Cerca de uma centena de manifestantes concentraram-se este domingo no Largo Camões, em Lisboa, no dia em que o ex-Presidente brasileiro Lula da Silva faz um ano que foi preso, para exigirem a sua libertação e “verdadeira justiça”.

“A situação de Lula já não tem muita coisa para dizer. Já há um ano na prisão por uma condenação por factos indeterminados e isso é vergonhoso para a democracia brasileira e também para a democracia no mundo”, disse à agência Lusa Ivone Santos, dirigente do Partido dos Trabalhadores (PT), em Lisboa.

Os apoiantes do ex-presidente brasileiro realizaram uma campanha designada “Lula Livre” em várias cidades do Brasil e em mais de 40 cidades no mundo para mostrarem a sua indignação.

Concentrados no Largo Camões, em Lisboa, numa atmosfera colorida a vermelho, amarelo, preto e branco, com bandeiras e cartazes e o busto de Lula na base da estátua de Camões a “olhar para o Chiado”, os apoiantes de Lula gritavam: “Lisboa, Portugal, Lula Livre, Lula Livre!” e “Lula Guerreiro — Povo Brasileiro!”.

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Na ocasião, Ivone Santos afirmou que o ex-Presidente Lula da Silva “corre sérios riscos se continuar preso” e de uma forma que qualificou de “escandalosa”.

E prosseguiu: “Nós, do partido, através do Comité Internacional “Lula Livre” estamos a fazer esta campanha (…) para mostrarmos a nossa indignação pela prisão de Lula”.

“Não faz sentido e não tem cabimento [Lula] estar a passar por estas condições”, lamentou a dirigente política, lembrando que a campanha serve para “apelar à comunidade portuguesa e a entidades partidárias e não partidárias para que ajudem nesta luta e que se faça justiça, até porque, até ao momento, não encontraram provas”, além de que quem julgou o ex-Presidente Lula “tinha interesses concretos”.

Ivone Santos referia-se a Sérgio Moro, atual ministro da Justiça brasileiro, que conduziu os processos da operação “Lava Jato”.

Presente na concentração, a deputada comunista Rita Rato disse à Lusa que o PCP “esteve desde a primeira hora solidário com o processo anti-democrático que teve início com o golpe que visou a destituição da presidente Dilma Rousseff”.

Realçou ainda que o PCP esteve também solidário contra “a prisão injusta” de Lula da Silva e que continua solidário com “a luta que hoje se trava pela sua libertação, mas também em defesa dos direitos democráticos que estão [hoje] profundamente ameaçados no Brasil”.

Rita Rato explicou que a presença do PCP na concentração é de solidariedade pela libertação de Lula da Silva e igualmente pela “retoma dos valores democráticos”, pela defesa dos direitos dos trabalhadores, que estão hoje profundamente ameaçados” no Brasil com “a proposta de revisão da previdência” e de outros ataques que “estão em curso” e que terão no PCP “uma força de resistência e solidariedade”.

Anelice Mello Rose, arquiteta brasileira, de 56 anos, e que mora na Holanda, disse à Lusa que esteve na manifestação por considerar “super importante mostrar às pessoas que estão na Europa e no mundo o que está a acontecer no Brasil, essa injustiça com o Lula, e com a política que ele fez nos últimos anos”.

“Com o golpe com Dilma e com o Lula isto demonstra que estamos a viver num Estado autoritário, uma democracia autoritária”, salientou a apoiante de Lula da Silva.

Já Diogo Pedrosa, de 38 anos, cientista informático, disse que decidiu apoiar o protesto porque “Lula é um preso político que merece todo o apoio da população brasileira e do mundo, porque foi julgado de forma totalmente enviesada e injusta”.

“Eles tinham o objetivo de condená-lo e procuraram alguma justificação, alguma desculpa para que pudessem condená-lo e os juízes não fizeram justiça”, acrescentou.

O ex-presidente Lula da Silva, no dia em que se assinala um ano da sua prisão, publicou este domingo um texto de opinião na Folha de São Paulo em que diz que está “preso injustamente” e “acusado e condenado por um crime que nunca existiu”.

E prossegue: “Cada dia que passei aqui fez aumentar a minha indignação, mas mantenho a fé num julgamento justo em que a verdade vai prevalecer. Posso dormir com a consciência tranquila da minha inocência. Duvido que tenham sono leve os que me condenaram numa farsa judicial”.

Lula referiu ainda que o que mais o angustia, contudo, “é o que se passa com o Brasil e o sofrimento do povo”, e lembra que para lhe imporem “um juízo de exceção romperam os limites da lei e da Constituição, fragilizando a democracia”.

O antigo governante foi condenado a 12 anos e 11 meses de prisão num caso em que a Justiça Federal considerou-o culpado de crimes de corrupção ligados a uma quinta em Atibaia.