Um dia depois de a EMEL ter anunciado publicamente a rescisão do contrato com a Órbita pelos “sucessivos incumprimentos contratuais”, a empresa responsável pelo fornecimento das bicicletas do sistema Gira de Lisboa emitiu esta quinta-feira um comunicado onde refere que até ao momento “ainda não recebeu qualquer comunicação formal por parte da EMEL no sentido de tal decisão”, lamentando “a ordem de prioridades” atribuída.

A EMEL, recorde-se, anunciou esta quarta-feira o ponto final nas relações com a Órbita e enumerou os sucessivos atrasos na construção de estações e no fornecimento das bicicletas da rede Gira como os motivos. De acordo com a empresa pública de mobilidade de Lisboa, estes atrasos da Órbita têm vindo “a originar queixas constantes por parte dos utilizadores da Gira” e a levar à “manifestação de alguma desconfiança na rede de bicicletas por parte de potenciais novos utilizadores”.

Atrasos levam EMEL a rescindir contrato com a empresa que fornece as bicicletas partilhadas em Lisboa

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Sobre os problemas referidos pela EMEL, “a Órbita reconhece que existem problemas na conclusão do projeto das Gira e na sua operação” e assume parte da responsabilidade. No entanto, assegura, não é a única com culpas no cartório: “Jamais aceitaremos ser o bode expiatório de um problema que tem mais responsáveis e é mais complexo do que parece“.

Nós assumimos as nossas responsabilidades, porque tivemos alguns problemas financeiros complicados e, portanto, não conseguimos fazer o desenvolvimento que deveríamos ter feito. Mas nós não fornecemos todos os produtos, não fornecemos todos os serviços. Todos nós temos que assumir a nossa quota parte de responsabilidade”, referiu o presidente da Órbita, Jorge Santiago, ao Observador.

A empresa garante que soube da rescisão “com enorme surpresa”, uma vez que a EMEL “tem em seu poder uma proposta formal de resolução da situação”. Esta proposta, acrescenta a empresa de Águeda, “garante a conclusão do projeto em curto espaço de tempo e passa pela substituição da empresa sub-contratada pela Órbita para proceder à operação logística do sistema e à reparação das bicicletas, cujo fraco desempenho foi motivo de insatisfação para todas as partes envolvidas”.

Jorge Santiago explicou ainda ao Observador que tinham sido desenvolvidas “várias conversas e várias reuniões” para resolver a situação e que a possibilidade da rescisão de contrato “estava em cima da mesa, mas não era a única”. “Nem sequer nos comunicaram que iam dizer isto publicamente. As comunicações têm de ser formais. Dois dias depois de terem feito o comunicado público ainda não recebemos nenhuma comunicação formal”, acrescentou o responsável da Órbita.

Apesar de se dizer surpreendida com a decisão, a Órbita refere ainda no comunicado que vai continuar “a agir de forma pró-ativa e de boa fé para acautelar todos os interesses envolvidos, incluindo os da EMEL e dos utilizadores do sistema”. Sobre as multas de 4,6 milhões que a EMEL abordou, Jorge Santiago explicou que se trata “de um procedimento normal”, mas que esta “é uma discussão que ainda está em cima da mesa, nada está completamente assente”.

Em outubro falaram-se de umas situações que nós não tínhamos feito e na altura eu não respondi a nada, disse a toda a gente que não era altura de falar, era altura de resolver problemas. Nós tivemos até agora a resolver problemas, a arranjar soluções. Neste momento, foram ultrapassados todos os limites. Esta é a altura de responder e de tomar posições públicas”, acrescentou Jorge Santiago ao Observador.

Ainda que tenha rescindido o contrato com a Órbita, a EMEL assegura que vai garantir “a continuidade da operação do atual sistema, acautelando a compatibilidade entre as bicicletas e as docas de ambos os concursos”. Para isso, anunciou um novo concurso para a expansão, operação e manutenção da rede Gira, com o objetivo de ver acrescentadas no sistema até 3.500 bicicletas (80% elétricas) e até 350 estações, num período máximo de oito anos.