A peça “Pathos”, que se estreia na quarta-feira no Teatro Carlos Alberto, no Porto, tenta encontrar na antiguidade clássica “respostas para o mundo contemporâneo”, dizem os criadores José Nunes e Cátia Pinheiro.

“Começámos no futuro com o espetáculo ‘Geocide’ [2017] e a ideia era ir mesmo ao passado distante. Procurámos na antiguidade clássica, onde se trataram as primeiras questões do civismo e onde se fundou a democracia, o teatro e a filosofia, algumas das respostas para este mundo contemporâneo”, disse José Nunes, criador da Peça.

Cátia Pinheiro realçou ainda como “as grandes questões tratadas nas tragédias que nos chegaram até hoje falam de coisas que nos são muito próximas, apesar de toda a distância”, como o “não-reconhecimento do estrangeiro, o êxodo, as guerras e a forma como aceitamos o outro”.

“Pathos” encerra a tetralogia criada pela companhia Estrutura, desenvolvida entre 2017 e 2019, que propõe “um olhar para a ideia de humanidade”, e surge de uma vontade de mexer “com a cabeça das pessoas”, procurando que “estes discursos catastróficos batam [aos espetadores] nalgum ponto”, disse Cátia Pinheiro, na apresentação da obra, e acrescentou que gostava que os espetadores fossem para casa a pensar qual é o seu papel no planeta.

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Cátia Pinheiro disse, no entanto, que o “espetáculo não está construído para haver alguma redenção da humanidade”, ideia que José Nunes completou afirmando que, enquanto artistas, não têm “obrigações de dar soluções políticas”, mas “fazer um espetáculo”, embora não deixem de ter vontade de, “pelo menos, propor um certo afastamento da realidade”, para se poder olhar melhor para ela.

“Acreditamos que o espetador age no seu dia-a-dia e toma determinadas decisões. A própria decisão de vir ver um espetáculo de teatro em si já é uma decisão política, no sentido grego do termo (…). Sabemos que um espetáculo não muda a vida de uma pessoa, mas pode ficar a ressoar durante alguns dias na sua cabeça e ter algum impacto”, afirmou José Nunes.

Em “Pathos” é retratado o “sofrimento a que nós todos somos conduzidos, politicamente e em termos ambientais, por causa da ação dos homens ao longo do tempo”, e assim os criadores conseguiram abordar temas que fazem parte das suas preocupações e acham que faz “sentido colocar em diálogo com o século V a.c”.

“E se nos matássemos a todos?”, pergunta em palco o ator Tiago Jácome, afirmando de seguida que, sobre ele, não corre “nenhum sofrimento imprevisto”.

Sobre o título da peça, José Nunes explica que se refere à “análise literária das tragédias gregas da poética de Aristóteles”, onde o termo define “o sofrimento a que os homens são conduzidos, por causa das suas próprias ações.”

Em “Pathos”, Tiago Jácome, Mafalda Banquart e Margarida Carvalho caminham no palco entre um grupo de vasos dispersos sob um lençol de plástico. Cátia Pinheiro explica que optaram por utilizar plástico e plantas em palco, apesar de terem “consciência de que é um bocadinho paradoxal”, por falarem de temas como a ecologia.

“Pathos”, uma coprodução entre a Estrutura e o Teatro Nacional São João, no Porto, pode ser vista de quarta-feira a sexta-feira, às 21:00 e, sábado, às 19:00.

O preço dos bilhetes é de 10 euros.