Cinquenta e dois operacionais dos Bombeiros Voluntários de Lourosa apresentaram este sábado ao comando dessa corporação de Santa Maria da Feira o seu pedido de inatividade, em protesto contra a direção da respetiva associação humanitária.

O pedido de suspensão do serviço já foi aprovado pelo comando interino da corporação e tem efeitos práticos a partir das 00:00 da próxima segunda-feira.

A partir dessa altura, o quartel contará apenas com 16 bombeiros profissionais e quatro funcionários não-operacionais para atender às ocorrências de um território com um mínimo de 11 freguesias.

Em declarações à Lusa, o porta-voz do grupo de bombeiros que requereu inatividade atribui essa medida à “demora” nos procedimentos para afastamento da atual direção, com a qual o corpo operacional se incompatibilizou formalmente a 18 de março.

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“Já todos manifestámos a nossa posição várias vezes ao longo das últimas semanas, avisámos logo que estávamos dispostos a pedir a inatividade se as coisas não se alterassem e, até hoje, nem a direção renunciou por si própria nem a mesa da assembleia-geral marcou a reunião de sócios que solicitámos, para as pessoas poderem votar o afastamento da associação humanitária”, explica Amaro Fontes.

A interpretação dos 52 bombeiros que suspenderam funções é, segundo o seu porta-voz, que “o presidente da mesa da assembleia não está a perceber a gravidade da situação ou então quer intencionalmente arrastar o assunto para ver se desmotiva o grupo – o que não vai acontecer, porque o corpo ativo já deixou bem claro que não está disposto a trabalhar mais com a atual direção”.

Após a renúncia do comando efetivo da corporação, a 18 de março, na sequência da não-recondução de dois adjuntos por parte da associação humanitária e antes da divulgação de várias críticas sobre a “má gestão e conduta indevida” da direção, a chefia operacional do quartel foi entregue ao comandante interino Fernando Oliveira, que este sábado deferiu os 52 pedidos de licença de inatividade.

Dado que a 15 de maio tem início a época de incêndios florestais, o atual chefe das operações diz que “a situação não se pode arrastar mais” e quer repor a “estabilidade” na corporação.

“Agora ficamos só com 16 bombeiros e quatro assalariados, que é o serviço mínimo. Se houver mais do que uma ocorrência de cada vez, temos de distribuir os operacionais como pudermos e dependeremos dos nossos colegas de outras corporações da região”, disse Fernando Oliveira.

O comandante nota ainda que, estando a maioria do corpo operacional inativo e “dada a instabilidade atual na corporação”, a corporação “não aceitou integrar o Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais, para o qual já foi requisitada” pelo Comando Distrital de Operações de Socorro de Aveiro.

Contactado pela Lusa, o presidente da mesa da assembleia-geral dos Bombeiros de Lourosa – que recebeu, desde meados de março, vários documentos exigindo uma sessão extraordinária para debater a situação atual, inclusive uma petição assinada por 57 bombeiros – informa que “na próxima quinta-feira, impreterivelmente, vai ser marcada a data da próxima reunião de sócios, seja ela de que tipo for”.

Sem comentar a presente redução de operacionais no ativo, Olímpio Sousa diz que “todos os cenários estão em aberto até à próxima assembleia” no que se refere à direção.

“Se for para haver renúncia ou destituição por voto, a mesa entrou como parte da equipa da direção e como parte da equipa sairá também”, acrescenta.

A inatividade dos 52 operacionais dos Bombeiros Voluntários de Lourosa já foi comunicada à direção da Autoridade Nacional da Proteção Civil, à Liga de Bombeiros Portugueses e à Câmara Municipal da Feira, entre outras entidades com responsabilidade na área do socorro à população.