Um primeiro-ministro “errático”, “centenodependente” e a fazer erros de palmatória, como valorizar umas eleições europeias que os governos habitualmente costumam “perder”. E as sondagens mostram o PSD a sete pontos percentuais, quando já esteve a 21. A análise de Marques Mendes é clara: “Objetivamente, o PS neste momento está em dificuldades”.

No seu espaço habitual na SIC, o comentador político considerou a entrevista dada por Mário Centeno ao Financial Times um “um disparate político e um bónus para a oposição”, já que o ministro das Finanças veio dizer que o governo fez “uma mudança [nas políticas económicas e sociais], mas não foi assim tão grande, foi pequenina”.

“Ele falou verdade, mas é contra o discurso oficial que diz que acabou a austeridade”, disse Marques Mendes. “Num debate, quando António Costa disser ‘o meu governo virou a página da austeridade’, Rui Rio ou Assunção Cristas vão dizer ‘o quê? Nem pense nisso, o seu ministro das Finanças disse outra coisa ao Financial Times”, que a mudança de política face à austeridade “não foi dramática”.

Para Marques Mendes, com esta posição Centeno visa  mostrar-se “lá fora como uma pessoa moderada, responsável e um pouco diferente dos outros”. “Já o disse antes, Mário Centeno corre numa pista própria, tem uma agenda. E com isso umas vezes ajuda António Costa e outras vezes nem tanto”.

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Por outro lado, Marques Mendes considerou “muito interessante e curiosa” a notícia do Expresso deste fim-de-semana (na qual se pode ler que o primeiro-ministro quer contar com Centeno no próximo governo. “A notícia revela a Centenodependência. O primeiro-ministro precisa muito do ministro das Finanças, não é Centeno que precisa de António Costa. Mostra o poder enorme do ministro das Finanças [no Governo] e a fragilidade de António Costa”, disse o comentador.

Para Marques Mendes, Centeno não precisa de manter-se no Governo porque, se quiser, “pode ser o próximo vice-presidente da Comissão Europeia”. Mas até pode capitalizar o prestígio internamente. “Não acredito muito nesse cenário [de Centeno voltar ao Banco de Portugal]. Até pode voltar ao BdP e ser mesmo governador (daqui a um ano há uma escolha a fazer para esse cargo). Mas até pode daqui a sete anos ser candidato a Presidente da Republica. Pode-lhe passar isso pela cabeça também, porque é uma pessoa com prestigio e credibilidade”

Aos problemas na forma como lida com Centeno, juntam-se outros erros à performance de António Costa, diz Marques Mendes. “O que se passa com António Costa? Onde está a sua habilidade política? O PS já teve 21 pontos de diferença para o PSD. Agora tem apenas 7. Porquê tantos erros?”.

E diz quais foram os principais: geriu mal os incêndios de 2017, geriu mal o dossier de Tancos, está a gerir mal a questão das relações familiares no Governo, o familygate, escolheu um cabeça de lista às Europeias que deixa muito a desejar e valorizou as Europeias, que são as eleições mais difíceis para os Governos. Nesse aspeto sublinha que “as eleições europeias são sempre difíceis para os Governos”. “A prova disso é que, nos últimos 25 anos, o partido que estava no poder perdeu quase sempre as eleições europeias. Só houve uma exceção em 1999, quando o PS ganhou, com Mário Soares à frente da lista”.

Ou seja, diz Marques Mendes, o primeiro-ministro tem um comportamento errático. É capaz do melhor e do pior, do 8 e do 80. “É capaz de destronar António José Seguro e a seguir perder as eleições com o Passos Coelho. É capaz de fazer a geringonça e depois deitar a perder uma maioria que estava ao seu alcance.

“A verdade é que há neste momento um conjunto de irritantes que pode suscitar o protesto dos eleitores contra o Governo” e isso pode refletir-se nas europeias, habitualmente uma votação de protesto.