A performer e coreógrafa Mariana Tengner Barros apresenta sexta-feira em Braga “Séance”, uma performance intimista criada a partir da cultura em torno do espiritismo no século XIX, para três a 10 pessoas de cada vez.

Inserida na programação da Bienal de Arte Contemporânea (BoCA), a peça é apresentada sexta-feira e sábado no gnration, em Braga, em vários horários ao longo da tarde, passando depois pela Casa-Museu Fernando de Castro, no Porto, de 16 a 18 de abril, e na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, de 24 a 27 de abril.

A peça reflete uma das “preocupações de há dois ou três anos” da criadora, debruçada “sobre a posição do espectador”, que esteve já patente em “Instructions for the Gods- i4gods” (2017), uma peça de cinco horas em que o público “podia circular livremente e entrar e sair quando quisesse”, mostrada no Museu do Chiado também no âmbito da BoCA, ou em “Exi(s)t(s)”, apresentado em 2018 na Tóbis Portuguesa.

“Quis fazer uma coisa em microescala, para muito poucos espetadores de cada vez, para que haja uma proximidade quase impossível de evitar. O público senta-se à mesa comigo, e cada local de apresentação tem a sua peculariedade, mas é para seguir o espírito de uma sala de estar, porque as sessões espíritas são feitas nesse seio”, explicou à Lusa.

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Ao longo de 30 minutos, a duração estimada da performance, o público partilha a mesa com a artista, mas também uns com os outros, podendo ir “em grupos de amigos ou com desconhecidos”, em que Tengner Barros vai “transmitir várias mensagens” que advêm dos seus trabalhos anteriores.

Interessada pelo conceito da artista como “mediadora de mensagens” e do trabalho “na fronteira entre o artificial e o verdadeiro”, “Séance” é “quase um ‘shot’ do trabalho desenvolvido até aqui, uma versão intensa dos temas que têm sido explorados” em peças anteriores.

Com uma dose de humor, para afastar o “medo” associado às sessões espíritas, Mariana Tengner Barros assegura que tem “respeito” pela doutrina religiosa e filosófica e que não pretende recriar uma sessão, mas antes explorar o movimento pelo seu peso na libertação do “corpo histérico, diferente do normativo”.

“Era um tempo muito mais controlado e opressivo, hoje na sociedade ocidental não é assim e tem também a ver com estas práticas. […] Vou passando por diferentes fases de histerismo, que pode em si ser muita coisa diferente, desafiando o que é um corpo em transe, e perseguido por outra força, além de questões de controlo e outras mais existencialistas, mas sempre com uma nuvem de lúdico e de brincadeira”, revela.

A estética vem da era vitoriana, mas atravessa várias eras e até explora “um pouco de retrofuturo”, e há também uma exploração do século XIX pela ligação entre as sessões de espiritismo daquele tempo e a emancipação das mulheres.

“Umas irmãs, das mais famosas na propagação do movimento, disseram às portas da morte que era tudo uma performance. […] Há aqui uma relação forte entre o feminismo e o espiritismo, e ao descobrir isso fiquei fascinada, porque tem muito a ver com os temas uqe me preocupam”, acrescentou.

Nascida em 1982, a coreógrafa formou-se em dança no Reino Unido e na Alemanha, antes de se instalar em Lisboa, de onde trabalha, tendo sido premiada com o Prémio do Público Jardin d’Europe, na Áustria, pela peça “The Trap”, em 2011.

“Après le Bain” (2011) ou “A Power Ballad” (2013), esta última num dueto com o coreógrafo Mark Tompkins, são outras peças de destaque, assim como o solo “Macha” (2015) ou ainda o espetáculo infantil “O Nome da História” (2014).

Colaborou com companhias e associações de vários países, em particular britânicas, e fundou a associação A Bela em 2013, tendo ainda trabalhado com outros criadores, como Né Barros, Tiago Cadete, John Romão, Meg Stuart ou Agnieszka Dmochowska, entre outros.