante a primeira parte, graças à defesa a cinco da Juventus, o AC Milan teve dificuldades em explorar a profundidade mas esteve sempre por cima do jogo — a equipa de Allegri permaneceu muito fechada atrás, sem grande vontade de arriscar e soltar-se para o ataque, saindo só em situações de contra-ataque ou superioridade numérica. Piatek falhou o primeiro golo de forma quase escandalosa nos instantes iniciais, ao cabecear ao lado na cara de Szczęsny, mas não falhou a segunda grande ocasião que teve. Numa altura em que, à boa maneira italiana, as duas equipas já tinham encaixado e a partida se discutia maioritariamente no meio-campo, Bonucci colocou a bola a queimar nos pés de Bentancur: o uruguaio estava pressionado por Bakayoko e acabou por perder a bola para o francês emprestado pelo Chelsea ao AC Milan, que assistiu Piatek para o décimo golo do polaco ao serviço da equipa de Gattuso.

Numa segunda parte jogada muitas vezes a passo, com pouco ritmo e pouco risco — a Juventus não queria forçar muito, o AC Milan queria defender a vantagem –, a equipa de Allegri acabou por conseguir chegar à igualdade mas apenas através de uma grande penalidade. Dybala conquistou o penálti ao central Musacchio e foi o próprio avançado argentino, na ausência de Cristiano Ronaldo, a converter. Tudo empatado em Turim e entrava Moise Kean para fazer a cabeça em água aos defesas do AC Milan. A Juventus ia atrás do resultado e o encontro parecia uma versão invertida daquilo que tinha sido a primeira parte: a vecchia signora a procurar a profundidade e a equipa de Gattuso remetida ao setor mais defensivo sem sair se não por investidas mais ou menos individuais de Piatek.

E Moise Kean, que quando em janeiro marcou o golo da vitória da Juventus frente ao Bolonha em jogo da Taça de Itália motivou capas de jornais, perfis extensos e análises aprofundadas, continua a deixar em campo a prova de que não é mais um wonder kid que se torna promessa eterna. O avançado italiano saltou do banco para dar a vitória à Juventus ao aproveitar uma antecipação de Pjanic, que entretanto já estava em campo, e bater Pepe Reina. A Juve ganhou na antecâmara da ida a Amesterdão e venceu o AC Milan para a Serie A pela 12.ª vez nos últimos 13 encontros. Gattuso, por seu lado, tem a vida cada vez mais dificultada.