Em cada 100 mil portugueses 27  sofrem da mesma doença que matou Dina no Hospital Pulido Valente, em Lisboa. A fibrose pulmonar é uma condição rara, mas cujas consequências se arrastam para lá do sistema respiratório e atacam sobretudo o coração e o cérebro. Dina foi diagnosticada em 2006, quando tinha 50 anos, e sobreviveu treze anos enquanto esperava por um transplante pulmonar. A maior parte dos doentes em Portugal, no entanto, só sobrevive até três anos e meio para lá da data de diagnóstico, revela o mais recente relatório do Observatório Nacional das Doenças Respiratórias. E esse é dos melhores cenários entre os países da União Europeia.

Morreu a cantora e compositora Dina

Para entender a fibrose pulmonar, há que compreender primeiro como funcionam os pulmões. De acordo com a Fundação Portuguesa do Pulmão, este órgão funciona como uma esponja que insufla quando inspiramos e encolhe quando expiramos. Ele é o responsável por captar o oxigénio que respiramos da atmosfera, que fica guardado em pequenos sacos chamados alvéolos, de a transferir para a corrente sanguínea e de eliminar o dióxido de carbono em circulação no sangue.

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Ora, em algumas pessoas, quando os pulmões desenvolvem algum tipo de ferimento, o processo de cicatrização não acontece de forma normal e algumas partes do pulmão ficam mais espessas e rígidas. Quando isso acontece, os alvéolos que guardam o ar ficam destruídos e são substituídos por fibrose, isto é, por um tecido que condena a elasticidade dos pulmões e os impede de transportar o oxigénio para o resto do corpo. E isso levanta dois problemas. Por um lado, torna-se cada vez mais difícil respirar já que os pulmões vão endurecendo. E por outro, o oxigénio não chega aos outros órgãos e deixam de funcionar.

Na maioria dos casos de fibrose pulmonar, uma doença que não tem cura, é impossível determinar o que a causou, alerta Graça Freitas, a número dois da Direção-Geral de Saúde, na página da Fundação Portuguesa do Pulmão. Esses casos recebem um nome especial: fibrose pulmonar idiopática, que normalmente é o quadro mais grave.

No entanto, sabe-se que quem fuma, está em contacto constante com poeiras, vive em cidades mais poluídas e convive com aves tem maior probabilidade de desenvolver esta doença. Além disso, a radioterapia e alguns medicamentos podem potenciar a fibrose pulmonar. Algumas doenças também podem estar na sua origem como as autoimunes — como a artrite reumatoide ou lúpus –, as infeções por vírus ou bactérias e o refluxo gastroesofágico. Também se desconfia que a fibrose pulmonar pode ser herdada geneticamente.

Se detetar a origem da fibrose pulmonar pode ser difícil, encontrá-la não é mais fácil. Numa fase inicial, esta doença não apresenta quaisquer sintomas. Só mais tarde é que costumam surgir episódios de falta de ar, que normalmente surgem durante a atividade física mas que depois podem aparecer em tarefas menos exigentes, como tomar banho ou falar. Com a falta de ar pode vir a tosse, a diminuição do apetite e a perda de peso repentina. Em algumas pessoas, até os dedos ficam deformados por causa da falta de oxigenação.

Quem sofre de fibrose pulmonar tem de tomar medicamentos imunossupressores — como os corticóides, por exemplo –, antioxidantes, remédios que evitem as infeções e outros que ajudem na respiração. As pessoas mais jovens, que normalmente têm melhores perspetivas de sobrevivência, podem até entrar na lista de espera para serem submetidas a um transplante e receberem pulmões saudáveis. Dina esperava dar esse passo desde o início do ano. Mas sucumbiu à doença quatro meses depois de entrar para a lista de espera.

Dina. A carreira, as conquistas, as desilusões e as histórias de vida