Nos últimos anos, a Fórmula 1 tem sido constantemente criticada pela falta de competitividade. Não só entre os pilotos, já que a hegemonia de Lewis Hamilton só foi travada nas temporadas mais recentes por Nico Rosberg, como entre as equipas, tendo em conta que a Mercedes tem sido inegavelmente superior aos restantes fabricantes. Além disso, a ausência de contacto físico, como no futebol, no andebol ou no basquetebol, leva a pensar que se vive nas garagens uma espécie de competição saudável, sem grandes quid pro quo ou conflitos.

A verdade é que não é bem assim. Na F1, o contacto físico dá lugar ao contacto entre os carros, os insultos verbais a mensagens agressivas via rádio e a insatisfação dos jogadores quando são substituídos à frustração dos pilotos quando têm de abandonar uma corrida devido a problemas no veículo. Na atual grelha da F1, tudo se tornou mais intenso desde que chegou Max Verstappen. O jovem piloto holandês, tido como uma das grandes promessas da modalidade, não se prende por meias palavras ou pela juventude. Diz o que pensa, sem grande receio das consequências, e é por isso mesmo que é já o piloto que mais ódios e amores desperta entre as boxes.

Na qualificação para o Grande Prémio da China, que assinala a milésima corrida da história da Fórmula 1, Verstappen voltou a protagonizar um desses momentos que destroem a ideia pouco real de que não existe competição na modalidade. No final da terceira ronda de qualificação, o tempo estava a terminar e Verstappen foi um dos pilotos que ficaram presos num pelotão lento que procurava dar início à última volta cronometrada. Ora, de acordo com Verstappen, existe uma espécie de “acordo de cavalheiros” entre os pilotos que dita que não podem existir ultrapassagens quando esta situação ocorre, ou seja, os carros vão formando quase um “comboio”, uns atrás dos outros, respeitando a ordem de chegada. O que aconteceu na China foi que um grupo de pilotos, com Sebastian Vettel à cabeça, decidiu colocar-se no início deste “comboio”, acabando por desrespeitar a ordem formada — e deixando muitos carros, incluindo Verstappen, sem tempo para acelerar quando chegou o momento da última volta cronometrada.

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“Sinceramente, são uns frouxos. Todos a alinhar-se e eles simplesmente a f… tudo. Tentamos ser porreiros, mas estão simplesmente a f… isto”, disse o holandês da Red Bull em comunicação à equipa via rádio. Sem se coibir nos palavrões, Max Verstappen deixou perceber que a competitividade está bem viva entre as garagens de Fórmula 1. Ainda assim, o piloto teve de se contentar com a quinta posição na grelha de partida, atrás dos Mercedes e dos Ferrari e à frente do colega de equipa, Pierre Gasly. Valtteri Bottas conquistou a pole position, Lewis Hamilton foi o segundo mais rápido e Vettel fechou o pódio do grid, com Leclerc a segui-lo de perto em quarto lugar.

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No arranque, Hamilton passou Bottas e assumiu a liderança. Leclerc foi mais forte do que Vettel e agarrou o último lugar do pódio. Mais à frente, porém, e numa decisão que vai fazer correr muita tinta, a Ferrari pediu ao jovem piloto que deixasse passar Vettel por este estar aparentemente mais rápido. Leclerc acedeu ao pedido, deixou Vettel regressar ao terceiro lugar atrás dos Mercedes e foi depois vítima de uma má estratégia de paragens da Ferrari, que permitiu a ultrapassagem de Verstappen e a queda para a quinta posição. Depois de ver a mecânica roubar-lhe a vitória no Bahrain, Leclerc foi agora traído pela prioridade dada a Vettel e por uma estratégia errada de paragens.

Lewis Hamilton entra (mais uma vez) na história ao vencer o GP 1.000 da Fórmula 1 e soma a segunda vitória da temporada e a 75.ª da carreira, enquanto que a Mercedes conquistou a terceira vitória e a terceira dobradinha em três corridas, já que Bottas ficou no segundo lugar. Vettel fechou o pódio e a Ferrari continua sem vencer em 2019.