Os líderes europeus dos 27 países da União Europeia (UE) chegaram a um acordo para a nova data de adiamento do Brexit, de acordo com o avançado por fontes diplomáticas à agência Reuters e a outros órgãos de comunicação social. A data acordada terá sido 31 de outubro de 2019, a meio termo entre o pedido por Theresa May (30 de junho de 2019) e o desejado pela maioria dos países do Conselho Europeu (março de 2020).

A decisão foi confirmada pelo presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, no Twitter. Na conferência de imprensa após a reunião, Tusk explicou melhor o que foi acordado: “O Conselho Europeu decidiu conceder uma extensão ao Reino Unido do artigo 50 até 31 de outubro, o que signifca mais seis meses”, resumiu o responsável europeu. “Se o acordo de saída for ratificado, a extensão será terminada”, acrescentou, explicando o elemento flexível do adiamento.

Sobre os meses que se seguem Tusk garantiu que os britânicos continuarão “como membros de pleno direito da UE”. Mas aproveitou para deixar “uma mensagem” ao Reino Unido: “Por favor, não desperdicem este tempo.”

Também o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, falou sobre o que foi acordado no Conselho Europeu e deixou claro que haverá eleições europeias com a participação do Reino Unido. “Parece um pouco estranho, mas regras são regras”, concedeu.

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A primeira-ministra britânica Theresa May, por seu turno, reagiu frisando a “enorme frustração” que se sente no Reino Unido por o país não ter ainda saído da UE, mas culpando o Parlamento britânico por isso, ao ter chumbado o acordo de saída três vezes. “Nos últimos três meses votei três vezes para sair da União Europeia. Se já tivesse havido deputados suficientes a votar ao meu lado em janeiro, já estaríamos fora da União Europeia”, acrescentou a líder britânica.

O objetivo agora em diante, explica, é “avançar” com as conversações com os trabalhistas para conseguir um plano que tenha apoio: “Não vou fingir que as próximas semanas serão fáceis ou que haverá uma forma simples de quebrar o impasse”, concedeu. Contudo, May disse-se esperançosa de que possa ser possível consegui-lo antes de 30 de junho, como pediu. A primeira-ministra britânica disse até que o Reino Unido “ainda pode sair antes de 22 de maio e não ir às eleições para o Parlamento Europeu”.

Divisão interna no Conselho Europeu: Macron contra os alemães

A data de 31 de outubro coincide com a véspera da tomada de posse da nova Comissão Europeia — o objetivo, como explicaram fontes da delegação francesa à Reuters, é impedir que o Reino Unido possa perturbar o funcionamento do próximo Executivo europeu.

Tenho de abandonar o meu cargo a 1 de novembro, portanto espero que a 31 de outubro não tenhamos outra reunião prolongada, porque isso significa que terei de sair à meia-noite”, comentou um bem humorado Juncker.

O consenso foi alcançado ao fim de várias horas de reunião, perante um Conselho Europeu que estava dividido: o Presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu vigorosamente um adiamento curto, mostrando-se favorável à data de 30 de junho pedida por May; outros líderes, incluindo a chanceler alemã Angela Merkel, preferiam um adiamento prolongado.

A solução foi encontrada com uma data intermédia, sendo ainda incluída uma cláusula para ter o apoio de Macron que prevê que haja um ponto da situação a 30 de junho e uma saída antecipada, caso estejam reunidas as condições para tal. “Essa data serve apenas para termos um update sobre a situação”, clarificou Donald Tusk aos jornalistas. “Não deve ser uma reunião para discutir, mas sim para informar.”

No final da reunião, Emmanuel Macron comentou o assunto em três posts no Twitter. “Cabe aos britânicos serem claros com eles próprios e com o seu povo”, escreveu o chefe de Estado francês. E congratulou-se com o resultado das negociações, sublinhando que quando a nova Comissão Europeia assumir funções “já teremos este assunto tratado” e acrescentou: “Tal como temos feito desde o início das negociações para o Brexit, preservámos a união dos 27”.

Já à entrada para a reunião, Emmanuel Macron tinha deixado claro que a sua postura negocial iria ser dura para os britânicos. “Nem tudo é preferível a uma saída sem acordo”, disse. “Andamos a negociar um acordo de saída há dois anos, já foi concedido muito tempo, agora é preciso chegar às decisões.”

A postura do Presidente francês parece ter irritado muitos dos representantes europeus, segundo declararam várias fontes aos jornalistas em Bruxelas. Dois diplomatas europeus confessaram ao Politico que os representantes alemães ficaram “profundamente irritados” com a postura de Macron, falando numa atitude que provocou “confusão”.

Questionado pelos jornalistas, Tusk sublinhou que foi conseguida uma decisão por unanimidade e deixou um recado: “Apesar de tudo, continua a ser mais fácil tomar decisões aqui do que na Câmara dos Comuns.”