A Comissão de Valores Mobiliários norte-americana (Securities and Exchange Commission, SEC) faz tremer a maioria das empresas e empresários, mas não Elon Musk. Em 2018, o CEO da Tesla fez um tweet em que afirmava pretender retirar a Tesla da bolsa, dizendo que já tinha reunido capital para efectuar a operação. Isto fez disparar os alarmes da SEC e terminou com uma multa de 20 milhões de dólares, para a empresa e para o CEO.
Depois de transferir os 20 milhões, Musk começou a ridicularizar a SEC, definindo-a como “Shortseller Enrichement Commission” e acusando-a de favorecer os investidores de vendas a curto prazo, que continuam a pressionar os títulos da Tesla. Isto entre outras considerações menos agradáveis para o organismo que obrigou os seus tweets a ficarem sob a supervisão do Conselho de Administração (CA).
Tesla made 0 cars in 2011, but will make around 500k in 2019
— Elon Musk (@elonmusk) February 20, 2019
A relação entre SEC e Elon Musk voltou a azedar quando este escreveu noutro tweet, em Fevereiro, que a Tesla estava a apontar para uma produção de 500.000 unidades/ano em 2019, para especificar horas depois que se referia a um ritmo de produção de 10.000 modelos/semana, a atingir até final de 2019, o que equivaleria a cerca de 500.000 unidades por ano, permitindo ultrapassar a produção anual total de 400.000 veículos, o melhor valor de sempre.
Esta informação não era segredo para ninguém, uma vez que constava da informação aos accionistas, divulgada publicamente durante o anúncio dos resultados de 2018 e previsões para 2019. Ainda assim, a SEC decidiu apurar se aquele tweet, em particular, foi alvo da devida supervisão, ou seja, se foi aprovado pelo CA antes de ser enviado. Como não foi, a SEC recorreu ao tribunal solicitando uma pena pesada e a inibição de Elon Musk continuar num cargo de chefia em qualquer empresa cotada em bolsa.
Meant to say annualized production rate at end of 2019 probably around 500k, ie 10k cars/week. Deliveries for year still estimated to be about 400k.
— Elon Musk (@elonmusk) February 20, 2019
Depois de ouvir os argumentos de ambas as partes, a juíza Alison Nathan decidiu que SEC e Musk se deveriam comportar razoavelmente e resolver o conflito entre eles. O que em termos práticos significou uma bofetada de luva branca ao SEC que, sem o aval do tribunal, não pode tocar em Musk. Nem criticá-lo, pois não conseguiu provar o comportamento repreensível por parte do CEO da Tesla. Para mais, porque este tinha o apoio do seu CA, já para não falar que o anúncio do recurso ao tribunal, por parte da SEC, lesou mais as acções da Tesla do que todos os tweets juntos de Musk.
A juíza deu duas semanas para SEC e Musk chegarem a um entendimento, antes de regressarem à sua presença com uma solução. Mas não só não é evidente que Musk aceite deixar de exercer o seu direito de tweettar o que muito bem entenda – ao abrigo da liberdade de expressão, defendida pela constituição americana -, desde que não interfira com a valorização das acções da Tesla, como parece pouco provável que os responsáveis da SEC coloquem de lado a sua ira em relação ao CEO, que publicamente já assumiu que não tem “nenhum respeito pelo SEC”.