A União Democrata Cristã (CDU), partido da chanceler Angela Merkel, cai para menos de 30% das intenções de voto, mesmo depois da mudança de líder, cargo ocupado por Annegret Kramp-Karrenbauer (AKK) desde dezembro do ano passado.

De acordo com as últimas sondagens realizadas pela Forsa, Infratest e INSA, a CDU/CSU obtém 28%, 29% e 29,5% respectivamente, em caso de novas eleições. Nas últimas legislativas, na Alemanha, realizadas a 24 de setembro de 2017, o partido, agora liderado por AKK conseguiu 32,9%.

A recolher os votos perdidos pelos partidos do centro, que formam atualmente a grande coligação governativa, estão os Verdes que aquelas sondagens colocam entre os 17,5% e os 20%, o que garantiria o segundo lugar a este partido — um feito inédito desde a sua fundação, em 1980. A acreditar nas sondagens, os Grüne mais do que duplicam os resultados obtidos no último escrutínio, no qual conseguiram 8,9%.

Em terceiro lugar naquelas três sondagens, aparece o Partido Social Democrata (SPD, na sigla alemã), com resultados entre os 16% e os 17%. Em quarto lugar, surge a AfD, de direita populista anti-imigração, entre os 12% e os 13,5%. Em quinto lugar, os liberais do FDP, entre os 9% e os 10%. A fechar o leque dos principais partidos, em sexto lugar, está o Die Linke, de extrema-esquerda, que surge entre os 8% e os 8,5%.

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Partido de Merkel “estabilizou num nível historicamente baixo”

Para o sociólogo e politólogo alemão Oscar Gabriel, a CDU/CSU “estabilizou num nível historicamente baixo de apoio”. Em declarações à agência Lusa, o professor da Universidade de Estugarda acredita que o que acontece na Alemanha está em linha com os restantes países europeus.

“Duvido que essa tendência possa ser revertida. Nas campanhas eleitorais que agora se aproximam, a CDU e a CSU enfrentam o desafio de mobilizar não eleitores e de ir buscar apoio aos Liberais e ao [partidos de extrema-direita] Alternativa para a Alemanha (AfD). Isso só será possível dando mais peso às posições conservadoras em alguns campos políticos, como as migrações”, defende.

“Por outro lado, enfraquecer o perfil do partido liberal da era de Merkel, implicaria uma perda de apoio, provavelmente favorecendo os Verdes. Não menos importante é perceber, depois das eleições de 2021, com que partidos é que a CDU/CSU será capaz de formar um governo de coligação. Uma viragem mais à direita não seria, claramente, a melhor estratégia a adotar”, sublinha Oscar Gabriel.

Num comentário, o jornal alemão Der Tagesspiegel revela que “o percurso cada vez mais conservador de AKK parece afastar mais do que atrair”, destacando a simpatia crescente que o atual vice-chanceler e ministro das Finanças, Olaf Scholz (do Partido Social Democrata) parece recolher entre o eleitorado.

“De um ponto de vista formal, ele é o membro mais poderoso do executivo, logo depois da chanceler. Como o planeamento orçamental atual mostra, ele parece estar a usar esse poder formar para tentar dar prioridade às políticas públicas”, considera Oscar Gabriel.

Em entrevista há algumas semanas, Scholz declarou-se aspirante a ser indicado como o candidato social-democrata à Chancelaria.

“Tenho sérias dúvidas se o SPD, particularmente a forte ala esquerda do partido, o apoiará nesta aspiração”, realça o professor da Universidade de Estugarda.

Para que AKK ambicione substituir Merkel na chefia do governo alemão, precisa primeiro de “demonstrar que será também capaz de preencher com competência o papel de líder que Merkel desempenhou e tem desempenhado na política internacional”.

O politólogo e sociólogo alemão, Oscar Gabriel, acredita que Kramp-Karrenbauer está a integrar “com sucesso” os diferentes grupos “que manifestaram posições críticas em relação a Merkel e às suas políticas”.

“As exigências, inicialmente fortes, de dar uma posição de relevo ao seu principal opositor, Friedrich Merz, praticamente desapareceram. Aparentemente ela está a tentar destacar o perfil da CDU e melhorar a cooperação com a CSU”, realça Oscar Gabriel.

Além das eleições europeias, marcadas para 26 de maio, a Alemanha enfrenta várias votações nos Estados federados, entre eles o de Bremen (também a 26 de maio) ou na Turíngia (a 27 de outubro).