Ondina Veloso era inseparável da sua guitarra acústica e os seus grandes sucessos musicais ficaram marcados pelos acordes que levava quase sempre para cima do palco. Dina morreu esta sexta-feira, aos 62 anos, deixando mais de 40 anos de produção musical. Em meados dos anos 70 começou a compor, mas só em 1980 é que chegou aos ouvidos do grande público. “Amor de água fresca”, o êxito dos êxitos, só chegaria 12 anos depois. Para trás já tinham ficado “Guardado em mim” e “Pássaro doido”, pela frente ainda viriam “Para a voz de Portugal ser maior” e “Que é de ti”.

[Viagem pela carreira de Dina em oito canções]

“Guardado em mim”, 1980

É a estreia de Dina em frente ao grande público. E logo no Festival da Canção. Para a competição, a cantora e compositora, na altura com 23 anos, levou o tema “Guardado em mim”, uma balada da sua autoria, com um poema de Eduardo Nobre. Nessa edição do festival, a 17ª, houve três semifinais. Dina conquistou o segundo lugar numa delas, garantindo o acesso à, final, dia 7 de março de 1980, no Teatro São Luiz, em Lisboa. Nessa noite, ocupou o oitavo e penúltimo lugar. O vencedor foi José Cid com a canção “Um grande, grande amor”.

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“Pássaro doido”, 1980

No mesmo ano, Dina editou o single “Pássaro Doido”, uma sonoridade atípica para a cantora que ficou conhecida pelos compassos lentos. Com o tema, aproximou-se do rock, deixou a guitarra nos bastidores e, em atuações ao vivo, usou o movimento para entreter o público.

“Há sempre música entre nós”, 1981

Um ano depois, chega “Há sempre música entre nós”, outro single. A seguir a “Amor de água fresca”, que ainda estava por vir, é a canção mais orelhuda de Dina. A letra foi de Cristiana Kopke, a quase estrela pop dos anos 80 em Portugal.

“Em segredo” e “Gosto do teu gosto”, 1982

No ano seguinte, lança o seu primeiro álbum com o título “Dinamite”, uma brincadeira linguística, obviamente. Nesta fase da sua carreira, as colaborações com Cristiana Kopke e Ana Zanatti começaram a ser recorrentes. “Deixa lá”, “Desamparem-me a loja”, “Em segredo” e “Gosto do teu gosto” eram quatro das oito músicas que integravam o disco. Estas duas últimas — a primeira do autor e compositor Tozé Brito, a segunda da autoria de António Pinho e composta pela própria Ondina Veloso — foram levadas à edição desse ano dos Festival da Canção. Sim, Dina atuou duas vezes, com duas canções diferentes, ao lado de outros dez concorrentes, entre eles Marco Paulo, Doce, Broa de Mel e Cândida Branca Flor. O “Bem Bom” das Doce ficou em primeiro. Dina ocupou o sexto e o oitavo lugares, com “Gosto do teu gosto” e “Em segredo”, respetivamente.

“Aqui estou” e “Pérola, rosa, verde, limão, marfim”, 1983

Entretanto, ainda em 1982, grava “Aqui estou”, um dos temas principais da primeira telenovela portuguesa, Vila Faia, que estreou na RTP. A canção, tal como a novela, foi da autoria de Rosa Lobato de Faria. Um ano depois grava o single “Pérola, Rosa, Verde, Limão, Marfim”, que põe Dina a trabalhar novamente com Tozé Brito e com António Pinho. Ouvindo as duas músicas, fica clara a semelhança das sonoridades.

“Quando as nuvens chorarem”, 1988

Nesse ano, Dina colabora com Carlos Paião na gravação do tema “Quando as nuvens chorarem”, escrito pelo próprio cantor e compositor para o seu segundo e último álbum de originais, “Intervalo”.

“Acordei o vento”, 1990

Ainda na saga dos elementos meteorológicos, dois anos depois, Dina lança o álbum “Aqui e Agora”, produzido por Luís Oliveira. Rosa Lobato de Faria e João Falcato tornam-se parcerias frequentes, com canções como “Acordei o vento”, “Suco açúcar”, “Por alto mar” e “A cor da vida” a integrarem o disco.

“Amor de água fresca”, 1992

À terceira foi de vez. Em 1992, Dina regressou ao Festival da Canção e dessa vez conquistou o primeiro lugar com aquele que, até hoje, permanece como o seu maior êxito. “Amor de água fresca” é um poema de Rosa Lobato de Faria e assegurou a representação portuguesa na Eurovisão em Malmo, na Suécia. Ficou em 17º lugar.

“Para a voz de Portugal ser maior”, 1995

Dina sempre foi uma figura no mundo das artes, nunca uma figura ativa no panorama político, cenário que se alterou ligeiramente em meados dos anos 90. A convite de Manuel Monteiro, dirigente do CDS-PP na época, compôs e entoou o hino oficial do partido — “Para a voz de Portugal ser maior” –, embora as convicções políticas da sua família estivessem alinhadas à esquerda. Em 1995, a cantora interpretou o hino durante toda a campanha para as legislativas. Manuel Monteiro voltou a convidar Dina para compor. Entre 2003 e 2004, a cantora fez o hino para o partido Nova Democracia.

“Que é de ti”, 2001

O novo milénio fez Dina regressar às novelas. A cantora gravou “Que é de ti”, tema que serviu de genérico à produção da TVI “Filha do Mar”.